13.12.08

2009

Quando o último segundo deste ano encostar no primeiro segundo do ano que vem, desejo que um sentimento de gratidão inunde nossa alma.

Que nossos abraços representem não só nossa união com os outros, mas principalmente com nós mesmos.

Que a ondinha que molhar nossos pés ou nossos pensamentos venha espumando de esperança e que a gente dedique um de nossos pedidos ao mar, a natureza, ao planeta. O nosso mundo que ainda podemos salvar.

Nas mil vezes em que nossos copos se encostarem, que brindemos ao que passou, ao que virá, mas acima de tudo, ao que já é. Ao que já somos.

Que nossa disposição pessoal seja humana: substituir a pressão - que é o excesso de pressa - pela aceitação

Que nossas propostas individuais caibam no coletivo e que a compaixão e o respeito façam parte das nossas escolhas.

Que nossos sorrisos e todos os sorrisos que estarão brilhando a nossa volta, reflitam para além de imagem, essência.

Seja champagne ou chapinha, que a gente não beba para esquecer e sim para lembrar, o quanto a vida é bela e que o tempo não para de passar.

Que no dia seguinte, apesar da ressaca, a gente sinta na alma uma plenitude nova. Uma esperança cheia. Uma vontade incrível de viver.

Que no próximo ano a gente ouse mais ser quem, na verdade, a gente é. E siga os caminhos que têm coração.

Que 2009 seja um ano de mais ser e menos querer.

E quando 2009 chegar em 2010, que a gente tenha a certeza de ter percorrido 60 segundos de caminho em cada 1 minuto das 24 horas de todos os 365 dias que terão ficado para trás.

Luz na alma, paz no espírito e fé na vida sempre!!!

Que gente se cuide e, como de costume, se jogueeeeeeeeeeeeeeeeee

Sat Nam ;)

"A aproximação do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar" (Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.)

10.12.08

Da Série: tem coisas, que só Londres faz por você

Mal saí de casa, dando bom dia pro dia chuvoso e já fui obrigada a ouvir um "fiu, fiu" de um Árabe. Só mesmo um Árabe pra enchergar motivo de "fiu, fiu" debaixo de tanta roupa. Vai ver, eles desenvolveram visão de Raio-X pra enchergar além das burcas.

Entro no metro e duas chinesinhas estão conversando. Elas e seus risinhos. Elas e seu mandarim compulsivo. Elas e seu Chinês barulhento. Caraca, como é que isto pode ser a língua materna de alguém? A China deve parecer uma gaita desafinada!

Saio do metro perturbada e resolvo ir de busão. Escolha errada. Mulecada indo pra escola, elas de sainha xadrez e penteados volumosos, eles e seu estilinho "sou do gueto, mas tenho que usar este uniforme com gravata". Bixo, eles fazem barulho. Tenho zero paciência com adoslescente. Em qualquer idioma.

Ok, vou apé. Se ao menos conseguisse andar na rua. Experimente cruzar a Oxford Street em horário de pico, talvez se você possuir o cajado de Moisés esses Hare Chrishinas calem seus chocalhos estridentes.

Aiiiiiiiiiii, que susto. Pode parar esta ambulância e manda-lá me levar pro hospital mais próximo com suspeita de explosão do tímpano. Precisa ser tão alta esta sirene? Deve ser pra sobressair aos decibéis de todas as línguas do mundo.

Ufa, cheguei no estágio. Silêncio. O tlec-tlec dos teclados é um mantra pros meus ouvidos. Ou seria, não fosse o fato de que o chefe chegou animado e resolveu ouvir Música Popular Índiana no último volume.

Que ótimo, se a Portuguesa resolver colocar um fado e a Nigeriana tiver vontade de cantar um rap do seu país eu juro que vou chamar a London School of Samba e aí, vamos ver quem fala mais alto.

Pra dias de TPM Londres deveria ter versão close caption.

Sat Nam ;)

9.12.08

Choque Multicultural

Walaa tem 23 anos, nasceu em Xipre. Loreta tem 21, nasceu em Londres.

O que elas tem em comum além de fazerem estágio no mesmo lugar que eu? Nenhuma das duas cogita a hipótese de sexo antes do casamento.

Isso tudo em Londres, 2009 depois de Cristo.

Walaa é muculmana. Seus pais são "bastante liberais". Não se importam com as roupas que ela veste, nem a obrigam a cobrir a cabeça. Porém, se souberem que ela bebe...

Loreta é Testemunho de Jeová.

E acha "super complicado ser virgem hoje em dia"

Ao que Walaa completa: "é mesmo, eu ja 'perdi' um monte de gatinho por causa disso. Quando surge o assunto 'sexo' e eu digo que sou muçulmana, quase sempre nunca mais ouco falar deles. (rs) Mas quer saber? Isso me livra de muita confusão. Se o cara só quer isso, então que vá embora"

Mas vocês namoram, né?

"Eu ja namorei várias vezes" - É Walaa quem fala. "Eu nunca namorei sério" - Agora é Loreta.

E vem cá, vocês podem paquerar? Sair sem compromisso? Sair com pessoas de outras religiões?

Loreta: "eu posso. Mas nunca conto que sou Testemunho de Jeová, senão o garoto já some!" rs

Walaa: "eu também posso e faço questão de contar. Se gostar de mim isso não é o mais importante. Já saí com meninos de várias religiões. Já até namorei um que não era "muslim". Mas casar tem que ser com muçulmano"

E como é que você faria se quisesse casar com este seu ex-namorado?

"Ele ia ter que se converter"

Ao que Loreta questiona:

"Mas como é que uma pessoa se converte a uma religião simplesmente por conta da outra?"

"O namorado da minha amiga acabou de se converter. Ele não liga pra religião, não acredita em nada, então pra ele não faz diferença, ele fez por que é importante pra ela. Mas o namorado da minha prima se converteu, estudou o Islamismo e hoje em dia é praticante de verdade."

Loreta: "Pra nós, Testemunhos, não tem essa de ser 'de verdade'. Ou é, ou não é. Pra ser um Testemunho de Jeová você tem que ir a igreja pelo menos uma vez por semana, abdicar do sexo fora do casamento..."

Walaa:" É, pra ser muçulmano também tem uma série de coisas que você tem que cumprir, e embora eu me sinta mal com isso, não consigo fazer tudo o que a religião manda. Mas sexo nunca fiz!"

Nessa hora Mildred - filha de Quenianos, nascida e criada em Londres, negra, corpão, unha compridassa, cabelo lisérrimo - entra dando uma voadora:

"O queeeeeeee? Como assim? Você nunca transou?"

Walaa, super de boa, responde: "Não!"

"Nem eu!" - imenda Loreta.

"Mas porque não???? Vocês não tem vontade???"

Loreta: "Hummm, mais ou menos, acho que como eu nunca fiz e não sei como é, não me faz falta"

Walaa: "Eu tenho vontade. Mas quero me guardar pro meu marido"

Loreta:"Eu também vou me guardar pro meu marido. Pra mim o sexo é a transformação de dois em um, é uma coisa sagrada. Não isso aí que todo mundo faz"

Mildred: "Olha meninas, eu sinceramente não acho que Deus tenha tempo pra se preocupar com a vida sexual de cada um. Aliás, ele podia até se preocupar um pouquinho mais com a minha..." (Ri sozinha) 

"Agora, eu gostaria de avisar vocês que a maioria dos homens que se encontra por aí - e olha que eu conheço de tudo, incluisive Testemunhos de Jeova e muçulmanos - não tem a menor capacidade de proporcionar um sexo sagrado.

"Portanto, acho um perigo esta história de não experimentar a mercadoria antes. Depois o produto vem com defeito e onde é que eu vou encontrar Deus pra trocar?"

Todo mundo cai na Gargalhada. A Brasileira curiosa, a Muçulmana que bebe, a Testemunho de Jeova que nunca namorou e a Queniana super sexy. Até mesmo Débora, a Indiana que senta do outro lado da sala e só abre a boca pra mastigar, esboça um sorrisinho.

Culturas e religiões sempre se chocam.

Sat Nam ;)

8.12.08

Quero

Quero desvestir minha ansiedade. Será possível trocar um quilo de angústia por um pote de paciência? Se der, pede também um vidrinho de fé. Quero estrangular meu medo. Fazê-lo em pedacinhos e mandar pela descarga. Quero um litro de creme de leite fresco pra comer com morangos silvestres enquanto assisto a derrocada da minha falta de confiança. E pode mandar também um champagne, que eu vou comemorar horrores. Quero abrir a janela ao invés da geladeira e descobrir alguma flor que ninguém nunca viu. Todo dia de manhã eu ouço passarinhos. Dois que passam juntos, outro que passa sozinho. Num frio de congelar sereno, com aquelas peninhas finas, fico imanginando se eles cantam ou se gritam por socorro. Quero um casaco sem penas, sem peles, de pêlos sintéticos. Quero um trabalho pra pagar minhas contas, conhecer cada gaveta do mundo e tirar retrato-palavrado de tudo. Uma letra depois da outra e vai mudando o mundo. De repente. Quero viver soletrando, conferindo algum sentido. Sendo em versos. Propositando sem medidas uma - ou várias - idéia repetida. Quero um relógio que marque um tempo só meu. Que me avise a hora certa de ivestir ou deletar. Quero criatividade no meu 'control-vêsar'. Copy-paste, as vezes, é catalizador demais. Quero um tempo mais demorado. Só de sábado. E de férias. Quero tintas glow-in-the-dark pra eu não sentir solidão no escuro. Abraço também serve. Quero telefone barato. Guarda roupa que se recicla conforme o stilo muda. Quero estilo que mude sem mudar essência. Tatuar atenticidade na testa talvez me ajuda a não esquecê-la. Duas malas de trinta e dois quilos abarrotadas de kit kat. Vou comer todos de uma vez. Quero tim-tim agora e um monte de jajá.

Meu propósito eu mudo, mas meu sentido é escrito.

Sat Nam ;)
"Eu preciso acreditar na comunicação, não há melhor remédio para a solidão. É por isso que eu não fico satisfeito se o que eu sinto fica só dentro do peito"

Gabriel, O Pensador

Sat Nam ;)

5.12.08

Sem sol

Caroline Pivetta da Motta, gaúcha de 23 anos, está presa há 40 dias por ter pichado as paredes do Prédio da Bienal, em Sampa.

Aparentemente esta foi só a gota d'agua no extenso currículo da menina que tem a pichacão como "meta de vida". Perfeitamente justo e aceitável privar do convívio com a sociedade alguém que pretende assumidamente fazer do vandalismo sua profissão.

Não fosse pelo contexto.

A menina, bastante encrencada pelo seu envolvimento na deploracão de obras públicas, disse que pichar a Bienal foi um ato de protesto em favor daqueles que não tem acesso "a tudo isso aqui".

Além do mais, atesta, "me identifico com o vazio".

Não é de se admirar.

Caroline foi criada pela mãe. Aos 15 anos, após uma tentativa de suicídio mal sucedida, abandonou a escola. Foi parar em São Paulo. Trabalhou como telemarketing. Hoje não tem trabalho nem residência fixa. Consequentemente, perde o direito de responder ao processo em liberdade.

Qualquer semelhanca com grande parte da populacao brasileira de baixa renda nesta faixa etária, é muito mais do que triste coincidência.

"Tanto grafite, quanto picho são underground, coisa do fundão. Não são feitos para exposição em galeria. A parada que eu faço é na rua, é para o povo olhar e não gostar. Uma agressão visual".

O que estamos fazendo com os nossos jovens que tentam? Marginalizando-os da sociedade. Impedindo-os de se expressar. Desvalorizando sua idéias. Emudencendo suas vozes. Trancafiando-os em selas junto a traficantes, ladrões, assassinos. Transformando-os nisto aí. Fomentando suas revoltas.

Destinando-os ao tormento eterno de seus vazios.

Caroline é uma pessoa cheia de ideologias. Um ser pensante. Uma criatura que sente e, por uma questão de alma, tem necessidade de se expressar.

