15.11.09

Já que ando sem inspiração, vou serrando a alheia:

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Fernando Pessoa

14.11.09

SPP

A vida me inspira e nunca acho tempo de sentar a bunda do dedo no teclado e destrinchar as estapafúrdias idéias que insandessem meu pensamento. Uma pena. A gramática começa a me fugir. Minha nova dialética é composta de várias línguas. Cada idioma diz melhor o que sente e quanto mais palavras aprendo mais sinto plena na tonelada infinita do que quero expressar. E não faço. Assisto de camorote as idéias passarem batido. Textos inteiros construídos no metro que se desfazem na poeira do dia que passa ligeiro. Tempo devorador de letras. Nem reciclar eu consigo. Sai o primeiro parágrafo não sai mais nada e tem tanto. Há uma frase. Há muitas frases. Conexões e grandes verdades que meu egoísmo ansioso de chupar o agora até o caroço, jogou fora. Olho pra tela branca. Gente de cabelo azul, sorriso melancólico, olhar misteiroso, futuro incerto, presente duvidoso. Todos os personagens numa aquarela ao meu dispor. Misturo as tintas das vidas de gente que não tenho a mais vaga noção do que faz. Piro e crio. O casal que vai se despedir em breve. A criança que vai ser feliz. O cachorro que sente no estomago o vazio que a falta faz. Não consigo mais deslizar os dedos. Tudo ficou complexo. Escrever já não é mais como era antes. Na urgencia da obrigação nosso relacionamento se desgastou. Sinto uma ponta de frustração. Um bocado de medo e um certo alívio. Talvez eu não seja mesmo escrevinhenta. Quem escrever de verdade não delira sobre não conseguir escrever. Ou delira? Só sei que estou com a síndrome do primeiro parágrafo. Sendo assim não posso mudar de linha.

Sat Nam ;)

5.11.09

Uma poesia

Uma poesia, em troca:

"Contra o tédio que azucrina,
Imagine um mergulho na piscina,
um sucão de tangerina,
uma velha e boa vitamina
(...e inspire profundamente em 3).

Contra essa angústia assassina,
inaugure uma nova rotina,
vire o quarto, troque a cortina
compre begonias na esquina
(...e expire suavemente até 5)
E se ainda assim a cabeça alucina,
se a alma esfarela de tão fina,
ah,não, relaxa menina.
e lembra da canção
que ensina:
ser triste é opção,
não é sina! "

by Tadeu Santomauro, meu pai!

Sat Nam ;)

3.11.09

Trombei a inspiração no metro. Num momento Tanto Faz. Agarrei-a pela cintura de modo a não perdê-la outra vez. Ela me olhou de lado, já saindo, indo embora e disparou: "Essa coisa de disciplina funciona pra aprender alemão, tirar barriga, mas pra escrever? Vou por aí atrás de um boêmio com libertinagem no sangue, alma nos olhos, poesia no viver. Alguém que me detone a aventura, faça cócegas nos medos, cague pra rotina."

Fiquei eu lá, assistindo ela saltitar pela saída do vagão. De ansiedade em punho e nó no coração.

Sat Nam ;)
Mais um abominavel dia util e eu so queria bundar. Quem me dera desencanar. Sou uma encanada de carteirinha. D'um encanamento umbilical que nao desentope. Entorpece de encanacao propria, masoquista, paranoica. Ai que tesao por esquecer de tudo, virar pro lado e seguir dormindo. Que dia e esse em que o almejo mais profundo e desligar o celular? Aiiiiiiiiiiiiiiii. A paciencia deu a mao pra sanindade e foi pra Fiji. Sobrou a chuva caindo da janela, uma irritacao que nao vai - nem racha - aquela velha balela blablablazenta de reclamar com a barriga cheia. Terca-feira chuvosa e fria foi feito pra ser inutil. Quem dera meu livre arbitrio pudesse declarar feriado. Ou guerra. Esse berulho que vem de todos os lados, do pensamento non-stop, do telefone non-stop, dessa gente non-stop. Que caralho de inercia non-stop. Mais um abominavel dia util sufocando a poesia, dando mata leao na inspiracao. Filme, chocolate, pipoca. Silencio. Silencio. Sileeeeeeeeeeeeeencio. E o mais proximo da paz que consigo vislumbrar. Ainda sim 8 horas e toda minha noia me separam dessa terra longinqua onde nada perturba. Nem acontece.

Mais um abominavel dia util. Saco!

Sat Nam ;)
A Paz não é um sentimento constante. Ela vem em pedaços infinitos entre os espaços de tempo. O segredo é percebê-la quando aqui e acolhe-la deixando tudo ao redor acontecer. Quiça a paz tenha um tanto de fé. Certo é do quanto tem de inspiração. Daquilo que é medo das consequencias que talvez nunca existam, faz-se confiança e deixar ser.

Sat Nam ;)

24.10.09

Fim de festa é sempre assim. A noite nunca tem fim e porque que a gente é assim. De volta da nossa festa de formatura. Canudo na mão. Mestrandas em Queimção de Largada - com ênfase em Queimação de Filme. Módulo 2: Há um segundo tudo estava em paz. Um verdadeiro workshop ministrado pelas próprias oradoras da turma. E depois não diga que eu não avisei. Era pra ser uma brejinha só, cacete. O que foi que aconteceu? Quem sabe sabe, quem bebeu bebeu. Da água que passarinho passa longe. Escreveu não leu ficou lelé. Já é. Pasalix. Tenta, rebuxca, faz com força pra achar aquela linha tênue que separou e cê não parou. Caralho! Há um segundo tudo estava em paz e a bolsa cadê? Cadê o que? O pedaço que cola e explica. Mas e dae? Hoje é sexta for god'sake.

E hoje é sábado. Ufa!

Sem Sat Nam ;)

17.10.09

...

É uma linha tênue. A que separa um segundo do outro. O que estava e o que acaba de acontecer. O dia amanhece novo. Frio na barriga. Novidade demais cansa. Hoje vou fazer poesia. Mesmo que não rime, que não saia, que não seja. Uma confiança inédita. Uma antiga vista de um novo ponto. Em revelar-se reside a beleza do encontro. De almas que procuram sorrisos. Escancaram medos. Bebem pra esquecer. E ser. No erro mora o acerto desaertado, torto e cheio de vontade de ser aceito. Acerto? Do que? De contas que jamais serão expressões, a não ser do que tentam esconder. Que seja. Que veja. Que venha. Sem senha. E que tenha coragem, disposição. Que tenha um milhão de gotas indivísiveis para dizer que isso que agora sufoca, menos hora se desprende. Entuba. Na crista da onda que a gente dropa, administra e insiste. Num carinho desconfiado. A surpresa daqulio que chega e nunca se sabe. Arrisca. O que os frascos não revelam, fragrâncias sensíveis que a alma tem sutileza ao desvendar. Devanear. Devagar. Instantes de momentos de pessoas de histórias de querer e de não querer sofrer. Instantes de uma vida toda de histórias de pessoas inteiras ou pela metade e ainda ali, aqui, por perto, ao redor. Ao lado quando sim e quando não.

É uma linha tênue a que separa.

Sat Nam ;)

6.10.09

In English

A verdade é que tenho medo pra caralho de escrever em Inglês. Ok, Sorry About That. Meu blog novo, versão in English. Tecla sap. No subtitles. Mas na hora de ir lá...acabo vindo aqui.

Ando conhecendo uma gente nova. Uma gente que não faz idéia de quem eu sou basead0 em de onde eu vim. Uma gente pra quem ser Brasileira não acessa grandes padrões reais, senão apenas alguns 'arquétipos' fajutos dos quais minhas não-idas a academia me eximem.

Paulista. Do interior. Campineira. Do Cambuí. Nada disso faz sentido pra essa gente nova e numa dessa encontro a velha Paula, mais ela do que nunca.

Na tricotagem de encontrar gente que veste a carapuça de uma outra cultura, um labirinto de possibilidades se abre e eu me encolho: não sei se quero me desvendar.

Tirar do bolso todas as minhas fragilidades em Português bem delineado. Demonstrá-las mais ainda num Inglês singelo onde a quantidade de palavras razoavelmente administradas não corresponde a altura e a velocidade dos pensamentos, das lágrimas e sorrisos dos neurônios latinos.

