21.6.09

Tenho uma mão no bolso e a outra pedindo carona pra lua


Indecisão pra que, se a decisão final não vai ser minha
Mudo meu mundo num segundo por um olhar daqueles
E tudo vai ser eu e você
Mais pra quê?

Mas, pra quê tanta demora em aparecer?
Se atrasou pra formatura,
Esqueceu do tempo, que passa
um primeiro fio de cabelo branco me ameaça

Que graça tanta toda esta tua que eu não sei qual é
Se estou aqui, se vou pra lua
Vou pra onde tu quiser
Meu mundo novo num segundo por um olhar daqueles

Essa saudade que eu sinto
Dessa distância que não calculo
me deixa indecisa
mas, juro

Tiro a mão do bolso
desisto da lua
se pra sempre minha alma for tua

Sat Nam ;)



20.6.09

I wish

I wish I could write, I wish I could sing
I wish I knew who you are right now
I wish I could draw, I wish I could paint
I wish I could play the guitar just to say how much I love life

I wish I could fly, I wish I could shine
I wish I could hug and hug my dog now
I wish I could go out, I wish I could sleep
So I could dream the dream about how much I live life

I wish I meet the perfect guy
I wish I have two sons
I wish flight tickets were cheap
So I could live around the world

I wish I am a poet
I wish I write a few books
I wish I change the world
and I wish I can be with you

I dream about this day
When wishes go away
I feel the peace and love
So I can say how much I live life

Sat Nam ;)

19.6.09

Sorria, você está sendo filmada

Estou sendo observada. 

Testada. Rotulada. Calculada. Marcada. Anotada. Numerada. Carimbada. Avaliada. Checada. Revistada. 

Querem saber o que eu levo na bolsa e na alma e ainda dizem: sorria, você está sendo filmada! 

Estou sendo invadida. 

Impedida. Compelida. Resumida. Reprimida. Consumida. 

O mundo. A sociedade. A porra da CCTV. Não são eles que fazem isso comigo e nem com você. É este grilo falante sem categoria e discernimento que reside em algum recôndito da (in)consciência humana e carrega nosso DNA de culpa e necessidade de se encaixar.

Enquadrar. Grilo quadrado e careta. Buzina quando demoro pra fazer a baliza. Apita quando cometo uma falta. Grita quando piso no seu pé - foi sem querer, cara! - e chora se passo da medida, do peso, do limite socialmente aceitável.

Que paciência pra aparências e o que os vizinhos vão pensar? Vamos falar alto, beijar na boca em público, derramar nossa criatividade.

Quem falou que eu tenho que saber das leis de mídia Inglesas? Quem disse que eu preciso saber onde vai a vírgula dessa língua louca? Denigram minha imagem, difamem minha reputação, mas eu juro que só faço isso por obrigação.

No dia seguinte da prova vou esquecer. Decorar 7 poemas e nunca mais lembrar que a section 11 do Sex Offences Act de 2005 protege a identidade das vítimas de abuso sexual.

Dinheiro pra pagar o aluguel. Nota na prova pra ganhar dinheiro pra pagar o aluguel. Faculdade, pós-graduação, línguas, computação. Metade sabedoria, metade obrigação.

Na faculdade da vida todas as provas são surpresas, todos os dias tem chamada oral e se você não tiver 100% de presença, vai se arrepender. 

Este diploma não dá pra enquadrar, tampouco pendurar na  parede. 

Pass, merrit ou honors, neste caso, é uma questão de escolha, luta, disposição. 

Não tem teste. Ninguém precisa provar nada a ninguém. A não ser ao travesseiro, na hora de dormir. 

Julgada. Denominada. Dominada. Esmagada. Estresseda. Pressionada. 

Estou sendo filmada e me deixando levar pela correnteza paranóica do medo de ser reprovada.

Melhor ir. 

Vou estudar, vou trabalhar. Depois eu conto, sem desconto, como foi passar, pagar o aluguel e nas férias viajar. Casar de branco, ter filhos lindos e educados, colocar botox e sair na coluna social. 

Dizer pro mundo que a alma coube na gaveta do criado mudo.

Desculpe, é que estou sendo filmada.

Mostro a língua, dou uma gargalhada. Passo até perfume e saio bem neste retrato. Pago o aluguel, dou o coro no trabalho, a cabeça não pára. 

Bico a gaveta, chuto o pau da barraca e sorrio. 

Foda-se se estou sendo filmada.

Tenho uma mão no bolso e a outra pedindo carona pra lua.

Sat Nam ;)




2.6.09

No berro

Estava andando por aí e alguém me pediu - no mais embromation english style - informação de uma rua.

Falei uma vez e o cara continuou com cara de tacho. Falei outra, desta vez apontando e ele nada. Falei a terceira e ele finalmente balbuciou 'no english', pelo que suponho, era Árabe. 

Na décima sétima tentativa eu já estava descabelada de tanto gesticular e semi-afônica de tanto me esguelar na tentativa de fazer-me entendida.

Lancei um 'I am sorry' simpático e fui assim, meio de lado, já saindo, indo embora antes que perdesse meu último fio de voz.

Enquanto ia ajeitando o penteadinho todo desfeito e expulsando o bichinho do ahã-rã que se instalara na minha garganta, pensei: bixo, porque é que a gente grita quando alguém não entende o que a gente fala?

Com coisa que se alguém falar Euskara comigo no mais elevado dos decibéis eu vou ser capaz de captar alguma coisa. 

De repente passou uma sirene, não uma sirene qualquer, uma sirene Londrina. Você já ouviu uma sirene Londrina? Nem queira. 

A parada é um misto dos agudos da guitarra do Jimi (Hendrix), mais os altos tons da Suzan Boyle distorcidos mil vezes por um engenheiro de som completamente surdo, cafona e fã de Byoncé.

Enquanto a sirene ia berrando e abrindo espaço fiquei imaginando se as coisas fossem assim, se em vez de usar argumentos, exemplos, força de vontade e inteligência, bastasse qualquer pessoa gritar bem alto quando queria alguma coisa e pronto.

Quando será que o ser humano percebeu que o leão não era o rei da selva por causa do rugido?

Me senti uma mulher das cavernas. Toda arrependida, voltei atrás a procura do suposto Árabe. Ele contnuava lá, estático, no mesmo bat-local. Desta vez era uma senhora que gritava qualquer coisa que ele não entendia.

Cheguei com jeitinho, olhei bem nos olhos dele e falei com calma em português: eu não sei falar sua língua, mas vou explicar devagarinho. Ele fez que sim com a cabeça e fui apontando, mostrando, tirei um papel da bolsa e, literalmente, desenhei.

Não sei quando o ser humano fez a transição do grito do Tarzan pras pinturas nas cavernas. Sei menos ainda como o Árabe consegui entender meu mapa que mais parecia uma árvora careca.

Só sei que ele foi. Sorrindo. Pareceu mesmo ter compreendido. Me olhou no olho, agradeceu e saiu, me deixando ali com o desenho tosco na mão e uma sensação de plenitude que só um dia de sol sabe causar. Uma sensação que não se descreve.

Algo entre gratidão e alegria. Empolgação e nostalgia. Quase como uma ficha que cai. Um sim.

Ainda que os momentos mais divertidos sejam experimentados no volume alto da balada, do show, da euforia,  os mais profundos são vividos em sussurros, olhares e silêncios confortáveis.

Quem tem boca vai Roma. Quem tem respeito vai a qualquer lugar e quem se importa com o outro vai a um lugar que só alma pura e verdadeira consegue alcançar.


Sat Nam ;)