Eu e ela temos uma simples diferenca: ela é do gueto, eu sou do 'point'. O que nos separa é o ambiente, a condicão sócio-econômica e, a esta altura, a imensa diferenca de oportunidades. Tudo isso que os Budistas chamam de Carma.

Se alguém oferesse um pouco de Platão e quicá de Prozac a essa menina. Se alguém compreendesse a necessidade que ela tem de deixar sua marca. Se alguém valorisasse sua ânsia entrelinhada de batalhar por um futuro melhor.

Se alguém enchergasse a menina sensível por tras da pichadora agressiva. Lhe aprensentasse Fernando Pessoa. Nietchze. Khalil Gibran. Se alguém ouvisse seu grito exausto por um socorro que nunca vem.

Se alguém olhasse para além de toda marginalidade impregnada em sua aura e enchergasse a artista. A genialidade em sua essência. A coragem. A ousadia.

Eu tenho uma sugestão. Coloquem-lhe um balde de tinta branca na mão e depois que ela limpar tudo o que sujou, mostrem-lhe que as coisas têm concerto. Que há uma medida para o certo e o errado. Que ela pode expressar-se dentro do que é socialmente aceitável e ainda assim, contribuir para um mundo mais justo.

Deêm a esta menina UMA oportunidade. Acreditem nela. Acreditem neles.

Mas quem, neste país tão desorganizado pode fazer isso?

É infantil achar que o governo tem condicoes de pegar cada Caroline pela mão e reeducar-lhes individualmente. É inútil insistir no fato de que os investimentos neste sentido estão completamente avulsos.

Se o governo não preveniu e não consegue por seus próprios esforcos remediar, onde está quem possa fazê-lo?

Aí é que não está, o Brasil é um país desinstitucionalizado.

Nos países de primeiro mundo, há um setor específico formado por instituicões que tem como funcão prover apoio ao governo.

Liderado por intelectuais, este setor é a cabeca pensante e a mão atuante do coletivo no individual da nacão. É o privado em favor do público.

É nesta rede de seguranca que reside a lacuna entre nós e o G8. Quem tem dinheiro, poder e voz tem inteligência suficiente pra saber que uma base sólida é o único jeito de creser forte.

Se a Caroline fosse, por exemplo, cidadã Inglesa, a atencão aos seus atos - se tivessem chegado a este ponto - seria outra, procurando enchergar o contexto geral, as consequências em grande escala e os potenciais individuais. Realisticamente falando. Para o melhor ou para o pior.

Não é a toa que no Velho Mundo a Arte é valorizada. É uma licão que eles aprenderam com a história e seus personagens reais.

Caroline está presa e eu na Europa.

Duas filhas de um país tropical procurando seu lugar ao sol, fora dele.

Sat Nam ;)

4.12.08

Metáforas

De presente de natal quero metáforas. 24 cores de sinceridade poética. Versão sashimi. Embrulhe com laco de fita verde, coloque uma borboleta cor de rosa e me entregue junto seu sorriso mais sensacional. De presente de natal quero verdade vestida de música e pincelada de sensualidade. Acenda velas, incenso, vontade. Acenda tudo o que estava apagado dentro de você, só me esperando aparecer. Apague as luzes. Apague os medos, as insegurancas. Respire fé. Respire fundo. Respire apenas. Descarregue em mim sua aliteracao mais sussurrada. Suada. Encoste. Encossste. Encoooooooste. E fique. Não vá. Nunca mais. Promete? Eu vou. Eu sempre acabo indo uma hora ou outra. Mas eu volto. Inteira. Cheia. Pela metade, morrendo de saudade. Só peco que sofra. De leve. De charme. Me chame. Inunda teus sonhos de mim e afoga minha intensidade no seu abraco quente. Seguro. Me salva? 

Sat Nam ;)


3.12.08

A vida? Ahhhhhh a vida!

Não sei se foi o frio profundo ou a profundidade intangível dos meus pensamentos, sei que de repente comecei a sentir o tempo passar. De verdade.

A vida é muito curta. Não, não o clichê, a realidade, a vida é mesmo muito curta e o tempo passa mesmo muito rápido. 

De repente me deu um frio na barriga dos pés a cabeca. Eu vou morrer. Um dia eu vou morrer. E aí tudo vai acabar pra mim. Simplesmente não vou mais existir. Puf. Sumi.

Cadê eu nesse dia? Onde eu vou parar? Sera que morrer é desaparecer? Desintegrar? Des-existir?

Ok, tem o céu, o paraíso, os anjinhos, o purgatório. O inferno. Mas vamos lá, realisticamente falando qual a chance disso tudo realmente exitir? (As mesmas do céu ser open bar!) Quais as possibilidades de alguma parte de mim continuar? Qual parte de mim - se é que - vai pro outro lado de lá?

Não sei porque esta merda de constatacão veio parar assim na minha cara, no meio de uma terca-feira fria, no caminho da aula.

Só sei que eu vou morrer, num dia longínquo espero, e o simples fato de ter que conviver com esta certeza já seria suficiente pra fazer de mim uma louca. 

A aula comeca. Esqueco que vou morrer, volto pro clima da vida. Estudar, trabalhar, ganhar dinheiro. Há de se viver! 

Afinal, morrer é eterno, viver é que é passageiro.

Daqui a pouco a professora volta os olhos pro o relógio e eu sem perceber acompanho o movimento. Para meu des- ou com-tentamento os ponteiros estão ali, no seu climinha básico, na hora certa, no tic-tac impassível.

O tempo passa. Vou morrer um dia. Você também.

Só nos resta ultrapassar o entendimento.

E a vida? Bem, a vida continua loooooouca e liiiiiiinda!

Sat Nam ;)

Acho uma pena se a gente realmente acabar no fim e levar junto tudo o que aprendeu. Se pudesse fazia backup do tanto que aprendo e deixava pra alguém.

Em toda lápide deveria estar escrito: aqui jaz um aprendizado diferente do seu!

Eu adoraria receber de heranca uma colecao de ensinamentos.


30.11.08

whatever

Tudo de mais, tudo de menos, tudo ao mesmo tempo. Mesmo quando nada acontece o aquecedor quebra, só pra não perder o hábito de mudar uma planta de lugar.

Esta tal loucura que eu adoro e que me é tão peculiar...

Bem que tenho algos a dizer, mas estranhamente hoje, tá tudo saindo esquisito, meio descompassado, sem rítmo.

Sobra vontade, sobra vontade, sooooooooooobra vontade, falta um par de pé. Outro. 

Tudo novo. Amanhã. Tudo renovado.

O pai da amiga das vizinhas Irlandesas era do IRA - é, provavelmente, o mais próximo do IRA que eu posso chegar. Ever.

By the way, as palavras 'anyway' e 'whatever' são as the bests. Specilly 'whatev', que fica ainda mais seca, mais curta e mais ideal. 

...whatev...

Os comecos contém os fins e dificuldade e facilidade se definem mutuamente.

Se não couber filosofia, não me serve.

Sat Nam ;)


Qualquer coisa ou nada, tem dia que da tudo na mesma. 


27.11.08

Bizarro


Hotel Taj Mahal - 26/11/08 - Mumbai - India


Minha casa foi assaltada.

Um Americano da classe da minha amiga foi espancado por 20 adolescentes.

'Deccan Mujahideens' metralhando 7 pontos de Mumbai, 101 mortos, 314 feridos.

Crueldade... 

Sem rosto, sem razao, sem limite, sem fim.

E agora???

Medo.

Sat Nam ;)


25.11.08

Da serie ` Tem coisas que soh Londres faz por voce`

Voce ja viveu de casaco? Pois eh, aqui se vive assim. Seus casacos ficam pendurados na porta. Quando voce vai ali do lado comprar leite, mete o casacao por cima do pijama e ng nem imagina sua descompostura.

Quando voce vai sair de casa pra trabalhar coloca entre a roupa e o casaco mais uma blusa, de la por exemplo. Ai voce pega sua chave, seu ipod, seu Oyster (carteirinha do metro), seu celular, sua bolsa, a sacola que contem seu sapato alto(nao da pra caminhar na rua de salto) e sempre sua umbrella. Nunca, nunca, nunca ouse esquecer sua umbrella.

Enfim, voce ta la, embrulhada na sua armadura contra o frio que contem ainda: cachecol, luvas e gorro ateh que voce chega no Tube. Antes de mais nada um dos carinhas que distribui os tabloides gratuitos enfia um na sua cara, ai voce prende aquilo entre o queixo e o ombro e continua seu caminho. Sorte que a tinta do jornal daqui eh especial e nao suja a pele. Senao todo mundo ia viver com o pescoco encardido de preto.

Entao voce rebusca seu oyster em algum bolso e passa na catraca. O metro eh um forno, hora do efeito cebola. As pessoas literalmente se descascam correndo e se atropelando entre as escadas e corredores do underground.

Minhas maos escorregam por conta das luvas, em um braco carrego a bolsa mega pesada e no outro a sacola dos sapatos. O jornal encaixado no vao pescoco-ombro, e voce espera que eu consiga tirar meus casacos como?

Desenvolver a habilidade de um polvo, nessa situacao eh uma tecnica interessante.

Chego na plataforma suando. Estaciono, coloco os pertences no chao, entre as pernas. Arranco uma luva, arranco o gorro, arranco o cachecol. Jogo tudo na sacola do sapato. Antes de poder tirar o casaco tenho que tirar dos bolsos o ipod - nessa hora o fone escapa do meu ouvido - o celular e o oyster card. Tudo correndo, porque dai o metro ja chegou eu cato as coisas do jeito que da e entro no vagao procurando um lugar pra sentar. Ufa que quase sempre eu consigo.

Porque dae comeca minha sessao check list: eu confiro se tudo que tava nos bolsos do casaco ta agora nos bolsos da calca. O celular eu sempre tenho certeza que perdi ateh que eu acho. Leio a primeira noticia sobre como a Vitoria Beckham prefere o cabelo do David e eh hora de fazer baldiacao.

Pego minhas tralhas, subo escada, desco escada, atravesso 3 corredores, pronto. Espero o outro metro. Mal entro nele e ja comeco a recolocar minhas coisas. O casaco, a parafernalia nos bolsos, o gorro, as luvas.

Cheguei. Na beirada da catraca pra sair meu oyster sempre encana em sumir. Quase morro pisoteada mas ele soh sumiu de verdade uma vez. Saio da estacao e eh como se eu tivesse aberto a porta do freezer. Meu nariz fica imediatamente vermelho e minha boca racha na mesma hora. Preciso do batonzinho.

Onde ta mesmo o batonzinho? Ah sim, na minha bolsa gigante onde eu nunca acho nada, vou andando meio capenga, procurando o tal baton, desviando das pessoas, olhando pro lado errado na hora de atravessar e tentando achar o celular pra descobrir toda a vez que estou pelo menos 7 minutos atrasados.

No meio da correria Keane, ali no meu ipod, canta no meu ouvido "everybody is changing and I don't feel the same..." I definitly do!

Sorrio sozinha e sigo by myself minha caminhada desastrada, individual e comunitaria rumo a mais um dia de aventuras na Terra da Rainha quando de repente, comeca a chover. Abro minha bolsa da Marry-Poppins a procura do Guarda-Chuva e ja fico planejando com que mao vou segura-lo. Ainda nao sou um polvo, mas um dia eu chego la.

Pra quem nao gosta de vida normal, isso aqui eh poesia!

A-do-ro!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Sat Nam ;)

24.11.08

E agora?

Um buraco na janela muda tudo. Eu so queria ler filosofia ouvindo Jimi Hendrix, bebendo vinho e comendo chocolate. Porem um tijolo quebrou o vidro, alguem invadiu minha casa e de um jeito ou de outro, mudou um pouco minha vida.

Levou meu lap top, minhas fotos, minhas musicas, meus escritos. Por intuicao, tenho backup de tudo. Por invasao alguem tem boa parte da minha vida na mao.