Não sei , não sei. Deveras. Deveria. Seria de fato aceita. Mas não quero. Se posso ser eu mesma com mistério, metáforas a parte, eu quero.

Não gostaria de tirar a graça de todo esse breu que envolve esses encontros novos. Desprovidos daquele julgamento batido. Estampado. Natural. O que foi? O que será? Pouco importa, se é.

Análises que surgem de outras formas de absorver o mundo. Privilégio.

Entre olhares Brasucas, criados sob mesmo censo que eu, um senso mais próximo do meu, é interessante deslizar entre quem sabe de que camada social faço parte e tudo o que isso significa e quem está aprendendo há pouco sobre ser e conviver em camadas sociais e o que tudo isso não significa.

Acho que vou desmantelar o padrão. Be quiet. Shut up. Private entry only.

Sat Nam ;)

16.9.09

Londonville

Hi Carol! Welcome to Londonville. After you have enough coins to by your ticket, enough information and someone to be your neighbor, you can get into the plane and fly to Londonville.

Oh, you have an Imigration Border Office request: you need a visa, some money - not coins - and a reason to be in Londonville.

Congratulations, Carol! You were awarded zero coins - in fact you are poor now - and 1000 experiences for those first tasks. You are now considered a Fresh-Londoner.

Wow, one week in Londonville and you already have two requests: find yourself a house and a job. You have no gifts, however you were awarded a Social-Londoner since you have met more than 20 people.

Hey Carol, one month later and you are a Worker-Londoner. You found yourself a house with ten pople in zone four, you found yourself a job as a waitress and you got to know 5 non-brazilians (apart from the 50 brazilians you are already really close to).

Six months Miss Carolina! Londonville is happy to award you with some coins, a lot of tips, a second job as a bartender and loaaaaaaaaaaaaaads of friends and trips. You are now what we call Non-Londoner-Londoner.

One year goes fast, righ, Carol? Your English is much better, you know around 30 'European' people, 67 Brazilains and you have your own room! You have gained two billions experiences, a good amount of coins and culture and the best friends in the whole world. You have lived London life with all you heart and we are happy to give you the Londoner-World-Citizen Ribbon.

However, now we have an important request to you: to keep on with Londonville you will have either to renew your visa or get your European citizenship. You will spend a lot of money, you will lose a lot of sleep and you will have to try hard. Are you up to it?

Congratulations Caroliiiiiiinaaaaaa. You passed your second winter. You travelled to more than 20 countries. You met more than 300 people from all over the world. You had several boyfriends. You cried a whole river of tears. You laughed kilometers of smiles. You went to amazing concerts and had wicked nights-out, house parties, exhibitions and Pub-events. You have a better job. You used to do your shopping- therapy at Primark and now you can afford Top Shop and Zara. You learned how to cook. You got used to kind-of-warm beer. You have 4000 hours inside the tube and 1300hours in double-deck buses. You had your long-suffered-distance realtionship. You are completly ok with the left-hand and with the 'British Accent'.

You have accumulated 11trillions experiences. 1million pictures. Infinite stories to tell. Loads of adventures and now...and now...and now...we do not know what to do with you anymore!

***Em homenagem as minhas amigas Carolinas - todas que dividiram e dividem Londonville experiences comigo: Carol Vespoli (Best), Carol Ursulino (London sis), Ana Carolina Zanetti (Alice in Wonderland), Carol Landrino (ou, Londrina - umbrella holder) e Anna Carolina Gomes 'Caca' ('querida, chueguei!').

Paula iss offering you a londonville thanks from the bottom of her heart :)

Sat Nam ;)

14.9.09

eh sempre assim...

Voce estuda. Faz faculdade, pos graduacao, fala 3 linguas fluentes. Eh comunicativa, estilosa, boa pessoa. Amiga, prestativa, sempre ajudando os outros. Le, ouve musica, ve filmes. Trabalha, viaja, conhece muita gente. Da bom dia e diz muito obrigada. Trata a todos com respeito. Lava, cozinha, faz compras. Se depila, corta seu proprio cabelo, tira a sobrancelha, compra uma roupa nova. Faz de tudo pra ser voce, cada vez numa versao melhor e mais evoluidade. Faz yoga, medita, reza. Se importa com as pessoas que fazem parte da sua vida. Ama a natureza. Vive intensamente e de verdade.

E no fim, ele acaba saindo com aquela outra, que nao eh nada disso - ou quase nada disso - mas que eh gostosa.

1.9.09

cha-teada

Porque as vezes o sentido some. O chão falta. A piada não tem graça. A comida não tem gosto. Porque não tá legal. Porque não tem motivo. Porque não tem razão. Porque não.

...

28.8.09

Já era

É o fim de uma era. Despedida da casinha. Um ano. Doze meses. Fim das férias de dois meses que me dei depois do fim da pós. Cinquenta e duas semanas. Maíra entregou a tese. O verão está no fim. As folhas começam a cair. O vento vem gelado, deve vir do Pólo Norte. Carol voltando da viagem da Croácia. Cacá e Karina ja fazem total parte do nosso dia-a-dia - e dos nossos London hearts, que dos Brazilian já faziam. É o fim de uma era incrível, irada, inesquecível. Well done. Bom trabalho pra nós. Quatro estações de mais um ano se passaram e hoje, neste dia em que construímos um puxadinho novo em nossas jornadas, a vida sorriu pra nós.
De repente me deparei com a mulher que um dia eu queria ser. E eu que achava que a encontraria num templo da Índia, numa praia da Indónesia, em qualquer lugar do Brasil, vi a cara dela na janela respingada de garoa, num ônibus apertado indo pro subúrbio de Londres na hora do rush de uma sexta-feira.
Enquanto vislumbrava todo o desbunde de um arco-íris que se fazia mágico no céu confuso dessa cidade contraditória e agradecia sem palavras o sagrado instante da existência inteira, o foco do meu olhar tirou o zoon de tudo. E entendeu qualquer coisa que não sou capaz de explicar.
Será que essa menina no celular reparou no arco-íris? Será que esse cara me empurrando está vendo essa beleza? Aquele tiozinho de olhos fechados, pescando de sono depois de um dia pesado, aquela moça lendo seu livro nesse transito engarrafado, o cara com o skate, o casal de namorados, o bêbado exalando álcool...será que eles estão percebendo e absorvendo todo esse sorriso da vida?
Me deu uma vontade danada de gritar: Ei gente, vocês estão vendo esse arco-íris?
Mas eu não gritei. Quantos arco-íris as pessoas deixam de ver a toda hora? Os intantes sagrados, o milagres de cada momento. Porém, ninguém ensina nada a ninguém e por mais que eu quisesse muito dizer aqui que realmnete gritei no meio do busão: "Hey everyone, look: A raimbow!" não sei porque não o fiz. Talvez porque a maioria das pessoas ali não fosse dar a mínima, talvez porque pra quase ninguém isso seja mesmo importante. Embora eu ainda ache que deveria ter gritado. E não gritei.
Fiquei me derretendo por aquelo tudo sozinha. Se tivesse um canudinho bebia ele inteirinho. Enquanto levava meu lero entrelinhado com Deus, segui ali lelé, ouvindo Lulu e simplesmente sendo.
Aquele reflexo no vidro respingado do busão apertado admirando sem palavras o sorriso do tudo. A mulher que eu sempre quis ser. Agradecida pelo o fim de uma era magnífica. "Fazendo da minha vida sempre o meu passeio público e ao mesmo tempo fazendo dela o meu caminho só. Único." É, eu abandonei a velha escola! Tomei o mundo com vodka e energético. Agora não posso mais parar.
Desci do busão, levantei o braço esquerdo abaixei-o por trás da cabeça e me dei três tapinhas na costas, como a Clélia me ensinou a fazer. Parabéns Paula, vc mandou muito bem!
Vim correndo pra casa, pra não esquecer tudo isso aqui que eu queria escrever enquanto espero meus queridos daqui e me conecto com meus queridos daí (Brasa) em um - ou vários - brindes a uma era que já era. E foi demais.

É o fim de uma era e o começo de uma nova.

E quanto a nós? Continuaremos sendo.

Sagrado momento!

