25.3.08

Eu tenho amigos

Sim eu tenho amigos! Muitos amigos! Caros, raros, claros, queridos. Perdidos, confusos, loucos, sumidos. Assumidos, consumidos, contundidos...mas sempre sempre sempre amigos.

Tenho amigos pertinho, amigos vizinhos. amigos que dividem minha alegria, mas me amam tanto que tem certa dificuldade para lidar com a minha trsiteza.

Tenho amigos que me fazem rir geralmente, embora as vezes me façam chorar. Tenho amigos novos e antigos. tenho amigos do peito, de fé, pra qualquer hora.

Mas hoje, especialmente neste hoje, os amigos que me vem ao pensamento são os que me dão saudade. Saudade de um tempo, sim. Vários tempos. Porém, além disso, saudades mais simples, mais seingelas, mais sinceras...

Saudades de uma risada rouca, de uma gíria inventada, de uma palavra que sempre vem, de um abraço apertado. Saudade do carinho, do telefonema, da voz alegre ou abafada. Saudade da perceria, do olhar cumplice, da viagem super roubada. Saudade do barlho do brinde, quando nossos copos tocavam-se constantemente celebrando mais um momento, mais uma conquista ou apenas mais um copo de cerveja.

Tenho amigo em Toronto, San diego, Nova York, Rio de Janeiro e Porto Seguro. Em Barcelona, Londres, Madrid, Itacaré. Amigo em Nice, em Tolouse, Milão e São Paulo. Tennho queridos em Juiz de fora, Aux Saint Provence, Bolonha e Porto alegre. Gente que eu amo na Austrália, na Índia, em Palmas e Manaus.

Mesmo aqui, nessa minha Camps-city tenho amigos perdidos. Sumidos. Mas não esquecidos.

Amigos pelo mundo todo, saudade globalizada! Onde vcs estiverem está um pedaço de mim, nas lembranças, nas visitas, encontros e desencontros. Na falta sempre presente.

...nos brindes, agora mais raros, onde o celebrar é mais intenso, mais profundo, mais terno...os copos encontram-se no tilintar de uma amizade que nem o abraço mais forte saberia expressar, é o presente da vida, presente por toda vida.

Meus bons amigos, onde estão? Estão aqui, no meu coração. E onde quer que estejam, nosso eterno "tim tim"!

24.3.08

Só sei que havia esquecido por quê escrevo...

Escrevo por necessidade. Escrevo, pois minha cabeça transforma em palavras o que meu coração sente e minha alma espremida tem por defesa vazar. Escrevo quando não cabe, quando o plexo solar fica pequeno pra tanta dor ou tanto amor.
Quando a beleza do mundo me enaltece, escrevo. Quando o horror do mundo me emudece, escrevo. Escrevo quando não sei o que dizer, o que fazer, onde ficar. Escrevo por não saber meu lugar, de onde vim, no que vai dar.
Escrevo por paixão, com ódio, aversão. Escrevo por loucura, aventura, desapego e medo. Escrevo já que não há praticamente mais nada que saia de mim com tanta facilidade como sensações silábicas, em qualquer idioma, entre linhas.
Em momentos que a vida cala, eu falo. Pouco perto do que diria, se compreendesse, embora muito perto do que calaria, se não dissesse.
Se penso, sinto e vivo, escrevo. Não apenas sobre, mas também através, além, aqui. De dentro, de fora, de vento e de hora, escrevo, escrevo, escrevo.
Por entender ou não, por querer ou não, por temer ou não. Escrevo recriando realidades, descrevendo mundos, embora não crie personas.
Delato as que vivem em mim, gritando e gerando seus seres, ora parasitando, ora agregando. Resta-me escrever descrevendo universos ilhados, escancarados, desvencilhados e tão inusitados.
Na tentativa orvalhada de ser, na ousadia encalhada de fazer...escrevo.
Escrevo o que penso ser, na surrealidade de existir. Batucando dedos em teclados, deslizando canetas em papéis, escrevo sendo, crescendo, querendo. Fugindo. Sumindo. Aparecendo.
Escrevo por não. Assim, invento. Escrevo em não sei como, não sei quando, não sei quem, assim, assumo. E sumo! Escrevo, por ter sido este o nome que deram a ação de extravasar em vezes de letras os códigos confusos que o coração sente e a mente, em vão, tenta interpretar.
Se soubesse não escrever, inventava um qualquer desenhar, haveria de fazer saber este meu fazer que só sabe gritar.

E se um dia, novamente, me esquecer por que escrevo, basta lembrar-me que sou.
SAT NAM ;)

18.3.08

mais ou menos

Foi então que ele percebeu-se rindo da televisão. Havia valido a pena parcelar em 12 meses toda aquela parafernália em LCD.

Não que a tecnologia tenha mudado sua vida, porém, nessas horas em que as águas de março vão fechando o verão e o outono chega em tons pastéis, não é qualquer coisa que merece uma gargalhada sonora.

Aliás, neste momento, poucas coisas em sua existência diária eram dignas de algo além de um sorriso blasé.

Levantou-se do sofá naquela lerdesa típica. No rosto um resto de sombra da gargalhada televisiva contrastava com o olhar profundo, um tanto analítico.

Ligou o chuveiro e parou frente a seu espelho para fazer a barba.Fazendo aquela barba que sempre fazia, chegou à uma conclusão que, não tivesse sido cômida, teria sido trágica:

Mais ou menos.