E agora? Eh a pergunta que nao quer calar. E agora? Eu nao sabia nem mesmo o numero da policia. Agora ja sei que existem 3 tomando conta do caso - Metropolitan, Islignton e Holloway.

E agora? Fiz amizade com as vizinhas irlandesas e parceria de trabalho com uma delas, que eh fotografa. Conheci Vaz, o Land Lord (dono) da minha casa, conheci Tony - o vidraceiro de Cipre que come bata frita com vinagre -, conheci os oficiais 204 (Lea) e 402 (PC) que foram profundamente queridos e prestativos oferecendo uma compaixao que eu jamais esperava de um policial Europeu. Conheci Ryan o cara da Policia Forense que tem uma mala igualzinha a do SCI e que achou na nossa janela uma impresao digital que "tem grandes chances de ser do invasor".

Reconheci as Carols e Ma e as meninas do Guanabara como minhas amigas de verdade, com quem posso contar sempre. Reconheci o fato de que preciso muito delas.

Relembrei que em situacoes extremas eu me comporto muito bem. Meu raciocinio sobressai as minhas emocoes. Elas, noentanto, foram parar no meu ombro esquerdo e se transformaram na maior dor que eu ja senti na vida. Descobri que nao sei qual o hospital mais proximo da minha casa, nem que atitude tomar numa emergencia medica alem de ligar pro meu pai.

Reconheci que precisava de ares marcianos em toda aquela situacao e liguei para um amigo. Outros, sabendo da noticia, tambem apareceram. Homens nasceram para salvar mocinhas indefesas, eles nunca falham neste tipo de ocasiao. Descobri que eh um conforto te-los por perto tambem nessas horas.

Me senti insegura, perdida, confusa. Me senti sozinha. Me senti querida com todo o carinho que veio atraves do telefone de quem ta longe e de quem ta perto e me senti melhor e mais tranquila.

Continuo sabendo o infinito que existe na frase "bakground familiar" e que eu tenho de sobra.

Tive medo. Muito mais medo de ter que fazer tudo de novo - procurar outra casa, mudar as contas, mudar o endereco no banco, aprender os onibus - do que do assalto em si.

Reconheco que tudo isto me deixou muito esquisita. Muito exposta e muito fragilizada. E que esta descomposicao fisica e mental acontece carregada de uma nova disposicao.

Tenho pena de uma pessoa que invade uma vida e toma posse do que nao eh seu. Tenho pena de uma pessoa que acha que pra chegar do outro lado eh preciso atirar um tijolo, quebrar uma janela e sair correndo depois.

Descobri que encontrar perspectivas positivas atras de situacoes indubtavelmente ruins eh inteligente e mais facil do que parece.

Trocar o Jimi Hendrix, o chocolate e a filosofia por umas xicaras de Cha com as vizinhas de cima na cena do crime nao foi uma escolha minha. Ter que comprar um computador novo nao estava nos meus planos financeiros para este ano e me sentir estranha quando estava me sentindo plenamente adptada nao era o que eu mais queria.

Porem, a disposicao de nao tomar esta invasao como ofensa, me deixa claro que o importante eh solucionar os danos praticos e abracar aprendizados, descobertas e oportunidades que surgem de tudo isto.

Conheci o desprazer de uma noite mal dormida por culpa de uma dor muscular e a sensacao de nao saber o que fazer diante de um incidente inesperado. Descobri que nao mais que de repente uma algumas prioridades mudam de ordem na nossa vida. A neve caiu no domingo, o sol nasceu na segunda e percebi que mesmo descompassada nao sai do meu centro.

Aprendi que equilibrio tem mais a ver com nossa a disposicao para alcancar o outro lado dos muros do que com a dos outros de estilhacar nossas janelas.

E agora? Eh uma questao sempre em aberto pra quem busca evoluir.

Sat Nam ;)

20.11.08

Credit Crunch

Lá do outro lado do Oceano Atlântico as pessoas me perguntam sobre a crise: E aí, dá pra sentir algum efeito?

Dá. É mesmo pra valer. Se você não prestar um pouqinho de atenção não vai perceber, embora pequenos detalhes do dia-a-dia estejam carregados das mudanças econômicas e da insegurança a respeito da novidade que esta geração 'deles' nunca viveu antes.

A inflação está em 4,5%. Isso para Reino Unido é um número ultrajante.

Não tenho grandes amigos no mercado financeiro, porém uma classamate que tem, contou na aula dos seus 3 ou 4 amigos que perderam o emprego e agora estão aí, na malha dos ansiolíticos.

Outro amigo que trabalha num hotel há dito que os finais de semana, antes habitados pelos viajantes a passeio, andam as moscas.

O arroz não subiu. O queijo não subiu. A beringela subiu. O mojito não subiu, a breja tampouco, mas dizem que a gente vai sentir mesmo é na energia e no gás. Como não tenho parâmetros anteriores para comparação, vou indagar por aí e depois relato.

O que fica latente, até agora, é que as pessoas estão deixando de gastar com o que podem sem deixarem de fazr o que querem.

Exemplo, no Guanabara (http://www.guanabara.co.uk/) a galera continua indo beber, contudo a maioria deve comer um sanduíche na rua, ao invés de comer a comida de lá (mais cara) e as vendas do restaurante já caíram.

As sextas feiras, que têm como publico principal a 'turma-do-escritório' que imenda o happy-hour, estão definitivamente menos cheias, no entanto os sábados continuam abarrotados.

E, na minha percepção, por enquanto, é isso.

Aqui na Inglaterra a maioria das pessoas não tem dinheiro "juntado" própriamente. O que elas têm, e desde jovens, é crédito e como a economia é (ou era) estável com este crédito elas investem no que querem - tanto propriedades como empreendimentos e investimentos - sem se preocupar com o pagamento na sequência, pois é (ou era) só uma questão de tempo até saldar as dívidas.

Confesso que nunca fui lá muito interessada neste aspecto econômico e que ainda não consigo entender direito quem decide quanto custa o dólar (sim, eu sei que tem a ver com tesouros nacionais e bla bla bla), mas o assunto do momento é este e uma jornalista deve se inteirar.

Devo dizer que tenho achado minhas investidas na área muito interessantes, afinal aprender é sempre uma viagem.

Enquanto o mercado se quebra e a jornalista aprende um pouco de economia, a aquariana diria que é nada menos do que mais um sintoma da Era de Áquario.

Aliás, as outras crises ferradas do setor financeiro também começaram em outubro, de 1929 e de 1982. Coincidência? Talvez...

Sat Nam ;)

Blue Blood

"Encontre um homem que te chame de linda em vez de gostosa.Que te ligue de volta quando você desligar na cara dele. Que deite embaixo das estrelas e escute as batidas do seu coração.Que permaneça acordado só para observar você dormindo.Espere um homem que te beije na testa.Que queira te mostrar para todo mundo mesmo quando você está suada. Que te acompanhe para ver um romance mesmo que o preferido dele seja terror. Que segure sua mão na frente dos amigos dele. Encontre um homem que te ache a mulher mais bonita do mundo mesmo quando você está sem nenhuma maquiagem.Que insista em te segurar pela cintura.Que te abrace de surpresa na frente de todos.Que te lembra constantemente o quanto ele se preocupa com você e o quanto ele é sortudo por estar ao seu lado.Espere um homem que com certeza está esperando por você.Que responda as suas atitudes em relação a ele.Que vire para os amigos e diga É ELA! "

Se ele for liiiiiiiiindo, alternativo, interessante e misterioso, melhor ainda.

Se além disso ele ainda for gostoso, poeta e tocar violão, óóóóóótimo.

Se para além deste tudo ele ainda for real - PERFEITO.

(Os meninos que me desculpem, mas preciso dividir esta foto do Harry com a mulherada que passa por aqui)



Mas se além de real, ele for da realeza...

...sangue azul e cabelinho vermelho...hummmmm

Foda é ter que ser Princesa. Hmpf!

Pelo menos pra alguém a guerra tá fazendo um bem danado.

Vou me preservar acabando por aqui. É que hoje eu acordei babaca - as vezes acontece - e isso é um perigo.


Sat Nam ;)

(e que Sat Nam!!!!!!)

só um ps-zinho-juro-prometo: enquanto procura o tal cara das aspas ou espera o ruivinho voltar do front, tá cheio de gente errante pra gente se divertir bastante!!!

17.11.08

Num rítmo alucinante

Oba, já é mais de meia noite. Hoje já é amanhã. Posso postar de novo.

Juro, só mais estas linhazinhas e já vou dormir. Prometo.

Estou compulsivamente escrivinhenta. Deu pra notar? Tudo o que vejo, sinto, leio, penso, ouço vira logo um tema, uma metáfora, uma excelente razão pra massacrar o teclado. Rápido dedos, rápido. Vocês precisam acompanhar a velocidade dos meus pensamentos antes que mais esta boa idéia fuja de mim.

Não sei se é a novidade de me sentir lida. Não sei se é o hábito entrando de vez em mim. Não sei se é a hora. Não sei se é uma fase. Só sei que sinto uma necessidade constante de escrever. Num rítmo alucinante. E é isso.

Agora vou dormir.

Depois de um domingo lento, algum sorriso bobo (adorei!). Depois de não ter terminado meu artigo, de ter lido quilos, escrito quilômetros. Depois de assistir Sexy and the City, de pensar em negação, de assumir a compaixão. Depois de...

Antes que eu comece.

Sat Nam ;)

16.11.08

Uma lista de prazeres culposos

Domingo como sempre, pede cachimbo. Mas eu não pito e as 4:30 da tarde é noite na Ilha da Rainha. Nem ligo. Confesso que adoro estes domingos de chuvinha fina e rassaca em que eu durmo até doer, acordo, como, vejo filme, durmo, como, vejo filme, falo no telefone, entro na internet, vejo filme. Juro que vou escrever meu artigo pra amanhã e vejo outro filme. As vezes só, as vezes em dupla ou em bando.

"Sou uma lista de prazeres culposos".

Outro dia lia isso aí no profile de alguém no orkut, óbvio que eu fuço no orkut alheio, o que vem a ser mais um prazer culposo na minha infinita lista. É que esta coisa de prazer com culpa é minha goibada com queijo.

Num outro 'outro-dia' ouvi uma parada do tipo: "um pouco pode". Achei tão sensata esta constatação. Queria tanto ser sensata!

Mas tenho um lance com excessos. Tudo intensamente até o fim pra sempre. Ou: Nada em hipótese alguma nunca de jeito nenhum jamais. Radical. É ou não é e pronto. Ponto.

Não sou de tomar uma cerva, tomo logo 6 garrafas e vou embora bêbada. Não aguento ficar na praia umas 2 horas, passo logo o dia inteiro e volto pra casa ardendo e bêbada. Comer 2 bombons de uma caixa é tarefa impossível para minha pessoa, tenho que devorar a caixa toda. Detesto coisa pela metade, desperdício, reserva...gosto de ver o fim. O fundo. O inteiro.

De-tes-to metades. Éáááááakatiiiiiiiii. Inclusive gente normal e vida mais ou menos. Sorriso blasé. Pano de pia. Telefone ocupado e 'colega'.

Mesmo que os fins me levem aos fundos. Mesmo que o último bombom da caixa venha com uma arroba de culpa e minha consciência pesada me arraste pro fundo do poço.

Economia é uma palavra que me causa náuseas. Não porque eu não ache o ato necessário, mas porque ela faz parte dos niveís de disciplina que jamais consiguirei atingir. Eu esbanjo. Se minha fortuna for 5 esbanjo comprando o vinho de 4. Se minha fortuna for 50 esbanjo comprando 8 vinhos de 4, convido meus amigos e radicalizo. Se minha fortuna fou 4 vou até convent Garden de Metro. Se for 400 compro uma passagem pra Israel.

Se economizo 5o centavos pra comprar uma água na rua, fico com a garganta seca e depois acabo gastando 5 pila numas pastilhas.