Sat Nam ;)

Ps: Obrigada a todos e cada um que participou - mesmo sem saber - deste capítulo da minha história. Eu sou porque vocês são :)

24.8.09

Vampire

Tem dias que ela está assim, como um vampiro dentro de mim. De repente se encontra oca. Sem vida, sem água na boca. Fazendo rimas opacas. Procurando desesperadamente qualquer coisa, qualquer pessoa, qualquer lugar. Qualquer algum motivo que mostre onde fica este vampiro pra que ela consiga enfim se livrar.

Respira fundo. Vai caminhando por vielas e avenidas se forçando a enchergar a vida. Esta que ela sabe que é bela, mas que o vampiro teima em sugar.

Do nada, ela tornou-se uma peneira. Nada penetra. A existência está a escorrer. Como se tudo valesse um tostão. Como se ser fosse uma ilusão. Como se todas as cores, todos os perfumes, todas as dores fossem blasés.

Ela está raza sem compreender ao certo a razão desta guerra que se trava entre ela mesma e seu coração. De onde vem estes pensamentos cancerígenos? Se soubesse o foco causava uma revolução.

Nunca mais acordava vazia. Nunca mais caía da nuvem. Nunca mais sofria, já que não sabe ao certo o que é sofrer.

É que não falta algo. Já que há tudo. Mas essa guerra vampiresca é injusta. Suga sangue, uma vez a cada quatro luas. Sangue suga toda vez que volta pra realidade. Devora a vontade quando dá um nó na garganta que vem de um pé na bunda e resulta num coração quebrado.

Embora o esforço seja grande desta vez ela tampa o ralo. Não deixará escorregar-se em papel de vítima. Ela sabe - e não vai mais esquecer - que a vida é perfeita.

Compra um colar de alho. Uma estaca de madeira. Espera o sol de amanhã raiar. O vampiro vira cinzas. Tem paciência. Foca na fé. Corta a unha do pé. Limpa o banheiro. Ocupa a cabeça e deixo o tempo passar.

Em dias de vampiro dá um gosto imortal. É que quando a morte esquece o conselho a vida fica banal...

Canta que os males espanta e o boi da cara preta - que é o best do vampiro - tem medo de canção de ninar.

Nesses momentos em que parece que ela fez botox na bochecha, o pobre do sorriso não acha jeito de sair. A lágrima teima em querer desabar. A alma enfim consegue sentir.

Isso também vai passar.

Sat Nam

Memória Mar

Porque ela acorda sorrindo e dorme chorando. Todo dia tem que ser especial. Qualquer coisa que a faça feliz, mas que não seja pouco que ela merece muito. Porque um pedacinho só acaba muito rápido e ela não sabe mastigar devagar. Mesmo pras coisas mais banais, pra ela é tudo ou nunca mais.

Ontem ela disse pra lua que precisava de carinho. Hoje ela acordou alegre e foi dormir irada. Amanhã, quem sabe? Vai comprar um violão e sair por aí inventando acordes, embaraçando dedos e tentando (em vão?) desentupir o coração.

Conversando com o mar ela fez mais algumas sinapses. Mentais, neurológicas, atômicas e espirituais. Teve idéias: juntar cramberry juice, sprite e vodka; dar consultoria para viagens ao mundo da lua; compor a primeira musica muda e desenhar um guarda sol que dobra em quatro.

Teve a idéia de dar uma festa; começar um curso de italiano e ir ao show do Coldplay. Teve também insônia, entrelinhada por toda esta ansiedade que leva de pulseira e não tira nunca, muito menos pra dormir.

Mais uma vez olho pro céu encontrando com o mar. Aquele infinito de silêncio. Pensou que é lá que a paz deve estar. Contemplou. Cochilou. Sentiu o céu queirmar seus olhos. Viu um, dois, três meninos interessantes e misteriosos passar. Embora não tenha achado muita graça.

Bebeu umas e outras e ainda mais umas e mais outras e chegou a conclusão de que quer um par. Alguém pra dividir um pote de sal, pra dizer que ela exagera no sol, pra compor-lhe uma música em sol maior.

Olhou de novo o mar, enchergou uma estrela sozinha. Outra ao seu lado. emanou carinho. Comeu paeja, tomou cerveja, deu risada e conselho. Passou o dia jogada, passou calor pra caralho, passou um tempo maneiro.

Enquanto ela tropicalizava seu life style e ensaiava os proximos versos que insistiam em pipocar eufóricos, a caneta faltou, ela não anotou e esqueceu todos os tantos segredos que o horizonte deixou-lhe escapar.

Talvez fora isso. Quem sabe a consequência do estômago. O cheque errado. A burocracia idiota. O medo da solidão. A boa e velha irritação mensal. O não aumento. A falta que sobra. A eterna insatisfação.

Só sei que ela acordou animada e vai dormir sufocada pelo verso que não sobreviveu. Pela palavra que deixou escapar. Pela parceria que aconteceu e pela que não consegue mais doar. Pela gratidão que se encolhe nessa hora em que ela só deveria confiar.

O mar, ah o mar. Mas a memória, xiiiiiiiiiii...tá mar!

"Quem só quer vencer se priva da Glória de chorar" (marcelo camelo)

Sat Nam ;)

14.8.09

Aumenta o som do ipod...

Todo mundo faz parte do meu video-clipe. Conta pra pagar. Despertador. Bolo de paquera. Palpite furado. Pára o mundo que eu quero escrever. Nada da rotina sufocar a poesia. Que dia! No meu filme eu sou protagonista, diretora, roteirista e co-produtora. "Co" sim porque a função de produzir na realidade é DELE. Eu apenas assisto. Não com bunda sentada no sofá. Mas dando a assistência necessária. Jogando na loto. Trancando o carro. Olhando pros dois lados antes de atravessar a rua. Na pelicula alheia posso ser figurante aleatórea. Por vezes figura notória. Porém na minha, meu amigo, eu sou Thumb Rider e Ciderella e quero ver quem vai ser homem de me encarar. Com charme. Aumenta o som do meu ipod. Não fode. Não pode. Vêja lá se sou mulher de receber recado. Sou psycho. Sem paciência. Não aturo, mas copero. A moça de calça xadrez. O cabeludo recalcado. A escurssão de crianças (no plural, affff). A turistada danada. Todo mundo ali, fazendo fundo pra Vanessa que me Mata trilhando esta manhã tão linda no túnel do metrô tão afundado. Passa um, outro. Corta. Eu escolho quando a cena para de valer. Tá uma bosta. Saca só. Joga fora o que não presta. E nada de voltar e passar outra de novo. A sorte só bate na porta uma vez. Depois não me volte com as mesmas notícias. Não me venha cheio de sorrisos e mensagens. O menino de olhos verdes sorrindo. Onde é que estes gatos que eu vejo pela rua saem pela noite? Devem virar o Batman e salvar o mundo. Podiam me pegar pra uma volta de Bat-Móvel depois. Mania esta de arrumar enrosco. Encosto. Se mexe. Pra dançar créu tem que ter disposição. Tá pensando que vc é o único? Sorry darlinzinho, tu não tens uma migalha do cacife que um cara tem que ter pra me levar pra jantar. Eu e minhas amigas somos do tipo Ó-mais-do-que-positivo. A gente é ótima. Aumenta o som do ipod. Pode. Pode. Opa se pode. Só não pode ser cafona. Como essa moda horrorosa de unha francesinha no pé. Que pé de chinelo. A gente é de um tipo tão A, tão acima, que nosso problema não é nem de longe a falta de homem no mercado. Até porque a oferta é gigantesca. A questão é chegar a nossa altura. A gente tem muuuuuuuuuita disposição. A gente tem tanta habilidade. A gente faz tudo (tudo!) na velocidade 7. E ainda somos independentes, bem resolvidas e irresistíveis. Portanto não seja ridículo. Não perca sua chance. Aumenta o som do ipod. Rebuxca na melodia. Você aí assobiando, não sou pro teu bico. Mas pode olhar que não arranca pedaço. E caso eu me apaixone, não se preocupe comigo. Eu sei me cuidar. Eu sei me jogar, e você honey, se não se esforçar vai ser mais um que vai passar. A sua fila anda? A nossa não, porque a gente não é democrática. Pra dançar créu tem que ter disposição e pra ganhar nosso coração tem que ter originalidade, sinseridade, vontade e uma tremenda dedicação.  Tem que falar de paz, amor e filosofia. De cinema, de música, de arte e de poesia. De lugares, luares, plurales. Pra vir ser nosso mocinho não basta ser galã. Tem que ser parceiro. Por que a gente quer um par. Senão? Melhor ter sorte e ser sortera!