Sua barba estava mais ou menos, não super-bem-feita, tão pouco mal. Sua fisionomia também levava este semblante, nem tão bem como tantas vezes, nem tão mal, como algumas outras. Ele próprio poderia responder, caso fosse perguntado "como estava?" lançando mão da profundidade significativa das palavras "mais ou menos!".

Sentiu tamanha estranhesa em descobrir-se assim que, de repente, gargalhou. Gargalhou pensando que seu trabalho andava mais ou menos, sua família ia mais ou menos, sua saúde, hummmmm, mais ou menos. Seu humor alternava entre mais ou menos pra mais e pra menos. Sua vida social, ultimamente, não poderia estar outra coisa que não "mais ou menos".

Até mesmo aquele seu relacionamento, com aquela garota linda, interessante, misteriosa, ia mais ou menos. É verdade que o sexo era mais pra mais, mas o depois era muito mais pra menos.

Enquanto analisava sua vida "mais ou menos" ele ria. Ria olhando sua cara mais ou menos, naquele banheiro mais ou menos embaçado pela água morna daquele banho...mais ou menos. E enquanto ria e via e descobria, aceitava.

Aceitava que tantas vezes antes, deprimira-se diante desta mesma cena. Aceitava que sua vida já fora mais, mas que também já fora menos e que, assim, ele poderia escolher rir-se do mais ou menos que era muito mais do que entregar-se ao menos.

Escolheu seu melhor pijama, foi até a sala de televisão e, decidido, entregou-se à ela...sua tevê a prestação. Enquanto nada fosse demais nem de menos, ele estaria ali, conectado ao fim e a cada estação. E quando a última parcela vencer e o primeiro raio de verão despontar, será ele o cara que MAIS vai aproveitar!

SAT NAM ;)

4.3.08

De volta a transpiração

Segundo a Antroposofia, nossa vida é dividida em setênios. Embora cada indivíduo tenha um script único e orginal, há um certo padrão, numa incompetência inconsciente, seguido por todos.

Em cada um destes períodos o desenvolvimento está relacionado à maturidade e auto-conhecimento típicos de cada idade e a evolução que as experiências até então vividas proporcionam.

Assim que, aos 28 anos - sob o manto desta teoria - todo ser humano sofre algum tipo de impacto relacionado a sua carreira profissional. Ainda pelas palavras dos estudiosos desta ciência, nesta idade a pessoa, estando ou não realizada profissionalmente, depara-se com alguma situação que a coloca em conflito em relação à suas escolhas, o presente e o futuro.

O resultado disso é nada mais que outra crise. E tudo porque, de agora em diante, o Universo suspende a forcinha extra que oferecia em forma de esperanças sem fim, ilusões bélissimas e sonhos e planos e projetos lindamente utópicos. É nessa idade que o incendiário vira bombeiro.

É mais ou menos como se o Universo tirasse as rodinhas da sua bicicleta. Enquanto você está lá titubeando na primeira nova pedalada, chega uma fadinha bêbada bem malmorada e malcomida e te diz: que sorriso é esse aí ô bobalhão??? Tá achando que é bacana??? Agora é contigo, tu, tu merrrrmo e Irene!

Não mais do que de repente, puft! Você leva um tombo. Cai da nuvem. Seus planos tão delineados em letras de mão garranchada no caderno das manifestações, viram uma linha vã no horizonte e sua cabeça abre telas e mais telas mentais com as mais esdrúxulas perguntas.

Como se fosse uma multinacional oferecendo vagas concorridíssimas, sua mente obriga-o a responder questionários como aqueles dos curriculos on line. Onde vc tem 100 opções para funções, 8 espaços para experiências anteriores e pelo menos uns 5 para "outros idiomas".

Palavras como "foco", "viabilidade" e "impossível" vestem fardas inglesas e metem-se entre você e seus sonhos com garras enoooormes e sopros devastadores que é pra você ver melhor quem (não) é.

Ninguém nunca vai descobrir o valor de seu talento especial para costurar bolinhas vermelhas em panos pretos quadriculados, criando uma verdadeira poesia têxtil. Muito menos achar que seus acordes normais num violão descascado merecem algum tipo de atenção que não seja um lual entre amigos. Ou que suas palavras desenhadas muito mas nas "entre" do que nas linhas, fazem realmente qualquer sentido para o mundo.

Então, a casa cai. Muita gente pára por aí. Desiste de um talento que poderia ter sido. Deixa pra lá. Transforma em hoby (as vezes até um de seda vermelho). Guarda na gaveta do quem-sabe-um-dia. Prega sua melhor peça, com taxinha, na cortiça das lembranças, como se aquilo não tivesse passado de um tempo bom.

A inspiração some. A expressão retrai-se numa vergonha dilacerada na carne, que toma agora a forma de uma pretensão infantil e egocêntrica. Dezenas de artistas desfazem-se de pincéis, câmeras, teclados, pianos, almas e sorrisos na aceitação errônea de um fato: o de não ser nada de mais!

Entre as características dos gênios está a não aceitação deste fato, o que realmente torna-os, ao longo de todo o sempre, especiais.

Aos meros mortais, sobra a possibilidade de aceita-lo, envolvê-lo num suspiro insano e impulsivo de coragem e seguir adiante, exibindo sua poesia têxtil, seus acordes ocos e suas palavras sem nexo à um Universo onde nunca se sabe quantos corações poderiam ser tocados por músicas que nunca foram compostas.

Enquanto houver no todo qualquer um que possa me ler, sou, eu todo, um qualquer a escrever.

SAT NAM ;)