Pra que economizar vida? Salvar é uma palavra em castelhanho e em inglês que tem os mesmos própositos e eu prefiro. Soa mais coerente. Você salva um tempo, um dinheiro, uma opinião e depois, aquilo te salva de volta. Ação e reação.

Talvez a reação do prazer seja inevitavelmente a culpa. Talvez a culpa esconda em seus entremeados um pouquinho de prazer. Acho mesmo que o prazer não se concretiza totalmente sem a culpa.

Enfim, Desculpa!

Sou uma lista de prazeres culposos sem fim. Amo e odeio ser assim.

Sat Nam ;)

15.11.08

Roupa de Cama

Tem coisas na vida da gente que deveriam ser como roupa de cama: cansou, troca.

Arranca a fronha do travesseiro, arranca o cara do seu coração. Coloca a capa no endredon, enfia outra idéia na sua cabeça. Encaixa o lençol de baixo e uma nova pessoa na sua vida.

Aí pega o que tá sujo - máguas, solidão, medo - enfia na máquina de lavar com bastante amaciante e depois de umas duas horas tira, estica num varal aquilo tudo meio amassado, retorcido, com outro aspecto. Limpo. Cheiroso.

Tem coisas na vida da gente que deveriam ser como roupa de cama: lavou tá novo, toda semana troca e, ademais, tem sempre uma extra.

Tem cama demais na vida da gente.

Sat Nam ;)

13.11.08

Eu sofro!

Eu sofro. Eu realmente sofro. Sofro profundamente e não posso suportar. É mais forte que eu.

Como posso continuar fazendo as unhas se Anita - uma indiana de 5 anos - tem a vida tão dura? E se ela pudesse ir a escola? E se ela pudesse brincar? E se ela pudesse comer todos os dias? A essa altura a cena na tv é Anita (uma criança de meio metro) com uma faca gigante na mão descascando uma mandioca mirrada. Eu penso "cameramen estúpido tira essa faca da mão desta criança". Enquanto isso a voz em off continua: "com a sua ajuda ela pode. Ligue para 0800 qualquer coisa e doe 3 pounds..." blá blá blá.

Acabo de passar a primeira camada do meu esmalte vermelho e estour prestes a começar a segunda quando não mais que de repente, outro anúncio. Desta vez são os cachorros abandonados nas ruas. Bob amava seu dono e achava que ele nunca o abandonaria, mas ele o abandonou. Perdido, com frio e com fome - uma cena mesmo depressiva daquele cachorrinho cabisbaixo - ele é enfim resgatado por uma espécie de "cruz vermelha" dos animais. Agora ele está bem e vai abanando o rabinho para ser adotado quando, oh não! A familia não gostou dele e ele volta pra sua gaiolinha.

Nããããããããão, eu não posso suportar. Voz em off: "a realidade de Bob pode ser diferente se você doar..." mudo de canal.

Fotos de um gatinho sem olho, um cachorrinho sem perna, um passarinho sem asa...voz em off: "por apenas 2 pounds por semana você salva a vida de milhares de animais..." mudo o canal outra vez.

Um programa qualquer bem tosco. Ótimo pra eu treinar meu inglês enquanto vou passar a segunda camada.

Voz em off: "eu sou um burrinho de carga. Todos os dias trabalho exaustivamente. Sinto muita sede, mas eles não me dão água, sinto dores mas eles não me deixam parar. As vezes, quando a dor é insuportável eu caio..."

A cena é de um burrinho carregando tijolos, num deserto qualquer da África, com o lombo machucado, magriiiiinho, caído no chão, com aquela cara de coitado que só os burrinhos sofridos da África têm.

Estou em prantos. As lágrimas escorrem dos meus olhos aos litros, gotejam nas minhas unhas recém pintadas, meu coração não aguenta, meu peito dói e o burrinho não pára "as vezes vem uma moça me trazer água, fazer carinho no meu rosto, cuidar dos meus machucados..." Vai voz em off, que porra de número eu ligo pra salvar este burrinho? Não quero doar nada, quero comprá-lo. Aliás, quanto fica o pacote?

Anita, a menina de 5 anos que caminha 2 horas pra buscar água + Bob o cachorro que ninguém quer e esse pobre burrinho que cai exaurido com o lombo cheio de feridas no meio do Marrocos. Tenho 10 libras, pode ser? São todas as moedas do meu cofre. Compro os três, coloco-os para morar no jardim da minha casa.

Anita vai poder enfim brincar, o burrinho vai poder descansar e o cachorrinho vai ter um lar. Vou dar-lhes água, comida, amor e carinho.

E aí quem sabe vocês, vozes em off e cameramens oportunistas, param de invadir a sala da minha casa com essas histórias deprimentes implorando por moedas para salvar os fracos e oprimidos.

Moedas que eu e 90% dos ingleses vamos gastar com cerveja, chocolate ou jornais e quando abrirmos a página lá estarão Anita, Bob e o Burrinho esfregando em nossa cara cheia de blush suas vidas miseráveis.

Acabo de fazer minhas unhas soluçando de tristeza indignação e culpa. Se eu deixasse de andar de metro uma semana provavelmente poderia salvar o mundo!

E o mais engraçado? Com o dinheiro destas publicidades em rede nacional dava pra comprar um snoopy e um ponei pra cada uma das Anitas do planeta.

Sat Nam ;)

12.11.08

talvez...

Talvez a realidade seja melhor que o sonho. Talvez apenas. Vislumbro. Não sei. Como posso saber se não consigo separar as duas coisas e toda vez em que tento vai-se um pedaço de mim.

Talvez viver não seja toda essa coisa de nascer, reproduzir e morrer. Ou talvez seja. Talvez viver esteja mais nas entrelinhas do que nos fatos. Talvez viver seja mais explícito no indizível.

Talvez viver seja a poesia de um banho quente ou a obviedade de uma flor. Talvez viver seja perder a hora, perder o fôlego, perder o rumo, perder-se. Lidar com as perdas.

Talvez viver seja brindar, celebrar, socializar. Talvez seja íntimo, calado, profundo. Talvez seja um café amargo, talvez seja um dia ensolarado.

Talvez viver nunca seja o suficiente. Talvez o bastante seja sempre pouco. Talvez viver seja lutar, talvez seja beijar. Talvez apenas seja.

O que quer que talvez seja, ou não, certamente viver é agora. Sem precisão.

"Se é assim, que então seja assim! Como o mar que não pode desviar das pedras, então bate nelas pela eternidade, até que elas abram caminho. Como a estrela que irradia sua luz por milênios para que a vejam, mesmo quando, no infinito, ela já nem mais existe. Como um sonho, que prá conservar seu conceito não se permite tornar-se realidade. Feito Deus, que é formatado pela crença e pela aceitação. Como palavras, que só fazem sentido enquanto alguem refletir sobre elas. E depois, adormecer em paz, grato pela consciência de que cada um é seu próprio mundo, sua história ímpar de passagem pelo Universo." (meu pai)

Sat Nam ;)

11.11.08

As flores de plástico não morrem

No dia 11 de Novembro de 1918 Alemanha e França assinaram um acordo que colocava fim a primeira Guerra Mundial.

10 milhões de pessoas, entre soldados e civis, morreram naquela batalha que até então era considerada a "Grande Guerra".

Hoje, dia 11 de Novembro de 2008 o mundo celebra os 90 anos do fim desta primeira grande guerra.

Cidadãos de diversos países como Alemanha, França, Inglaterra, Canadá e Nova Zelândia andam pelas ruas, desde meados de outubro exibindo na lapela de seus paletós Hugo Boss e na gola de suas Camisas bem engomadas uma florzinha de plástico vermelha.

Ao comprar uma destas florzinhas - que aqui em Londres são vendidas em qualquer lugar por uma libra - você está não só homenageando os soldados mortos em combate desde então, como também ajudando as associações que cuidam dos feridos em guerras.

O mais engraçado é que pessoas de verdade continuam morrendo a cada dia nestas disputas truculentas por poder, posses, dinheiro.

A segunda guerra veio. Muito mais gente ainda morreu. Os judeus, tantos inocentes. A Guerra do Bush está aí, será que com o apito na mão Obama vai finalisar a partida?

A cada 11h deste dia 11 de Novembro de 2008 milhares de pessoas em milhares de países do mundo estão fazendo 2 minutos de silêncio pelos soldados mortos na Primeira Guerra Mundial.

A parte rica do planeta exibe um acessório vermelho, simbolizando esta dor, esta perda. Embora a intenção seja boa, as flores de plástico não morrem e um sem número de vidas ainda murcha, nos fronts, nas linhas, nos limites... 90 anos depois.

O resto da existência humana de silêncio e todas as flores de plástico do mundo são nada perto da dor individual e sem fim de cada um que sofreu na pele a injustiça de qualquer guerra.

Eu grito e minha flor é natural.

Sat Nam ;)

10.11.08

Morrer agora? Tô fora!

A noite passada eu sonhei que morri. Sei lá, não lembro bem do contexto, mas sei que de repente meu coração parou do nada e puft, eu morri.

Na mesma hora eu acordei.

Uuuuuuufaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Eu acordei, ou seja, eu não morri.

Só que aí me deu um medo. Um medo estranho. Um medo profundo. Um medo real. Um medo absoluto. Um medo MEDO mesmo, com todas as letras maiúsculas.

Na mesma hora acendi meu abajur, impossível ficar no escuro com medo, ainda mais com medo de morrer. Se bem que, no fundo, no fundo todo e qualquer medo é mesmo um só: o medo da morte!

Enfim, me bateu aquele medo descascado, o medo em seu estado mais verdadeiro e de repente minha matraca mental desatou a tagarelar.

Eu não quero morrer agora nem fodendo! Imagina! Quanta coisa eu ia me arrepender! Pra começar eu ia me odiar eternamente por cada momento que eu desperdicei achando que sou gorda, querendo ser magra. Nossa que pateta! Preciso mudar esta minha atitude amanhã, assim que eu levantar da cama. Quanta coisa eu tenho pra fazer ainda! Vou fazer tudo amanhã. Opa, calma, não dá pra eu acordar amanhã ir pra Índia, virar jornalista, escrever um livro, casar e ter filhos, conhecer o mundo todo, comprar uma casa linda, resolver todas as minhas nóias...

É, definitivamente não dá pra eu fazer tudo o que eu ainda tenho para fazer na vida amanhã. Mas dá pra eu pelo menos parar de perder meu tempo com essa minha insanidade fútil de ser-gorda-ser-magra antes que algo me aconteça e eu me torne um fantasma perambulante pesando 21g e carregando uma tonelada de arrpendimento por toda eternidade!

Sat Nam ;)

3.11.08

Eu voltei, voltei para ficar

'Atravesso a tormenta e sinto o êxtase da libertação.' (calendário da paz, dia de hoje)

A vida é mesmo um rio. Há momentos em que uma canoinha simples é suficiente para navegá-lo. Em outros é necessário capacete, bote inflável, companheiros e extrema coragem. Rafting ou navegavel as águas deste rio nunca param.

Depois de quase me afogar (mais uma vez) consegui voltar pro bote. Tanta gente me ajudou. Tanta gente me puxando, se alternando em segurar a minha mão enquanto a correnteza ia ao contrário, tentando me arrastar.

Tive tanto medo! Confesso que ainda estou adrenalizada.

Quantas vezes, nestes últimos 3 meses eu quase subindo no bote e lá vem uma pedra, um galho, uma queda d´agua. Engoli muita água. Minhas forças chegaram perto do limite. Fiquei mesmo fraca.

Foram as pessoas com seus exemplos, palavras e paciência que me fizeram aguentar. As pessoas, o amor que sinto por elas. Vê-las ali dedicando-se a mim quando elas mesmas têm que atravessar seus percursos caldalosos, resgatou minha vontade. Minha vitalidade.

O tempo também ajuda, pois que ao correr incessante o rio vai deixando os obstáculos para trás. Superados.