Sat Nam ;)

Aumenta o som do meu ipod, todo mundo faz parte do meu video-clipe...

12.8.09

Encontro Sagrado

Sagrado momento. Porque tudo é sagrado. Este momento dentro deste instante. O instante dentro do momento. Instante Sagrado. Momento Sagrado. Sagrado porque é agora. Sagrado. O momento, o instante. Sagrado. Sagrado encontro em movimento. Sagrado momento.

É inaceitável que toda vez que uma Luiza encontre um Pedro exista mais sofrimento do que alegria. Porque Carolinas e Gustavos não se podem entregar? Quantas Julianas, quantos Guilhermes, quanto medo, quanta dor, quanta defesa. Onde foi parar o desejo da aventura do amor?

Luciana conhece Rafael e bota na cabeça que ele é apenas mais um, afinal, ele não faz questão. Ou faz de conta? Fernando se apaixona por Andréa, porém decide: agora não é hora de me apaixonar!

Qual teria sido o momento errôneo em que o encontro deixou de ser sagrado e transformou-se em opção? Que idéia torta é esta que transmuta instantes de magia em momentos de angústia, insegurança, reclusão.

Se Humberto abrisse a porta da alma. Se Vitória acreditasse na vida. Se Manuela se entregasse. Se Vinicius não se esquivasse tanto das consequências que ainda não existem. 

É mais desafiador construir uma ponte do que uma muralha. É mais belo atravessar do que barrar. É mais vida transcender, experimentar, trilhar, crescer do que fechar, recuar, esconder.

Se Antônio não tivesse tanto medo de sofrer. Se João não fosse tão inseguro. Se Rita confiasse no seu taco. Se Mariana se libertasse do passado.

Porque este momento é sagrado. Um instante minúsculo e sagrado e finito. E livre. E verdadeiro. Num minuto estamos aqui, no outro não mais. O instante do encontro, da entrega ficou pra trás. 

Num desencontro que também é sagrado, sem deixar de também ser sofrido, de também ser instante, de também ser passado. Foi.

Se Felipe e Patrícia entedessem que gostar não tem nada a ver com precisar...

Sat Nam ;)

7.8.09

Arte de perder o controle

"Eu sei que uma rede invisível irá me salvar. O impossível me espera do lado de lá. Eu salto pro alto eu vou em frente de volta pro presente..."

All star desamarrado. Sujo. Surraaaaado. Cabelo despenteado. Faz que é desencanado. Telefone desligado. Deixa pra lá. A arte de se descontrolar. 6 garrafas de vinho. Olhe antes de atravessar. Reze pro anjo da guarda e guarde o juízo na terceira gaveta, dentro do passaporte. Os amigos do lado esquerdo do peito e o celular sempre a mão, para contactá-los em emergências de gargalhadas ou lágrimas. Relacionadas. Ou nadas. Chega de fazer sentido. Basta de deixar claro. Desliga o senso comum e recicla o consciente e o inconsciente coletivo. Tá na hora do precesso histórico fazer um update do software. Where? Every-fucking-where. A vida não sabe errar. A Primavera sempre vai chegar e ainda assim da medo do inverno. Do inferno. Da mooooooorte. Sorte. Corte. Tudo pela metade. Desfazendo o budget das nóias sobra muito mais pra vontade. A vida que não sabe errar. Não sabe errar. Não sabe fucking errar. A chave que encaixa na fechadura, o controle remoooooooooto. Tão longe que tá, esqueceu de controlar. What should I care? Why should I take responsibilty? I won't. So don't. Don't come back to me with the same old shit. Bring me some news. Stop recycling fears. Stop re-using problems. Heal yourself and you heal a whole part of the world. With words, who knows. Just please: "circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais, é nada". E o Fernandinho (não o da bonita camisa, o Pessoa) já dizia isso, mesmo sem sonhar com o breakdown de 2012. Pra que juntar, guardar, economizar, salvar? Salve-se quem puder. Agora. Ontem já passou há um milhão de anos e jajá maybe não exista. 

Descontrolado. Descolado. Desequilibrado. Ao quadrado. Tudojuntomixturado. De lado. Pirado. Surtado. Eu sei que uma rede invisível irá me salvar. A vida está na entrega. Liberte-se do hábito de controlar. Respira fundo. Mais. Mais. Mais. Vai. Perder o controle é uma arte, a arte de se jogar.

Unfasten your seat belts. Close your umbrellas. Do not mind the gap. And let's go. Staff log: please sing when you are here.

Poesia.

Pois é e Sat Nam ;)

4.8.09

Estranho-Esquisito

Estranho-Esquisito o que não dá pra entender, não dá pra identificar, não dá pra saber de onde vem, pra onde vai, como e porque. 

Estranho-Esquisito é quando o silêncio parece compacto, o coração parece molenga, a cabeça parece confusa.

Estranho-Esquisito é cor-de-burro-quando-foge. Não parece com nada, não lembra ninguém. 

Estranho-Esquisito é mal-estar de gripe. Terça-feira a noite. O Big Brother de London que todo mundo só dorme.

Estranho-Esquisito é quando tava metade cheio e fica metade vazio. É quando não tinha livro nenhum e agora tem um que mexe. É quando estava a plenos pulmões e precisou tomar impulso.

Estranho-Esquisito é ter a certeza de que a próxima Primavera sempre vai chegar e ainda assim temer o inverno. É saber que o quebra-cabeça se encaixa e ainda assim achar que a peça não existe. É saber que tudo dá certo e viver com insônia.

Estranho-Esquisito é achar que não merece o que tá bom e reclamar quando tá mal. É ser tão mais fácil aguentar um dia todo de ressaca do que um mês inteiro sem beber. 

Estranho-Esquisito é ser humano e fazer escolhas por medo, desconfiar da sabedoria da vida e ainda assim confiar tanto.

Estranho-Esquisito. Mosquito preso no metrô. Muçulmana tretando com junkie. Cada sapato pra um lado. Semente Auto-Existente-Amarela. Dor de cabeça. Unha comprida. Panela enferrujada. Jaqueta de couro fedida. Mudança. Cafupé. He is Just not that into you. 

Estranho-Esquisito. É.

Eu sou.

SatNam ;)

28.7.09

Tudojuntomixturado III

Praia de gringo e as gringas somos nós. Na areia, de meia. De meia na areia é u ó. Guarde o guarda-sol, desenterre o para-vento. Não se jogue. A água é fria e cheia de surfista. Crowdeada. Surfista que é viciado em mar. O mar. Ahhhhh, o mar. Um pouco dele, bem salgado, salgando e gelando o pé. Da janela lateral. De frente. Encontrando com o céu. Escondendo e desvendando. O sol caindo ali dentro. Entrando debaixo de todo aquele tapete infinito de água. Maravilha. Somos uma ilha. Eu oceano você. 

Mas por favor não seja cafona. Pode ser (quase) tudo, só não pode ser cafona. Que brega que é ser jacu. Cunjuntinho combinado. Listra com quadrado. Tudojuntomixturado, mas não rola ser cafona. Please, do not be naff. Não colecione abadás, não ande fantasiado pela rua de Newquay na sua despedidade solteiro. Nunca jamais viaje de avião vestido de outra coisa que não seja sua roupa. Me poupa. Pra sua breguiçe basta você. Não quero ver. 

Cinco mesas com dez homens bêbados (muito bêbados, no caso) pra cada uma mesa com quatro mulheres de moleton. Biquini só se for de lã. Praia de gringo, as gringas somos nós. Fish and chips pingando óleo, vento do pólo norte, mar azul, leão marinho. Sol. Ainda que entre nuvens. A gente. Sente. Quente. Mente. Alma. Libera. Liberta. Deixe-se levar. 

Junta No Limite, Big Brothers e Survivors. Tranca o quarto que a chuva não vai passar. Friends. Our best friends. Três vezes repetidas, sei lá. Risadas. Gargalhadas. Mais risadas.