A natureza com seus sinais que vêm do céu, das flores, do ar.

No fim, o último impulso, quando as águas estão mais calmas, o coração mais tranquilo, os braços mais firmes, o olhar mais corajoso, a alma decidida.

De repente estou novamente dentro do bote. Extremamente grata. Aliviada. Esperançosa. Forte.

Ainda estou molhada, não tirei o capacete, nem o colete. Todos que me ajudaram sempre souberam que eu conseguiria e por isso estiveram ali o tempo todo.

Foi pela certeza em seus olhos que eu voltei.

Voltei por mim, por todos que acreditaram em mim e para ofecer o mesmo olhar confiante a quem precisar.

O sol se pões mais cedo. O dia amanhece de noite. O inverno chega e meu coração está aquecido.
Eu voltei. Voltei para ficar.

Sat Nam ;)

31.10.08

Delicadeza de vó

A avó fez aniversário ante-ante-ontem. Teve bolo de nuvem, festa no céu e coração quentinho aqui na Terra. Pra neta que tá longe ela mandou neve, assim, no meio de Outubro! Esse segredo é apenas delas, só delas.

Ela andou pela rua a noite, enquanto as pessoas se sorriam maravilhadas, intrigadas, interagindo. Pessoas que nunca se olham, nunca se vêem, jamais se percebem. Só por causa da neve caindo.

O frio vinha molhado do céu azul-escuro. É neve?! É!!!! Tá nevando. A neta saiu por aí. Andando e recebendo os carinhos da vó, neste ano versão flocos gelados. E cada neve na bochecha era um beijo dela. E cada gelo no cabelo era um cafuné.

A neta chegou na casa dos amigos. Abriram um vinho, brindaram a vida. Ela brindou em silêncio a avó. Os telhados das casas branquiiiiiiinhos, a rua branquiiiiiinha, os carros cheios de gelo. Agora ela estava quentinha.

A neve caía lá fora. Outra garrafa de vinho. A vida faz sentido.

Delicadeza de vó, sempre dá jeito de dar um colinho.

SAT NAM ;)

saudade...

28.10.08

Neste momento a saudade está a me consumir. Sinto uma falta não sei do quê. E dói. Dói horrores no meio de uma tarde simples e qualquer. Quando eu deveria estudar, fazer o trabalho que é pras 5h, já são 2...3. Não consigo. Não me concentro. Sinto um vazio que me preenche e enche meus olhos de lágrimas. Que dor! Porquê? Pra quê? Elas escorrem, molham minha escrivaninha e embaçam meu olhar. Qual o propósito, qual o motivo? Se pudesse arrancava de mim essa falta, essa angústia, esse medo. Arrancava de mim essa dor que me enche de culpa. Arrancava de mim, me descascava toda e achava aquela eu que eu gosto tanto de ser. Será que ela não veio? Será que ela ainda existe? Se alguém a vir por aí, diga que estou procurando por ela. Ofereço como recompensa meu sorriso sincero, minha gratidão eterna e minha amizade de plantão...pra sempre.

Sat Nam ;)

25.10.08

25.10.08

Não há um objetivo. Há o horizonte. Não há um caminho. Há um mar de opções. Não há setas, senão escolhas. Não há começos, não há finais, são ciclos. O tempo, concreto, sincero, marcante. As fotos do passado, as roupas de uma moda que não faz mais sentido. Sentidos relativos, efêmeros. Vem de fora e nos impreguinam por osmose. Contrários àquele que é intrínseco, intenso, profundo. Único. Original. Para ser-se há de pensar-se. Dormir, acordar, trabalhar. Beber para esquecer. Sonhar. Dormir, acordar na madrugada lembrando. Para ser-se há de sentir-se. Entregar-se. Amar e amar-se. Cuidar, cuidar de si. Se jogar. Enfrentar as lágrimas e os sorrisos de cara lavada. Óculos de sol disfarça olheira, mas não esconde exaustão de corpo e de aura. Combustão. Não compreendo em palavras, nada expressa exatamente o que acontece em mim. Hoje sinto a magia de meu próprio valor.

Sat Nam ;)

23.10.08

Eu oceano a internet

Você já montou um quebra-cabeças daqueles de 5mil peças? Já procurou constelações no céu carregado de pontinhos minúsculos e brilhantes durante horas a fio? Na fazenda da minha avó essas são as diversões principais de muitas das nossas noites.

No quebra-cabeça sempre tem uma hora em que falta uma peça tal que não deixa a coisa fluir. Fica todo mundo em silêncio, em volta daquela mesa enorme, olhando aquela paisagem desfalcada procurando entre mil e oitencentos e quatro pecinhas verdes claras aquela que tem a nevezinha quase invisivel num canto e que vai encaixar perfeitamente no comecinho do alpe. Todo mundo concentrado, procurando, procurando, tentando encaixar uma lateral quadrada em outra triangular, tendo a certeza que aquela peça que não encaixa tinha que encaixar. Até que aquele primo menor que ninguém tava dando bola vai lá e pum. Encaixa a tal peça perfeitamente.

Tentar identificar uma constelação num céu escandalosamente estrelado é quase praticamente impossível. A menos que, como eu, você tenha um tio que possui não apenas conhecimento da causa como, um mapa do céu! Estamos todos ali, olhando para aquele azul escuro sem fim, pontilhado de brilhos de todos os tamanhos e intensidades enquanto esse tio fica apontando aquilo tudo e dizendo: ali ó, o rabo do dragão, estão vendo? A ponta da flecha, viram? Olhem o escorpião! (onde pooooorraaaa!) As 3 Marias? Ahhhhhhhhhh, sim tio, eu vi! Tô vendo. Então, a terceira maria da esquerda pra direita está há duas estrelas de distência da primeira gota do aquário.

Tanto a nevezinha do alpe do quebra-cabeças de mil peças quanto a terceira maria no céu estrelado tem um papel fundamental na nossa existência, ambas são pontos de estrangulamento. Ou por outro lado, de alargamento.

Quando você fica extremamente focado na falta de alguma coisa aquilo torna-se uma obssessão. Sem o seu consentimento você fica tão preenchido pela ausência daquilo que não abre espaço para que a tal coisa possa realmente aparecer.

De repente algo acontece, a coisa surge, alguém te mostra, ela aparece. Todo um mundo novo acontece pra você. O que estava estrangulado, agora está escancarado numa peça de quebra-cabeças, numa pontinha de estrela, numa conexão com a internet.

Os primos dão risada. Os tios ficam fascinados. Você extasia um pouco. Mil janelinhas do messenger, as janelas do windows, uma janela gigante pro mundo, a janela infinita da vida.

Seja pra ajudar a achar a estrela ou a peça do quebra-cabeça a gente precisa de gente que conhece a gente pra gente se reconhecer e lembrar quem, na verdade, a gente é.

Do outro lado do telefone, da tela, da rua ou do planeta a terceira maria é a gota do aquário, a peça com a nevinha é a única que encaixa e a internet me aproxima de quase tudo que o oceano me separa.

Sat Nam ;)

Reconectada

De repente ela volta. De repente me reconecto. Justo eu tão viciada nessa rede de informação e comunicação fui passar logo um mês complexo longe dela. Longe de tudo. Out. Totalmente por fora.

Off line. Sem contato com o mundo. Checadas rapidinhas no email, prazer efêmero e compacto. Nada comparado as minhas horas de navegação sem rumo, sem hora, sem nexo. Um mês fora da rede e eu quase me esqueço como é bom surfar neste mar.

Você está conectada. Oba! Conexão excelente. Ebaaaaaaaa! Vou mandar milhares de emails pra todo mundo contando tudo. Vou passar horas no messenger tagarelando neste teclado. Vou atualizar meu orkut, responder scraps, colocar fotos, dar uma fuçadinha básica. Vou até ver qualé a deste face book que eu faço parte e não sei como mexer.Vou procurar o que tem de bom pra fazer este findi, ler o que tá rolando no Brasil, ver meu horóscopo. Vou limpar minha caixa postal, visitar os sites que o professor da pós falou, me cadastrar no do Times. Vou ler meus blogs favoritos, vou postar no meu com acento, vou mandar curriculos, um montão. Vou ler um pouco de clarice, vou rebuscar o que tá se passando na Russia.

Você está conectada. É, eu sei. Conexão excelente. É, tô vendo. Já respondi meus emails, limpei minha caixa, li noticias. Ja enviei cvs, conversei no msn, entrei no orkut e no face book. Já me cadastrei, naveguei, mergulhei no oceano infinito da tecnologia da informação e...e agora cá estou, escrevendo sobre esta minha mania de achar que o me flta vai me preencher, mesmo sabendo que nunca é o bastante.

Eu tava off sem internet. Fiquei on por umas 4 horas e agora, veja só, tô de novo assim...olhando pra esta tela e pensando na vida, em amanhã, nas escolhas, no futuro.

Quer saber? Vou jogar paciência.

Santa Paciência.

Sat Nam ;)

20.10.08

?

Ha dois meses e meio atras, quando dei tchau pra minha familia e entrei pelo portao de embarque com os olhos enxarcados e uma pergunta entalada na garganta nao imaginava nem de longe que aquelas eram apenas as primeiras lagrimas das infinitas que eu ia derramar no percurso e que a pergunta continuaria ali, nao apenas entalada na garganta, mas espalhada por todo meu corpo.

Se eu pudesse escolher entre ser uma pergunta ou uma resposta, eu jamais responderia. Respostas ou sao obivias ou sujeitas a interpretacoes. Perguntas sao sinceras, com seus pontos de interrogacao. Causam sintomas como angustia, medo e ansiendade, embora gerem auto-conhecimento, reflexoes e descobertas irresistiveis.

Se eu fosse do time das respostas, me apaixonaria por uma pergunta, sem camisa, interessante, alternativa e misteriosa. Respostas usam oculos e se acham as donas da verdade, perguntas sao assumidamente de reputacao duvidosa e desafiadora.

Se o mundo for divido entre pessoas respostas e pessoas perguntas, eu definitivamente sou do segundo grupo. Entalada na garganta ou espalhada pelo corpo, eh na alma que eu sinto essa interrogacao que me move e comove em existencia.

As lagrimas continuam escorrendo, o tempo nao para de passar. As perguntas seguem nao respondidas e as respostas teimam em querer rotular. O sentido? Eh sentido a cada dia. Intensamente e com coragem, por esse novo caminho que decido assumir.

E assumo contar aqui, ainda que com um certo atraso, das perguntas e respostas que o sentido deste novo dia-a-dia versao tacla sap me promove.

Let it be.

Sat Nam ;)

17.10.08

Nao seja tao obvio, tua obviedade me cansa. Nao seja falsamente canalha, porque fica patetico. Voce e suas entrelinhas forcadas, ridiculas e previsiveis. Voce sempre volta com as mesmas noticias e esconde essa cara de tonto atras atitudes tao toscas que me dao vontade de vomitar. Me econonomize. Ja pedi mai de um trilhao de vezes. Me poupe da sua covardia oca, das sua cabeca dura e principalmente da sua infantilidade impregnada. Me poupe do seu medo de sofrer, da sua necessidade de vencer irritante, do seu caminho torto, da sua preguica morna, do seu olhar vazio. Chega. Que parte da palavra A-CA-BOU voce nao entendeu? Quer que desenhe? Pode falar porque eu ja to com lapis e borracha na mao, apagando o que eu tinha planejado pra gente e me esforcando pra inventar um futuro novo. Tudo bem? O que voce espera que eu responda? Sim, tudo otimo, eu sou um poco de cinismo e jah tenho ateh um namorado novo. Ou sera que voce prefere, nao, tudo pessimo, ontem pensei em cortar meus pulsos, mas preferi devorar um pote de haguen daz. Que diferenca isso faz? Pra, pra voce? Ja era, babe. Arruma tuas trouxas da minha historia, toma teu rumo, se pirulita. Nao quero mais nem sombra do teu vazio do meu lado, voce esta sendo despejado do meu coracao sem direito a apelacao. Com coisa que voce teria coragem pra isso. Pela ultima vez entenda que eh o fim. E eu nao estou passando por todo este perrengue pra mudar de ideia depois.