Blusa xadrez com calça listrada é pra quem pode. Mar de água gelada é pra quem surfa. E gente cafona ninguém quer.

Sat Nam ;) 

17.7.09

sexxxxxxta

Quem espera sempre alcança uma ova, cansa. Paciência, cada um numa frequência. Que saco. Sem saco. Tune yourself into me tune. Whatever, whereve, whenever. Just do not forget the bottle of wine...smile. Time to feel, no fear. Breaaaaaaaaaaath. Deeply. Afoga a angústia no copo dágua entre um drink e outro. Respira. Você mé-ré-ce ser feliz. Agora. A única verdadeira hora. Lava a roupa se der, amanhã. Deixe tudo pra fazer meis tarde. Jogue tudo pro alto. Receita de sexta-feira é relax. Sex. Time to be happy. Time to be only. Time all the time, every time. Esse segundo que não volta mais. Never ever. Dez e quarenta horário de Greenwich, e aqui estou eu, no marco zero da hora, where times flies. E voando no tempo, no espaço, domingo chega minha parceira de pai e mãe. Vizinha de quarto. Acende a vela, apaga o medo, veste o vestidinho preto, batom vermelho e salto alto. Vinho rosé. Só existe hoje. E hoje é o melhor que se pode ser. Domingo quero te ver. Mas hoje, vou ser sem vc. Sacode o cansaço, aumenta o som, rebuxca fotos antigas. Minha habilidade em fazer amigas. Saudade. Saudade. Sorte. Saúde. Sorriso. Sinceridade. Silencio.

sexxxxxxxxta...

Sat Nam :)

15.7.09

Famíííííília

Família e a falta que ela faz. Familia e a conexão que o oceano não separa. Família que almoça ou não junto todo dia é sempre família, familía. Famííííííííília.

A minha está há milhas. No espaço geográfico apenas. Na distância dos corpos. Dos copos que brindam separados, unidos pela web cam, pelo sentimento que não tem parede. Nem pede licença pra quando, de domingo-em-quando, dói.

Família que é qualquer coisa de conforto, cobrança e sinceridade. Família que é verdade, detalhe e opinião. Família que é alma, apoio, coração.

Família A que é pai, mãe, irmão. Irmã. Cachorro, piriquito e papagaio. E quem cuida de tudo isso. Família A parte 2 que é avó, avô, tios e primos. Feriado, natal, visitas esporádicas. Encontros aleatóreos que o desencontro rotineiro faz tornar sensacional. Essencial. Fundamental.

Família A parte 3 que é amigo. Aqueles que a gente reconhece e escolhe não brigar.

Ela no quarto ao lado ou do outro lado do mundo. No meio do caminho. Caminhando junto. Ao lado. Do outro lado do mundo e caminhando ao lado junto. 

A falta que faz, tecnologia da informção thank you very very much. Ver pela tela, que não é janela, mas leva pra perto, pro porto, sem porta. Que importa se amor, se família não vê mesmo parede?

Pare um pouco este dia. Preciso de uma hora no tel com a minha mãe. A visita da irmã que vem vindo - eeeeeeeeeee. Pai cadê você? Mostra a Maui no skype. Happy Hour pelo PC. Eu não estou sem vocês. Eu só sou porque vocês são. 

A tia liga de madruga, a avó de manhãzinha. All together no email farm-iliar. Família é sempre vizinha. 

Vou ligar pra minha best(friend) pra dizer que ela faz parte. Dessa coisa junta que mesmo do outro lado de lá o caminhar não separa.

Família, família. Famííííííília. A e todas as suas partes, que vai até o infinito. Família, família. Famííííília. FA-MÍ-LIA.

Amo. 

Obrigada. 

Pois é...

Sat Nam ;)

8.7.09

Back To The Moon

Ele não era mesmo daqui. 

Não queria crescer. Tinha o mais incrível caminhar pra trás que já se viu. Genial. E, como todos os gênios, um tanto quanto desencaixado.

Ainda bem. É graças a esses desencaixes que o mundo conhece as maiores e mais lindas expressões de arte. A genialidade atormentada de tantos que leva o mundo à uma outra esfera, um outro padrão de pensamento. 

Lunáticos-graças-a-Deus esses gênios espalhados pelos tempos, marcam nossas existências com sua necessidade doida e doída de dizer qualquer angústia de amor ou dor que lhes aperte o peito.

Não acredito que MJ tenha feito todas aquelas cirurgias num intento de ser bonito. Acho mesmo que seu motivo era o de tantos outros simples mortais: não queria envelhecer. Quem é que percebeu que o cara ja era cinquentão?

Se ele queria ser branco, se era uma boa pessoa, se pegou ou não pegou criancinhas. Who knows? Ele foi o rei do pop e agora é uma lenda imortal.

Foi. E vai ser forever Michael Jackson. Faz parte do show dessa gente que não se encaixa explodir por dentro. Uma morte diretamente proporcional a vida. 

A lenda não perece. Nunca haverá outro. Foi um privilégio pegar carona nas performances e na musicalidade desse excêntrico personagem.

O que dói da morte dele não é pôr do sol deste fantástico artista que vai nascer e nascer de novo a cada play de "Who's Back". 

O que dói é a falta que este pai vai fazer. Como fazem falta tantos e tantos pais. O aspecto tão normal, tão natural, tão terreno e tão cronológico deste ser pra quem caminhar pra trás era uma arte e aceitar que o tempo anda pra frente, um tormento.

Ainda bem que tem gente que é tudo ao contrário.

Have a safe journey Back to the Moon and may you find your peace!

Thanks for the ride.

Sat Nam ;)

6.7.09

tudojuntomixturado II

É bom chegar lá. Perceber numa outra língua novas ferramentas pra boa e velha caixa de expressar. Chorar na tecla sap. Rir sem subtitles. Life actually. 

Ia comprar qualquer coisa. Notei na entrada a nigeriana e seu penteado embrulhado em papel preto brilhoso. Impossível não pensar: what? E segui, antropologisando meu ego numa tentativa de aceitar que cada qual com seu próprio óculos enchergador de mundo. Fui saindo. A muçulmana de burca preta ia entrando. Só os olhos de fora. Notou, como se fosse possível não notar, a mesma nigeriana e ostentando seu mesmo penteado. Com seus dois olhinhos que o mundo todo podia ver ela disse: what? Como quem vê e não acha assim tããão légal.

Isso é Londres. Talvez seja o caso do islamismo tapar também os olhos das mulheres. Pela expressividade daquele olhar de quem viu um homem com a cueca por cima da calça, talvez devam deixar tudo de fora e tampar o parzinho de janelas que diz tudo em qualquer idioma. O preconceito vem de todos os lados. Narciso ia ficar lelé por aqui!

Li Maitê falando de futebol. Tem propriedade no escrever. Embora falte-lhe uma turma como a minha. Futebol é bacana, homem é necessário, homem jogando futebol é uma beleza, homem falando de futebol é um saco e homem assistindo futebol é melhor ir. Minha vida social feminina só não tem placar. Juiz, briga, abraço, xingo, celebração, gol, homem suado e bola fora tem de monte.

The summer is magic. Agora é a vez de Los Hermanos (no meu i-fod). Freedom. Marte dá lugar a Jupiter e o domingo termina Actually Love. Sem love, actually. Numa panela Marcelo Camelo, Lucas do One Tree Hill e Dr Shepherd de Grey's Anatomy. Coloque em cubinhos de gelo e misture no meu suco mazaa de guava pela manhã. Hmmmmm. Pão de pumpkim, honey ham e meu rolê se estabelece.

Saudade é palavra que em Inglês não há. Carinho também não. Nem cafuné. E também não pode usar delicious pra dizer que estava delicioso, a não ser se estiver falando falando do pudim, do drink de morango, do estrogonoffe de frango.


Saudade de carinho. Só pra não perder o hábito de desejar sempre algo que falta. 

Sat Nam ;)
 
 

2.7.09

The summer is magic

The end is not even close. What is close is the new beginning. The sun shines at full power. The sound of the city is louder. No clouds, nobody inside. World smiles. The summer is magic. And it is just the beginning. Birds and roses in a secret garden. Cycle of life re-starts. Hearts feel warm, land feels worms. Serendipity. It is a lighter time. Sun shines at full power. The sound of the city is louder. No tears, no fears. Life sings. The summer is magic.

A little girl in a flower dress. Cute guys and their beauuuutiful tent. Everyone is gorgeous. Take the dusty off my sun glasses. It is charming summer time after a while. No fights, no black and white. The sky is brightly blue. Trees are amazingly green. The atmosphere is all yellow. And it is just the beginning. The summer is magic. Birds and roses in my garden. Wash your hair and feel it wet. Sweat. It is flipflops season. It is jusssst the be-gin-ning!

The summer IS magic, isn't it? Even better after a dark-cold-lonely winter. Cycle starts again, once more. And it is wonderful. It is perfect. The sound of the city is louder. No clouds, loose clothes. Lively colours, lively smiles. Life sings her most exciting song. Everything is poetry, music, art.

La la la la. The summer is magic. Even more after a grey winter. Days are lighter, brighter, louder. And it is just the beginning. Let's buy a pint, a chilled rose wine. Let's go around and enjoy summer smily time. A park, a barbecue, a garden, do not go inside. Summer is magic. The city smiles. World sings. Streets are catwalks. Everyone is gorgeous.

Birds and roses and smiles and colours. No clouds, nobody inside. It is time to celebrate. The summer is magic and it is just the be-gin-ning!

Iupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Sat Nam :)

tudojuntomixturado

Marcelo Camelo verão Londrino Breaj Australiana sooool findi semana off visitas pós graduanda calor breeeeja paquera bom dia dedão-do-pé flor-no-cabelo beijo boca busy busy e pra que viver assim sem aventuras? amizade saudade pesadelo de madrugada. Esquece xá pá lá. Ir ou ficar mais breja pensar no que pra que ag0ra voce cade eu aqui ó em Brighton on sunday. Prova de lei e eu nem sei e no fundo eu nem ligo e distancia constrói ponte mas também lacuna verdade vontade saudade e o desejo de não sentir dor. Medo. Medo. Medo. Dj pilow vai tocar no El-dredon e ainda tem gente que quer nome na lista, da pista. Pista que é melhor que camarote. Eu fiquei na arquibancada, que nada, dei pt. Pacienciência, hoje? Pra que? Trinta e três graus, calor alegria, saudade energia do amor. Bom dia dedão do pé, flor no cabelo. Amanhã a lei me pega, e depois nunca mais. Ais Ais Ais. 

See you later aligator. In a while corcodile.

What?

Sat Nam ;)

21.6.09

Tenho uma mão no bolso e a outra pedindo carona pra lua


Indecisão pra que, se a decisão final não vai ser minha
Mudo meu mundo num segundo por um olhar daqueles
E tudo vai ser eu e você
Mais pra quê?

Mas, pra quê tanta demora em aparecer?
Se atrasou pra formatura,
Esqueceu do tempo, que passa
um primeiro fio de cabelo branco me ameaça

Que graça tanta toda esta tua que eu não sei qual é
Se estou aqui, se vou pra lua
Vou pra onde tu quiser
Meu mundo novo num segundo por um olhar daqueles

Essa saudade que eu sinto
Dessa distância que não calculo
me deixa indecisa
mas, juro

Tiro a mão do bolso
desisto da lua
se pra sempre minha alma for tua

Sat Nam ;)



20.6.09

I wish

I wish I could write, I wish I could sing
I wish I knew who you are right now
I wish I could draw, I wish I could paint
I wish I could play the guitar just to say how much I love life

I wish I could fly, I wish I could shine
I wish I could hug and hug my dog now
I wish I could go out, I wish I could sleep
So I could dream the dream about how much I live life

I wish I meet the perfect guy
I wish I have two sons
I wish flight tickets were cheap
So I could live around the world

I wish I am a poet
I wish I write a few books
I wish I change the world
and I wish I can be with you

I dream about this day
When wishes go away
I feel the peace and love
So I can say how much I live life

Sat Nam ;)

19.6.09

Sorria, você está sendo filmada

Estou sendo observada. 

Testada. Rotulada. Calculada. Marcada. Anotada. Numerada. Carimbada. Avaliada. Checada. Revistada. 

Querem saber o que eu levo na bolsa e na alma e ainda dizem: sorria, você está sendo filmada! 

Estou sendo invadida. 

Impedida. Compelida. Resumida. Reprimida. Consumida. 

O mundo. A sociedade. A porra da CCTV. Não são eles que fazem isso comigo e nem com você. É este grilo falante sem categoria e discernimento que reside em algum recôndito da (in)consciência humana e carrega nosso DNA de culpa e necessidade de se encaixar.

Enquadrar. Grilo quadrado e careta. Buzina quando demoro pra fazer a baliza. Apita quando cometo uma falta. Grita quando piso no seu pé - foi sem querer, cara! - e chora se passo da medida, do peso, do limite socialmente aceitável.

Que paciência pra aparências e o que os vizinhos vão pensar? Vamos falar alto, beijar na boca em público, derramar nossa criatividade.

Quem falou que eu tenho que saber das leis de mídia Inglesas? Quem disse que eu preciso saber onde vai a vírgula dessa língua louca? Denigram minha imagem, difamem minha reputação, mas eu juro que só faço isso por obrigação.

No dia seguinte da prova vou esquecer. Decorar 7 poemas e nunca mais lembrar que a section 11 do Sex Offences Act de 2005 protege a identidade das vítimas de abuso sexual.

Dinheiro pra pagar o aluguel. Nota na prova pra ganhar dinheiro pra pagar o aluguel. Faculdade, pós-graduação, línguas, computação. Metade sabedoria, metade obrigação.

Na faculdade da vida todas as provas são surpresas, todos os dias tem chamada oral e se você não tiver 100% de presença, vai se arrepender. 

Este diploma não dá pra enquadrar, tampouco pendurar na  parede. 

Pass, merrit ou honors, neste caso, é uma questão de escolha, luta, disposição. 

Não tem teste. Ninguém precisa provar nada a ninguém. A não ser ao travesseiro, na hora de dormir. 

Julgada. Denominada. Dominada. Esmagada. Estresseda. Pressionada. 

Estou sendo filmada e me deixando levar pela correnteza paranóica do medo de ser reprovada.

Melhor ir. 

Vou estudar, vou trabalhar. Depois eu conto, sem desconto, como foi passar, pagar o aluguel e nas férias viajar. Casar de branco, ter filhos lindos e educados, colocar botox e sair na coluna social. 

Dizer pro mundo que a alma coube na gaveta do criado mudo.

Desculpe, é que estou sendo filmada.

Mostro a língua, dou uma gargalhada. Passo até perfume e saio bem neste retrato. Pago o aluguel, dou o coro no trabalho, a cabeça não pára. 

Bico a gaveta, chuto o pau da barraca e sorrio. 

Foda-se se estou sendo filmada.

Tenho uma mão no bolso e a outra pedindo carona pra lua.

Sat Nam ;)




2.6.09

No berro

Estava andando por aí e alguém me pediu - no mais embromation english style - informação de uma rua.

Falei uma vez e o cara continuou com cara de tacho. Falei outra, desta vez apontando e ele nada. Falei a terceira e ele finalmente balbuciou 'no english', pelo que suponho, era Árabe. 

Na décima sétima tentativa eu já estava descabelada de tanto gesticular e semi-afônica de tanto me esguelar na tentativa de fazer-me entendida.

Lancei um 'I am sorry' simpático e fui assim, meio de lado, já saindo, indo embora antes que perdesse meu último fio de voz.

Enquanto ia ajeitando o penteadinho todo desfeito e expulsando o bichinho do ahã-rã que se instalara na minha garganta, pensei: bixo, porque é que a gente grita quando alguém não entende o que a gente fala?

Com coisa que se alguém falar Euskara comigo no mais elevado dos decibéis eu vou ser capaz de captar alguma coisa. 

De repente passou uma sirene, não uma sirene qualquer, uma sirene Londrina. Você já ouviu uma sirene Londrina? Nem queira. 

A parada é um misto dos agudos da guitarra do Jimi (Hendrix), mais os altos tons da Suzan Boyle distorcidos mil vezes por um engenheiro de som completamente surdo, cafona e fã de Byoncé.