Passou. The end. Game over. Finished. Acabado. Done. Ja era. Chega. Basta. Enough. Fim da linha.

Sera que voce consegue assumir pelo menos isto e sumir de uma vez por todas?! I'll apreciate.

Sat Nam

14.10.08

Assuma-se

A vida eh feita de opcoes. Somos os resultados de nossas escolhas. Escolhas sao, quase sempre, arriscadas. Encare os deafios, assuma os riscos. Mesmo sabendo que eles implicam consequencias que quase nunca estao sob seu controle. Mesmo nao sabendo o que vai acontecer se voce tentar.

Porque se voce nao tentar ja sabe o que vai acontecer, na melhor das hipoteses, nada. Nada eh muito pouco para quem acredita em potencial para viver a vida e mudar o mundo. Este que esta ao alcance dos seus bracos, dos seus pensamentos, da sua energia.

Mude. Abrace a ideia de mudar um pouco de ideia, sem abir mao de seus valores ou principios. Olhe com os mesmos olhos, de outro ponto de vista. Se nao conseguir, tire o sapato e encare o mundo descalca.

Use as pedras no caminho - as que atiram e as que voce tropeca - para construir uma estrada ou um castelo. Desista dos muros, saia da defensiva. Antes que voce tenha construido uma fortaleza tao grande que ninguem consiga entrar, um labirinto tao perfeito que voce nao consiga sair.

Fale, grite, berre. A verdade. Ainda que a melhor verdade em alguns momentos seja mentir sobre a sua versao dos fatos. Mas fale olhando nos olhos. Nao use o telefone para falar de sentimentos, a nao ser que seja saudade.

A saudade eh acostumavel eh pode manter o coracao quentinho, entao sinta-a. Por opcao. Por ter espalhado tanto de si por ai, que nao ha mais como viver sem saudade. A saudade eh um risco a ser assumido, mas nao a solidao.

Sua propria companhia eh bem melhor do que ela. A solidao doi, corroi. Sua companhia agrega, abraca, proporciona algumas das maiores surpresas desta vida.

Disciplina, dedicacao, foco. Alegria, humor, amizade. Carinho, bondade, esfor. Forca de vonatde, paciencia, fe. Coragem. Assuma seus medos, suas limitacoes, assuma as faltas e lacunas de sua vida. Assuma seus erros, assuma seus sonhos. Assuma as redeas dos cavalos cavalgaveis e pelos outros, deixe-se levar.

Assuma. Assuma quem quer do seu lado, assuma suas opinioes, assuma seus amigos, seus caminhos, suas falhas e ate mesmo aquilo que nao quer assumir. Assuma sua vida e lute por ela, porque o maior covarde eh aquele que por medo do desconhecido nao assume o risco da mudanca e passa a vida negando a felicidade.

Assuma-se!

Sat Nam ;)

27.9.08

Mais de Clarice em mim

"Não sou boa com números. Com frases-feitas. E com morais de história. Gosto do que me tira o fôlego. Venero o improvável. Almejo o quase impossível. Meu coração é livre, mesmo amando tanto. Tenho um ritmo que me complica. Uma vontade que não passa. Uma palavra que nunca dorme. Quer um desafio? Experimente gostar de mim. Não sou fácil. Não coleciono inimigos. Quase nunca estou pra ninguém. Mudo de humor conforme a lua. Me irrito fácil. Me desinteresso à toa. Tenho o desassossego dentro da carteira. E um par de asas que nunca deixo. E - sem saber - busco respostas para o que não encontro aqui. Ontem eu perdi um sonho. E acordei chorando, logo eu, que adoro sorrir...Mas não tem nada, não. Bonito mesmo é essa coisa da vida: um dia, quando menos se espera, a gente se supera. E chega mais perto de ser quem - na verdade - a gente é."

Assino embaixo.

SAT NAM ;)

12.9.08

I am who I am because of everyone

Ela é brasileira. Foi parar em Londres hà 2 anos e sete meses atrás. Tanto lhe fazia ir ou ficar. Passara por algum qualquer problema e seus pais a mandaram para lá. Chegou em depressao. Sofreu por 6 meses. Outra lingua. Outra cultura. O frio. A saudade. Aprendeu. A dar valor aos pais, a lingua, a lidar com tudo aquilo. Entregou sua vida a Jesus, acaba de se mudar para estar mais perto da Igreja que frequenta todos os dias. É ativa na comunidade. Limpa casas, ganha 7 libras a hora. Tem 25 anos, um olhar tranquilo e uma gratidao sem tamanho. Sonha ser psicòloga.

Italiano, foi para Londres em busca de aventuras. Nao toma banho todos os dias, dorme no meio das baladas. Acredita no poder dos numeros, fuma maconha, raxixe e o que mais faca fumaca. Eh franzino e sorridente. Nao sente tanta saudade assim. Nao sabe o que quer ser, ou melhor, ele ja eh. Ou nao?

A Poloneza chegou para estudar moda. Era inocente e deslumbrada. Foi morar com um bando de latinos, ficou no minimo descolada. Faz sexo casual sem problemas. Embora viva sentindo um vazio. Eh engracada e amiga, sempre pronta pra proxima. Sente um pouco de falta dos pais, mas nao pensa em voltar pra casa. Dividiu uma cama de solteiro com um italiano ruivo por um ano. Agora ele foi pra Barcelona e a vida dela ta de pernas pro ar. Eles nunca tiveram nada. Além de uma amizade profunda e sincera. Ela eh agitada, alegre..."a cold polish" como ela mesma diz.

Um veio estudar balé, a outra ganhar dinheiro. Há quem busque conhecer gente, novos horizontes, noitadas e agitacao. Tem gente que soh quer estabilidade em libra, aprender lingua, conhecer o mundo.

MUitos ja estao cansados esperando a hora de voltar. Outro tanto encara as mudancas porque do jeito que ta nao da pra ficar. Tem gente que gosta e nao volta. Ou entao nao ve a hora de ir. As vezes ta soh de passagem ou nao consegue partir.

Cada um com a sua mala, com a sua meta, com a sua maneira de se jogar. Embora todos tenham expectativas e ninguém saiba ao certo como lidar com as frustracoes.

E eu sou quem sou por causa de cada um deles. Sou o que sou por causa de todo mundo.

SAT NAM ;)

5.9.08

Há dias

Adia...me dizem os dias. Num imperativo seco e suave ao mesmo tempo. Adia tuas expectativas, tua pressa, tuas (in)decisões. Adia tua necessidade de já, agora imediatamente.

Há dias que venho entrando e saindo das horas e dos metrôs com essa sensação adiada que emite enzimas nas entranhas do organismo e do corpo etéreo.

Uma sensação de sem lugar. E a cabeça que não pára, não pára, não pára de pensar. Cobrar. Analisar. Questionar. Divagar. Nada devagar.

Adia cabeça...digo para essa coisa borbulhante que me ocupa por inteiro, desde de dentro das mitocôndrias mais remotas, respirando meus micro pensamentos a 20 milhões de rotações por segundo.

Adia cabeça...peço encarecidamente para a chaleira esfumançante que pesa sobre meus ombros descultivando toda a não cobrança tão árduamente conquistada nas práticas de yoga.

Adia cabeça...choro baixinho, procurando um canto silencioso no meio de tantas perguntas, análises e conclusões precipitadas.

Adia cabeça. Há dias que os dias vem dizendo que há dias em que é melhor adiar. Tirar a panela do fogo, esperar a fervura baixar e quando as borbulhas diminuírem e tiverem se tornado uma água mais morna então será hora de não mais adiar.

Há dias...

Sat Nam ;)

30.8.08

Filosofia de geladeira

Entender de si é muito mais estranho do que sublime. É cavucar um buraco sem fim e tirar de dentro um tudo que nunca acaba, mas também não preenche. Um vazio cheio de tranqueira, mas também de poesia.

Destampar o ralo da alma é para que tem coragem de experimentar. Vivenciar o novo, já que o que é já se sabe como é e se o diferente for melhor, é uma oportunidade, se for pior, é só escolher o antes.

O processo da viagem universo a dentro é árduo e sinuoso, tão compreensivel quanto o é para uma criança de 6 anos um plano de saúde. Embora completamente auto-explicativo, encontrando em seu meio toda a justificava pro fim e principalmente pro começo.

Enquanto desprego da cortiça de minha memória fotos antigas e desbotadas, releio acontecimentos de minha história e encontro linhas nunca antes lidas, muito menos interpretadas.

Vou perdoando e me perdoando pelos que pareciam os piores erros de um sem fim e agora encaixam-se uns em outro, plenos de significado.

Minha identidade se desfaz em fotos 3X4 de olhos arregalados e sorriso oco, noentanto a lembrança da menina tímida, da adolescente rebelde, da mulher complicada exibem o mesmo olhar...

O olhar que derrama meu ser em uma ansiedade imensurável, invispivel e indeletável: a ansiedade de ler todos os livros, ouvir todas as músicas, ver todos os filmes, conhecer todos os lugares, milhares de pessoas, cada recôndito bucólico de tempo, espaço ou existência.

Abro a geladeira, filosófo. Procuro uma ideologia, alguma coisa doce, um caminho. E encontro garrafas de água embaçadas, manteiga pela metade e oito tapeware de dúvidas. Continuo flertando com as prateleiras vazias, em busca de qualquer coisa que preencha este vazio que me dá, de sexta a noite, quando não consigo parar de me analisar.

SAT NAM ;)

26.8.08

Se fosse...

Se fosse música, hoje seria uma melodia calma, daquelas que derrete a casca dura da ferida imperceptível que o dia-a-dia causa. Num rítmo que abraça, acalenta, acolhe, levando a alma numa dança leve, solta, singela e real.

Se fosse parte, hoje seria asa. De anjo, borboleta ou libélula, de bem-te-vi, gaivota ou beija flor. Seria asa batendo devagar, firme no ar, longe do chão. Seria asa que plaina, flutua, destila o mar de nuvens e esfria o corpo no alto do todo, longe e perto de tudo.

Se fosse gente, hoje seria criança, brincando tranquila, sem pressa nem sabedoria, derrubando inocência, extravasando ternura. Oferecendo sorrisos ao acaso, por descaso, por acaso.

Se fosse elemento, hoje seria água. Choveria gotas lânguidas num beijo úmido e fértil. Correria rios caldalosos e desaguaria, sem receios, no oceano. A-mar-ia, sem parada, sem barreira, sem fim. Me jogaria em cachoeira, queda d´agua, força e harmonia.

Se fosse manhã, seria sol. Se fosse noite seria lua cheia. Se fosse obra, seria de arte, se fosse tempo seria feriado. Se fosse santa, seria louca. Se fosse ela, seria outra. Se tanto, pouco. Se dúvida, o suficiente. Se copo, inteiro vazio. Se nunca, seria pra sempre. Se antes, seria agora. Se algo, seria qualquer. Se onde, seria aqui.

Se fosse estrela, seria cadente. Se fosse grata, seria infinita. Se eu, se nós, se tudo. Se desse, dará. Se Deus...quiser.

Se fosse um dia, seria este, se fosse uma hora, seria esta. Se fosse alguém, hoje, seria Eu.

SAT NAM ;)

20.8.08

Inveja

Tenho uma inveja danada de gente simples. Quando digo simples, quero dizer descomplicada. Gente que olha para o que é aceita e fica feliz. Gente que vê o que tem, acha suficiente e aprveita. Gente que em vez de querer sempre mais e melhor, cultiva a não cobrança e vive com um estilo de vida leve. Tranquila. Fluida.

Palavras que me remetem à um rio cristalino, correndo geladinho numa água trasnparente e encorpada, sob um céu azul intenso. Sem medo das curvas, das chuvas, das cachoeiras, de nada. Nada. Sem medo, sem asiedade, sem pressa e sem apatia.