Enquanto a sirene ia berrando e abrindo espaço fiquei imaginando se as coisas fossem assim, se em vez de usar argumentos, exemplos, força de vontade e inteligência, bastasse qualquer pessoa gritar bem alto quando queria alguma coisa e pronto.

Quando será que o ser humano percebeu que o leão não era o rei da selva por causa do rugido?

Me senti uma mulher das cavernas. Toda arrependida, voltei atrás a procura do suposto Árabe. Ele contnuava lá, estático, no mesmo bat-local. Desta vez era uma senhora que gritava qualquer coisa que ele não entendia.

Cheguei com jeitinho, olhei bem nos olhos dele e falei com calma em português: eu não sei falar sua língua, mas vou explicar devagarinho. Ele fez que sim com a cabeça e fui apontando, mostrando, tirei um papel da bolsa e, literalmente, desenhei.

Não sei quando o ser humano fez a transição do grito do Tarzan pras pinturas nas cavernas. Sei menos ainda como o Árabe consegui entender meu mapa que mais parecia uma árvora careca.

Só sei que ele foi. Sorrindo. Pareceu mesmo ter compreendido. Me olhou no olho, agradeceu e saiu, me deixando ali com o desenho tosco na mão e uma sensação de plenitude que só um dia de sol sabe causar. Uma sensação que não se descreve.

Algo entre gratidão e alegria. Empolgação e nostalgia. Quase como uma ficha que cai. Um sim.

Ainda que os momentos mais divertidos sejam experimentados no volume alto da balada, do show, da euforia,  os mais profundos são vividos em sussurros, olhares e silêncios confortáveis.

Quem tem boca vai Roma. Quem tem respeito vai a qualquer lugar e quem se importa com o outro vai a um lugar que só alma pura e verdadeira consegue alcançar.


Sat Nam ;)

28.5.09

Não salgue quem puder!

Desculpa, mas eu não sou capaz de matar os caramujos do meu jardim. Não posso ser o (des)humano responsável pelo extermínio de toda uma nação caramujenta. 

Imagine a manchete do "Caramujo News": Catástrofe no Jardim da Mayton Street, Tempestade de Sal Mata 167.

Toda a sociedade caramujenta tentando entender porque mais uma vez o homem - tão racional - se revolta contra a espécie caramujus lesmaticos - tão passional - causando tamanha chacina. 

Ok, eles são no-jen-tos. As anteninhas, tá, até meio bonitinhas, e aquela conchinha que eles carregam nas costas, vá lá, mas aquele corpinho gosmento, so sorry, não dá pra encarar. Engolir, então, nem pensar.

No dia em que todos os caramujos do mundo se reunirem, vai haver uma guerra civil caramujesca. Estilo a do Sri Lanka, onde a briga é porque os Ingleses gostavam mais de uma minoria que agora massacra e é massacrada pelo resto do todo.

Sim, porque afinal os scargots caíram no gosto da nossa raça e são tratados com preferência descarada perante seus irmãos. Se bem que ser destinado ao estômago de um homo sapiens é mesmo uma merda.

Voltando ao desastre salino... 

Os caramujinhos em prantos, chorando pelos queridos que perderam. Famílias desfeitas, sonhos aniquilados, dezenas de existências lesmáticas desintegradas pela substância porosa e salgada que caiu da mão cruel e egoísta de um ser humano.

Um ser humano que, depois de cometer um verdadeiro assassinato em massa lêsmica, entra em casa com o pote de sal, guarda-o de volta no ármario da cozinha e senta para ler o seu jornal humano, humanamente importante, ignorando de maneira tipicamente humanóide a desgraça caramujística que acaba de causar.

Abre a primeira página do "The Guardian", "Jornal do Brasil"ou "Correio Chinês" e lê lá a mesma notícia: 

Shon Kin Lil (sorry, não vou procurar o nome certo dele no google, porque ele não é digno do meu tempo e esforço) afirma que Coréia do Norte responderá 'nuclearmente' a qualquer ameaça americana - ou whatever.

O humano, como sempre humana embora não humanisticamente, pensa indignado:

"Esse chucro deste japa retardado não cansou de 'matar' gente de fome naquele país miserável e falido dele e agora quer fazer babado no NOSSO quintal?!  Fala sério, este imbecil pensa o que? Que gastando o dinheiro do povo construindo bombas que podem destruir o mundo ele vai chutar o pau da barraca, derrubar a casa e cair junto e vai chegar no céu e ser o dono da boca? 

Imbecil. Fico puto com essa gente estúpida, sem coração" - humano é assim, no geral fica puto, especialmente com gente mais sem coração e com mais dinheiro que ele.

Aí ele fecha o jornal e vê no cantinho da sala um caramujinho restante, um verdadeiro guerreiro de esparta que conseguiu se salvar da sal-guinária catástrofe de uma hora atrás e o que ele faz? 

Pega de volta o pote de sal e derruba inteiro no pequeno caramujinho que no primeiro grãozinho branco já tinha derretido de tão assustado.

E aí o humano limpa a sujeira daquele jeitão, larga o jornal pra lá e vai trabaiá, que ele já tem assunto suficiente pro resto do dia: xingar o japa retardado e a porra do caramujo que deve ter mil vidas, porque ele joga o sal inteiro e o bixo não morre nunca. 

Humano é assim, todo mundo que tem olho puxado é japa e todo caramujo é o mesmo. O japa tem a pachorra nuclear e o caramujo tem a pachorra de não morrer.

Não, eu não sou capaz de jogar sal nos caramujos do meu jardim, eu não conseguiria suportar a carga de ter exterminado vários seres vivos conchentos e moles. Ainda se fossem moscas, mas a consistência e a forma deles não me permite.

Até porque quando o Coreano explodir o mundo todo o céu dos humanos vai virar um inferno e eu vou bem procurar uma vaga no céu dos caramujos.

Salve-se quem puder!

Sat Nam ;)
 

25.5.09

Sintonia

Na falta de um, minha casa tem DOIS jardins. Um na frente, outro no fundo. Sem a menor comunicação. 

Hoje cedo fui lá atrás, dar bom dia pro dia, tomar um pouco de sol (em londres!!!) e vi que uma rosa linda começa a nascer. 

Mais tarde fui colocar o lixo lá na frente e seria impossível não ver que um botão rosa está se abrindo.

Entrei em casa, entrei no meu blog pra falar das maravilhas da natureza. Havia um comentário gostoso de alguém contando que resolveu vir pra Terra da Rainha se aventurar em busca de qualquer sentido.

Voltei pro blog mais tarde, numa segunda tentativa de batucar com graça o teclado do computer em busca de escrever qualquer coisa  e me deparei com  mais um comment delícia, de alguém que fez uma questão preciosa de dizer que achava o que lia bom.

As roseiras da minha casa nao se conhecem, nunca se viram e certamente nunca vão se encontrar. Mas a sincronicidade com que expressaram suas primeiras flores na chegada deste verão, faz perceber que a existência está sempre na mais perfeita harmonia.

Na falta de um, recebi DOIS comments hoje. Na falta de uma, genhei DUAS rosas hoje. Na falta da calma que o fim da pós me rouba,  meu dia hoje fez sentido em dobro.

Tudo o que vem da alma faz sentido e se faz sentido.

Sat Nam ;)

*super super thanks pelo carinho 




22.5.09

Crouch end

Como será Crouch End? Será um bairro como outro qualquer de Londres? Será que as casinhas são todas Vitorianas e tem um off license a cada esquina? Ou será que tem um parque lindo e um restaurante delicioso de comida Etíope? 

Não sei e, provavelmente, nunca saberei, já que Crouch End é o ponto final do meu bus e eu não tenho a menor intensão de ir lá conferir como é.

Aos lugares em que nunca vou chegar. As pessoas que jamais conhecerei. Aos planos que nunca farei. Aos cara que nunca beijarei. Aos momentos que não vou passar. As tantas coisas que não vou viver. As vitórias que não vou alcançar, aos erros que não vou cometer, aos brindes que não terei tempo de fazer. Às crases que eu nunca sei onde colocar.

A tudo que não vou experimentar, testar, tentar, acertar, me jogar...a tudo o que não vou ser: Obrigada!