Simplesmente seguindo seu rumo óbvio e nem por isso menos nobre, seu destino que até parece não ter sido escolha, porém é louvado com a graça de uma certeza abençoada...o MAR.

E o dia em que suas águas tornar-se-ão sagradas não lhes é motivo de confusão, senão de confiança.

Tenho uma inveja danada dessa gente que se sente um com o todo com tudo que tem ou não, que sente ou não, que é ou não. Um sentimento de inclusão que poucas vezes experimentei.

Que inveja de sentir plenitude num banho de mar...

SAT NAM ;)

16.8.08

Um pouco de Clarice em mim

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece.

Sou mansa. Mas minha função de viver é feroz."

Foi a Clarice (Lispector) que disse tudo isso aí em cima.

E hoje eu acordei exatamente assim...versão dragão de mim!!!

SAT NAM ;)

14.8.08

Adpatação (Umbrella e terceiro olho)

Ufa...no fim das contas eu sempre sou salva!!!

Quando eu estava prestes a desistir - confesso, pensei MESMO nessa hipótese - a vida, que não sabe errar, começa a lançar seus salva-vidas individuais para me rebuscar.

Um dia pensando sobre arte. No Tate Modern (Museu de Arte moderna daqui de London) e minha inquietude- irritante pensou: Mas pra quê arte? Ela mesma se respondeu: Talvez seja a arte a única maneira que um ser humano tem der revelar ao próximo como é se-lô, e então, talvez seja assim a arte a única maneira que um ser humano tem de por algum olhar, mordida ou identificação, ser por um milésimo de segundo que seja um outro ser que não o seu. É, pois, a arte de um altruismo imenso, já que expondo-se permite que outro aprenda, compartilhe, descubra e de qualquer forma, registre sobre isso sua própria leitura e interpretação.

Arte é compaixão.

Compaixão que não existe num festival chuvoso, suposto dia no parque, contudo um dia Londrino e portanto, molhado, respingado, na tenda cheia, lotada, onde conseguir dançar depende da sua habilidade e categoria de fazê-lo mentalmente, já que duas pessoas, em tal situação, disputam o mesmo lugar no mesmo fucking espaço, no exato mesmíssimo tempo! O protagonismo do evento, então, fica divido entre os artistas e ela: UMBRELLA. Umbrella na tenda, dançando. Fora dela, cobrindo. No mocó, acobertando. Umbrella que não revela nada além do fato- fatídico: aqui, sua prensença é fundamental.

E o verão londrino acusa 14oC.

Enquanto isso, quero comprar minha passagem pro verão verdadeiro, real e absoluto no meu país onde 40oC a sombra em Janeiro é motivo de reclamação!!! Natal com areia de praia, cólo e cerva gelada...eu quero!

E quero também a certeza de que a opção por vir faz sentido. Rolo na cama, perco sono. O olho inchado entrega e a re-adaptação não nega. Embora a garoa caia, levanto cedo e vou. Para algum lugar desconhecido em busca de um Deus ou vários, de uma cultura de um país - que invade este daqui, e quiçá, o mundo todo - que admiro, respeito e em certos pontos me identifico: Índia!

No bairro em que "moro" provisóriamente, no trampo da Carol o chefe querido, no templo Swaminarayan (http://www.mandir.org/), o maior templo Hindu fora da ndia. Construído todo em Mármore, sem nenhum metal e apenas com trabalho voluntário.

O primeiro Deus que conheço ali, aos 11 anos saiu de casa e sobreviveu 4 anos descalça, sem roupas, dinheiro nem comida aos perigos da perigrinação até o Himalaia: frio, fome, animais e pessoas perigosas...depois meditou 40 dias apoiado em apenas uma das pernas e tornou-se uma verdadeira lenda para este povo que idolatra tantos Deuses ao mesmo tempo. Eu, por respeito escrevo seus Deuses em letra maiúscula e faço a reverência que conheço, palmas unidas em Angeli Mudrá, cabeça que abaixa discreta, com admiração.

Um laminha (ou algo parecido), me pergunta se conheço a religião e ante minha resposta negativa começa a destilar ensinamentos num inglês indianado que eu peço ao meu coração paira me ajudar a entender, já que a vontade de absorver aquilo tudo é tanta, que meus olhos enchem-se de lágrimas.

Ele tem a minha idade e resolveu há 1 ano devotar sua vida a Deus. Respeita todas as crenças, fica feliz por eu conhecer Ganesh, Shakti e Shiva e se emociona quando lhe digo que não quero ficar de costas para a sua divindade. Me ensina, trocamos. Palavras em um idoma que não é o nosso, mais que isso: trocamos pedaços descompassados de almas que querem um mundo bem melhor e acreditam nisso!

Aprendo que Buda é também um Deus Hindu - Butana - e que daí veio o Budismo. Uma corrente da religião mais antiga do mundo.

Ele me diz pra ter paciência e fé, afinal meu tempo não é o tempo de Deus. (E eu que sei disso e sempre esqueço!!!). Me aconselha a sentar ali mesmo e meditar, pedir tudo o que quero ao nosso Deus e esperar. Sem me desesperar. Tudo virá. Faço o que ele sugere. Me sinto bem melhor.

Passo um dia incrível, com garfadas orgânicas, amigos em português, goles de vinho rosé e Blues. Agradeço, ofereço malas (uma espécie de tercinho Hindu) às pessoas mais incríveis que convivo aqui e intuo: É esse o sentido da minha vinda.

É esse o sentido da MINHA VIDA!

Saio por aí de terceiro olho...Eu sou.

Sat Nam ;)

1.8.08

Parto II

Pois é...parto. Parto mais uma vez e reparto meu coração em tantos pedaços que, confesso, achei que seria mais fácil. Mas dói.

É impossível partir sem dor. Embora seja também incompatível partir sem coragem. Então, me cuido, me jogo e continuo.

A coragem põe a dor no colo e fala baixinho no ouvido da menina que chora a noite, quando a lua brilha e a irmã não está no quarto ao lado.

A dor põe a coragem no bolso, quando o metrô anda apressado, a cidade corre barulhenta, as palavras travam em algum lugar perto da garganta e a cabeça pensa: será que vou conseguir?

É então que o amor - sempre ele - pega ambas, dor e coragem, pela mão, mostra a vista da janela, o céu que não está tão azul, o vento que ensaia um balé de árvores e sonhos, os olhares tão necessitados daquela felicidade fácil que já se esqueceu de ter.

Mas não eu. Eu nunca me esqueço dela. De carinho de cachorrinha de manhã bem cedo, de telefonema de pai, abraço de mãe. De cerveja ou incerteza com as amigas. De risada fácil, de yoga plena, de cabeça blábláblá, respiração profunda e vida terna.

E por não me esquecer dessa felicidade simples, básica e absoluta, me acalento e me questiono se não teria sido mais fácil simplesmente ficar.

Nem por um segundo titubeio na resposta que certamente é um sim redondo. Redondo como os círculos das minhas tatuagens, redondo como nosso planeta Terra, redondo como as "Gestalts" que ficaram por aqui, outrora, junto com as malas e o visto negado.

Redondo como a redondeza de minha felicidade já tão conhecida, habituada e linda que pede mais profundidade, desconhecido e estranheza...cavuca com calma, perde a paciência, mas não perde a alma.

Que sem dúvidas, não há certezas. Apenas bençãos, milagres e vida.

Pois é...

Sat Nam ;)

27.7.08

Parto I

Quando as palavras faltam, dos sentimentos que sobram, alguém sempre tem a delicadeza de falar por mim e extravasar o que entorpece-me de gratidão e abundância.

Dessa vez foi a Marisa - Monte - em letras da Ma(rcela) dear yoga teacher... Obrigada!

"Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lodo ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente
Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda
Conhece a Índia e o Japão e a dança haitiana
Fala inglês e canta em inglês
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes
Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga
Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema
Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você
Despreocupa-see pensa no essencial
Dorme e acorda."

Gerânio
Marisa Monte

23.6.08

Esse caminho tem coração

Há um certo estado, dentre os tantos de ser e estar, que culmina em ser consciente. Não sei sé quadrado ou retângulo essa forma de um sentir agudo em que o encaixe fecha e abre no mesmo ponto de um qualquer perfeito círculo.

Em cada encontro uma coincidência. Embora NADA seja por acaso. Os milagres são singelos, porém constantes. Simultâneos.

A beleza das horas conjugada ao cansaço não suga. A força vem de um lugar antes oculto, agora revelado, desbravado, escancarado. Um lugar que trilhava o caminho da euforia e, nesse momento, leva de forma quase plena a um tal conforto.

Um saber reservar para destribuir melhor. Sem reservas e sem desperdício. Uma sensatez de coração. É como se de repente mais um saco de coisa começasse a fazer o sentido que sempre representou.

O sopro. Que não é nem alma, nem corpo, nem mente, nem espírito. Que não é apenas verdade, apenas amor, apenas todo, apenas um. Que é. E simplesmente é.

O entre que aproxima no espaço ideal, no momento perfeito, da maneira mais harmoniosa. Realmente é. E tudo passa a acontecer.

O sopro que demanda respiração profunda, calma, doses boas de disciplina e auto-conhecimento. O sopro que mediante a incessante vigilância É. E simplesmente é. A mais pura essência do SER.

Simplesmente é... EU SOU.

SAT NAM ;)

17.6.08

Atchiiiiiim

Deus te abençoe!
Bless you!
Jesus!

Em todas as línguas que eu conheço - são poucas, mas são algumas - depois de qualquer "atchiiiim", sempre decorre uma palavra divina, relacionada a Deus ou benção.

Quando será que o espirro tornou-se algo assim tão sagrado?

A pessoa toma um tombo e ninguém fala nada do veio religioso. O cara prende o dedo, bate o joelho, quebra a unha e sempre berra um belo palavrão. O que será que o tal do espirro fez, passado atrás, para merecer tamanha posição sacra?

Bem, a pergunta está lançada, se alguém souber a resposta, agregue-me please. Se alguém souber como se responde ao "atchiiiim" em alguma outra cultura, agregue-me faça o favor. E se ninguém souber nada que agregue, eu agrego uma dica pró-espirro:

Quando der aquela vontade de espirrar, olhe pra luz, juro que funciona. Por que espirro frustrado, não há deus que abençoe!

Sat Nam ;)

7.6.08

Licença Poética

( azul verde branco lilás traço preto)

Com licença poética você não pode dirigir, mas pode viajar. Você não pode ter um master card, mas pode ter todas as coisas que não têm preço. Você não pode doar sangue, mas pode doar alma, energia, vida.

Com licença poética você pode levantar da mesa quando o papo estiver lá pelos Ladens de Bush e Lula sem ser taxado de ignorante (afinal você é poeta). Você pode chegar um pouco atrasado sem levar a culpa por isso (já que você é artista).

Você pode mudar seu caminho dez mil vezes (por ser confuso). Pode usar cor-de-rosa com abóbora (pois você é autêntico). Tem o total aval para gargalhar em horas inoportunas (não sabe se portar). Tem descontos incríveis em qualquer tipo de teatro, exposição ou mostra (você é da classe). Pode alterar seus planos a qualquer momento (você nunca sabe o que quer).

Beber além da conta não é um problema (você não se controla). Falar além da conta é totalmente normal (tem tanto pra dizer). Sorrir além da conta é aceitável (ela é otimista!). Chorar também (ele é muito sensível).

Falar de amor pode. De comida pode. De sexo pooooooode. Falar de Luz pode, de Buda pode, de meditação pooooooode. Falar de arte pode, de si mesmo pode, da natureza pode, do outro não pó-dê.

Isto não pode de jeito nenhum. A licença poética te coloca num determinado pedestal social. Você é uma companhia interessante, uma amiga querida, um paquera misterioso, um filho alternativo, um aluno interessado, um colega diferente, um visinho ousado...agora, não venha você com essa sua tropicália modelo 2008 palpitar na vida alheia. Principalmente se este outrem não possuir licença poética.

Embora adorem sua exentricidade, os não portadores desta inteligência artística, jamais aceitariam um conselho seu, afinal, quem tem licença poética não têm o menor talento pra outra coisa que não as metáforas da vida.

Ah sim, há exceção. Eles lhe procurarão quando apaixonados. Com os olhos brilhando de compreenção acharão lindos os seus versos, embriagar-se-ão de seus fonemas, ficarão viciados em seus não-esquemas.

Até que o outro não os seja. Não exatamente aquilo que seu egoísmo fantasiado de amor esperava, então, nessa hora, eles rasgarão seus poemas, odiarão sua falta de métrica e retribuirão seus conselhos com a sentença: "coitado, é poeta".

Peço aqui, oficialmente, licença poética para poupar minha aura do sofrimento barato, oferecer meu coração e meus ouvidos a quem necessite, espalhar meu sorriso por aí a fora e conhecer cada cabide e cada gaveta do mundo, ser amor, dar amor, cantar amor, falar amor...amar!

E, por favor, não se esqueça de me criticar se eu por sequer um instante, esquecer de poetizar.

SAT NAM ;)

17.5.08

Criatura de histórias

Ando com uma necessidade absurda de escrever. Tão absurda que não tenho escrito nada. Embora tenha descoberto.

Ando criando mentalmente textos maravilhosos sobre os mais variados temas: desde a amiga Clarinha, ao lado oculto do Amor, nada tem passado desapercebido aos meus atentos sentidos.

E não é que de repente uma lavoura inteira de coisas passou a fazer sentido!

Ás vezes pesado, outras horas leves, porém, tudo sempre encaixado.

Vou me emocionando com as entrelinhas do dia, a alma do livro, a simplicidade das coisas e o cólo da vida me parece, honestamente, o lugar mais acolhedor da Via Láctea.

Este tipo de coisa deve se dar ao fato - antes raro em minha vida - de um alinhamento total dos chacras. Sim, tal qual planetas, entre nadis e a correria dos dia-a-dias eles encontram algum caminho que a gente sem querer-querendo oferece e "pimba", nos devolvem algumas das mais ricas vivências.

Este tipo de alinhamento é uma verdadeira sensação de encaixe. Ressoa! Como se dentre as 2 toneladas de chaves a gente tivesse encontrado aquela que abre o portal. Como se entre milhares de camisetas com asas a gente finalmente tivesse achado aquela que nos veste tão bem. Até emagrece!

Daí eu sinto, penso, analiso. Filosófo, reflito e faço das minhas horas verdadeiras sessões intermináveis de terapia. Passeio por todas as linhas, faço Yung dar as mãos à bioenergética, coloco Freud olho no olho com Gestalt. Deito o Reike no divã, enfio Pablo Neruda, Clarisse Lispector, Platão e Cazuza todos no mesmo saco.

E danço.

E canto.

Saio fluida por aí compondo obras literárias fictícias completas só sobre o Real Sentido da Vida. Ivento um milhão de futuros. Poetizo todo e qualquer passado. Maquio o que for necessário, perdôo o que não era possível e me inundo de uma coragem leal e concreta pronta pra virar este monte de linhas que não diz nada pra ninguém e, no entanto, diz tudo pra mim.

Pés no chão.

É isso, sou uma autora preguiçosa que detesta fazer revisões, tem horror de trocar tudo que escreve pela versão melhor daquilo. Revisar. Re-visar. Revis-ar. Fico só com o ar. Respiro fundo pelo nariz, me concentro no ponto entre as sobrancelhas e não re-viso (quase) nada.

Prefiro a versão instantânea-espontânea. Quando os instintos estão á flor da pele da ponta dos dedos e o teclado vira o palco perfeito para o dedilhado compulsivo.

Desisto de querer ser mais. Eu quero agora. Quero falar de mim sem rodeios, sem classe literária. Quero contar o que experimento. Dedurar meus passos. Dividir minhas angústias nem que seja com esta tela. Registrar. Poder viver duas vezes, uma eu, outra ela.

Desisto de ser autora, enfim! Eu sou uma simples relatora de mim. E nesse agora só sei ser assim.

Tiro esta carapuça que não me serve e ao invés de vestir a capa pesada da frustração, respiro um alivio novo, certifico-me em "Auto-reportagem". Pros cambáu a métrica, a estética, a tétrica eu que só me crítica.

Sou um personagem real. Sou uma criatura de histórias.

Eu vivo. Eu sinto. Eu delato.

Eu, do meu jeito, pra mim. Pois a verdade é que a gente se esquece de 80% de tudo o que se passa e os outros 20% confundem-se entre si e seria uma pena se eu não lembrasse desse tanto tudo todo tendo tanto todo tudo.

Intensa e sinceramente, de mim pra Eu. Por que se não escrevo, não sou. Já que é nestas inspirações entre uma palavra e outra que encontro cada qual que é em mim.

SAT NAM ;)

Ancore-se e fique para sempre

De repente uma raiva me cavucou. Surtei. Surtei. Surtei. Ela sumiu. Passou. Foi-se pelo mesmo ralo que ela própria havia destampado. Deixou um espaço limpo, novo, aberto, cheio de vontade de alugar-se para uma coisa boa - as partes da gente vez e outra expulsam seus inquilinos mal pagadores e põe-se a exposição para novos.

Cheia de esperança, esta corretora aqui tá atrás de uma coisa bem do bem para morar ali. Num contrato de experiência, apareceu (ou reapareceu?) uma Coisa Boa, dada a sorrisos aleatóreos, papos-furados cheios de dedicação, idéias brilhantes por um mundo melhor e, claro, sempre exalando um cheirinho singelo e intenso de sensibilidade e gratidão.

Bem, talvez eu decida vender este quarto de mim pra ela. Ou este quinto ou este sétimo. O que me importa é que ela vire sócia vitalícia e majoritária do clube-empresa que venho a ser. Joga sua âncora Coisa Boa, esta aqui é sua derradeira morada.

Prometo que se continuar tão emocionante e sincera como vem sendo, dentro em breve sedo-lhe habite-se para que construa um puxadinho. Mais um banehiro até. Quem sabe ano que vem possa adquirir o terreno ao lado e construir uma bela piscina e um exímio espaço gurmet ou atão sonhada salinha de meditação?

Olha, não é da boca pra fora não, Coisa Boa, se você realmente continuar tão confiante, segura e corajosa...nunca negarei-lhe uma gota de meu sangue. De fato, posso até dar-lhe a chave da minha alma, a senha da minha mente, o telefone dos meus maiores medos e você toma conta de tudo. Pode dirigir minha vida com toooodo prazer.

Contudo Coisa Boa, sinta bem seu desafio. As ocilações energéticas proporcionadas pelas coisas loucas suas vizinhas, provocam coisas descontroladas neste condomínio que tanto busca a harmonia e o equilíbrio.

Sem mais, deixo-lhe assim. A lá vonté. Desfaça suas malas, escolha as cores de suas paredes, pendure seus quadros aonde bem entender. Só, por favor, não desanime se a gritaria da vizinhança for até tarde madrugada a fora, se jogarem pensamentos negativos no seu quintal, ou até mesmo murcharem de inveja suas belíssimas orquídeas. É tudo auto- boicote destas repetidoras de padrões.

Contra isso, Coisa Boa, nada melhor que um daqueles seus Nag Champas poderosos, a rotineira saudação ao sol e dá-lhe terapia.

Ah sim, e não se esqueça de mim, que sou muito mais do que a síndica, sou sua fã e consumidora número um, afinal, olhos encharcados de esperança numa qualquer manhã de sexta-feira é incrivelmente Divino.

SAT NAM ;)

10.5.08

Nó Nu

De repente aparece um elefante na sala da sua casa.

Emoções que você nem suspeitava hospedar vem a tona como uma manada de búfalos atropelando todas as suas tentativas de auto-controle, todos os seus esforços pelo equilíbrio, toda a sua marcha pela harmonia.

Sua crença na vida e principalmente, em você e na sua vida, são completamente destroçadas. Do mais profundo esconderijo pandoresco, a ânima solta o cinto e liberta um tanto de um quê que você não queria e nem jamais suspeitaria ser.

Raiva. Raiva fantasiada de ódio, disfarçada de inveja, manchada de crítica, listrada de medo, emoldurada de revolta. Raiva em gotas de um vento roxo que borbulha antigo das profundezas do não sei e transborda novo na garganta onde havia antes um entupimento crônico e congênito.

O chacra laríngeo explode. Destrava o grito prisioneiro que por tantos tempos e quantos momentos foi réu sem julgamento, em fala muda, eco oco, som oculto.

O cólo que se pede no berro, na pata, no peito é um código veramente incompreensível. A não ser àqueles que não reconhecem nessa imagem devastada, a sua. Estes sim oferecem a compaixão, o abraço, a aceitação.

Todos os sapos engolidos, libertados por um elefante. É a cadeia alimentar bizarra da selva sentimental das emoções humanas. Animalescas.

E como se destampasse o ralo interno, escorre em roda-moínho a besta-fera.
E sobra animal ferido, aura cansada, corpo exaurido.

Uma certa Ressaca. Um quê de arrependimento. Amplo alívio.

Na dor, fica tangente o aprendizado. Claro naquilo que não se deseja repetir. Afinal, nem sempre sabe-se o que quer. Mas quase sempre sabe-se o que não quer.

Voltam as cores, nos mesmos padrões, em novos sentidos.

SAT NAM ;)

7.4.08

Ainda que

Pensamentos convulsionados. Uma festa barulhenta de expectativas e memórias, tamborilando seus saltos quinze e seus charutos esfumaçados pela testa.
A espuma do champagne borbulha devastadora, ensurdecendo o que quer que talvez não pudesse, para que definitivamente não possa.
Do que passou, do que virá. Coisas que eram, nunca foram e, de certo, jamais serão ou sequer seriam. Ainda que fossem. Apenas por não serem.
Normais. Encaixadas. Dentro do que se propõe. Muito próximo ao que se espera. Coerente ao que pressupõe.
Contrário àquilo que nem se imagina, tão pouco ousa-se suspeitar. Um risco. Arisco. Arrisco.
Ainda que o medo impere e a vontade assuma querer sumir. Ainda que a preguiça berre, que a ansiedade corroa. Ainda que. Ainda que. Ainda que...
Ainda que não compreenda, não perceba, não entenda. Aceitar é um procedimento cirúrgico, embora cirurgia maior esteja intrínseca no deletar velhas crenças, resignificar, delegar novas.
Algo que substitui outro algo na ânsia de não mais. E ainda que.
Se o muro aumenta, se a paisagem acinzenta, se a coragem falta, se o sofrimento sobra. A vida hora e outra cobra. Não a falta, nem a sobra, senão a plantação que vira colheita após um semear, ainda que.
E quando o olhar escancara migalhas de um ódio difuso, no plano contrário o ângulo de saída parece obtuso. Aguda é a situação, planificada uma qualquer saída, ainda que sem aparente solução. Vida.
Se o coração implora por aquela fagulha livre, a mente pede segurança, porto, raízes. Na mochila não cabe um abraço, ainda que leve diversos amassos.
O não deixar-se dominar, o não alisar-se, o ensimesmar. O mundo que chama, o todo que clama, o ser que não sabe, não sabe, não sabe. Ainda que sendo.
Complicado seria e simplesmente é. Por ser confuso, opaco, misturado e turvo. O foco que falta, o fogo que sobra. E a vida que cobra, não a falta nem sobra, mas a colheita certa. De um olhar cúmplice, de uma mão confiável e da ausência que a não presença destas faz parecer um eco oco no túnel do vasto daqui a pouco.
Ainda que, o mesmo daqui a pouco leve dias, os anos passam, as horas correm e os segundos teimam em voar, só a alma em sua calma lânguida, bebe, cala e ousa não querer parar.

SAT NAM ;)