Pela falta que não me fazem, pela ansiedade que deixam de me causar.

Alguém me diz que vai pra Aushwitz, eu não sinto nenhuma vontade de ir também. Minha amiga está pensando em colocar silicone, graças a Deus eu não. Tem um vestido de um designer descolado que custa uns varios varios pounds, eu não faço a mínima questão.

A viagem pra Austria não me anima, a luta pela independência da Papaua New Guinea não me excita (embora eu tenha tremenda compaixão pela causa). A calça pink da menina desengonçada não me instiga a comprar uma igual. E eu não tenho a intenção de aprender a dançar zuck.

Aos tantos nãos que dão tranquilidade e espaço aos meus sims. 

À todos os nãos que a gente escolhe, para que os sims signifiquem muito mais. À todos os não que vem por aí e os grandes sims que trazem por trás.

À todos os nãos. À todos os sims. Sem nenhum tanto faz. Ou maybe. 

Embora eu compartilhe da necessidade de abraçar o mundo, eu ja não quero mais tudo e quero agora como antes. Fico satisfeita de compartilhar com as coisas que nunca farei o simples fato de que não as farei.

Há grandes chances de que eu nunca venha a conhecer Crouch End. Porém, o simples fato de ler ali, na frente do ônibus, que seu destino final é lá, me faz de um jeito consciente partilhar de sua existência e de alguma forma Crouch End passa a fazer parte de mim.

Para algumas coisas, desvendar. Para outras, imaginação.  

Existir sem mistérios faz tanto sentido quanto sorrir sem alma, dormir sem sono, viver sem coração.

Crouch End deve ser aquele lugar, além do horizonte, pra lá de marrakesh, onde os sonhos se realizam e tudo pode acontecer.

Sat Nam ;)

21.5.09

Bléééé, sei lá

O sol nasceu multifacetado. Andam dizendo que a Terra vai girar pro outro lado. A mente mente. E memória antiga é como filme velho, vai perdendo a qualidade da imagem, começa a ficar sem definição. Só sobra a lembrança de como sentiu-se. Aliás, que horas são? Hora de ser agora. Mais do que nunca. Now. Já. Nunca constantemente. A não ser pela mente, que mente constantemente. A não ser por quem nunca mentiu. Salvo raras excessões: a criança que não nasceu ainda e...e só. Começou mais uma hora de dormir na gritaria do silêncio. Dormir cansa. Acordar então, nem se fale. A não ser...Ah...não ser! Como será não ser? Não sei, sei lá. Só sei que se a Terra girar pro outro lado, capaz da gente experimentar, o sol multifacetado, a cabeça fora do lugar. Uma existência desconstruída. Que preguiça de pensar. Tomara que nos cafundós da Galáxia, onde moram os seres evoluídos, tenha menos sifrão e muito mais cupido. 

Sat Nam ;)


15.5.09

Influência da semana - Sylvia Plath




"Sometimes I dream of a tree, and the tree is my life.
One branch is the man I shall marry, and the leaves my children.
Another branch is my future as a writer and each leaf is a poem.
Another branch is a glittering academic carrier. 
But as I sit there trying to choose,
the leaves begin to turn brown and blow away
until the tree is absolutely bare."

Tradução livre:

"As vezes eu sonho com uma árvore e a árvore é minha vida.
Um galho é o homem com que me casarei e as folhas meus filhos.
Outro galho é meu futuro como escritora e cada folha é um poema.
Outro galho é uma brilhante carreira acadêmica.
Mas assim que me sento ali tentando escolher,
as folhas começam a ficar marrons e a cair
até que a árvore está completamente nua."

...

Sylvia Plath foi uma poeta americana considerada uma das maiores autoras de poesia confessional de todos os tempos. Plath, filha de uma professora e eu escritor,  públicou seu primeiro poema aos 8 anos na sessão infantil do Boston's Herald. 
Sylvia estudou em Cambridge onde conheceu Edward Hughes , poeta Inglês com quem foi casada por 9 anos e teve 2 filhos . 
Aos 30 anos, Sylvia suicidou-se inalando gás do forno de seu apartamento em Londres. Ela e Hughes haviam separado-se pouco antes e muitos o responsabilizaram por sua morte, já que ele a havia traído e deixado por uma outra mulher que estava grávida. 
Noentanto, as evidências do estado depressivo de Sylvia datam de sua infância. Desde a morte de seu pai, por complicações resultantes de um quadro de diagnóstico tardio de diabetes, quando ela tinha apenas 8 anos, ela já tinha tentado acabar com sua vida diversas vezes.
Quatro anos depois da morte de Plath, Aissa, segunda mulher de Hughes, assassinou sua filha com ele e suicidou-se em seguida, da mesma maneira que Sylvia havia se matado. 
Hughes foi constantemente atacado pelos admiradores da obra da autora, que ficou sob seus cuidados, por editar e manipular seus escritos post mortem antes de publicá-los.
Em 1998 Ted Hughes, como é conhecido no mundo literário, já casado com sua terceira mulher, re-publicou o último trabalho de Sylvia: 'Ariel', uma coleção de poemas. Ele morreu 4 semanas depois infarto do miocárido. 
Em março deste ano, o filho mais novo do casal, Nicholas Hughes, 47, cometeu suicídio após lutar a vida toda contra a depressão.

Sat Nam ;)

13.5.09

The big picture

Uma espinha na testa bem no dia da sua formatura pode parecer o fim do mundo.

O fim do seu primeiro namoro parece mesmo o fim do mundo.

Um não naquela entrevista para a qual você tanto se preparou, chega muito perto do fim do mundo.

Qualquer rejeição é uma boa oportunidade de experimentar uma possível e, com sorte, remota, vontadezinha de cortar os pulsos.

Porém, a espinha não aparece nas fotos, nem tão pouco arruína sua carreira profissional. Você termina mais uns 5 namoros e entende que realmente, ninguém morre de amor. Aquele emprego não rola, mas de repente surge a oportunidade de morar em outro páis, abrir um negócio próprio ou começar um mestrado.

O bom de estar perto dos 30 é entender com mais precisão - e experiência - do que aos 25, a realidade crua de que tudo passa. 

É que na verdade um complemento se une ao bom e velho conceito da uva ("tudo passa, até uva passa"), o fato é que você começa a enchergar "the big picture".

A celulite na sua bunda não tira mais seu sono uma semana antes de ir pra prais. Foda-se se você não tem - e nunca vai ter, ok ok - o corpo da Juliana Paes. A companhia dos seus amigos vai estar deliciosa, você vai ter um dia incrível de diversão, batidinha e bom papo e ainda por cima vai poder, mais uma vez, desfrutar o espetáculo de um pôr-do-sol a beira mar.

Sim, porque o sol é o fator principal para ver "a coisa toda" (minha tradução livre para "the big picture"). O sol brilha pra mim, pra muçulmana aqui do meu lado, para aquela menininha ruivinha de 4 anos e para aquela minha professora chata de antropologia exatamente da mesma maneira. O sol é o verdadeiro ícone da democracia. (Bonito isso, né?!)

É a ausência de luz que nos impede de enchergar o lado escuro da lua.

Há momentos na vida em que é preciso diminuir o zoom para poder ver com clareza "a coisa toda". Se o foco da foto fosse na espinha da testa, ninguém teria apreciado a beleza do seu vestido, muito menos a poesia do seu discurso.

Se o ex-namorado fosse pra sempre o foco da sua existência, você não teria conhecido o atual.

So o não do trabalho fosse o foco do fim das tentativas, você não teria descoberto a Índia e todas as pessoas especiais que encontrou no caminho.

Muitas vezes é preciso diminuir o zoom. Tirar o tapa-olhos do cavalo. Abrir a mente. Lembrar que o mundo é grande e que há 6 bilhões de pessoas dividindo este Planeta Azul, e as mesmas angústias, com você.

Tem horas que diminuir o foco é a melhor opção. Aumentar o campo de alcance. Permitir a entrada de mais luz. Levantar o olhar da calculadora e ver na parede a sua frente toda história que sua caminhada é.

Enchergar "a coisa toda" é saber que nada é pra sempre, nada é definitivo, nada é irreparável. Captar "a coisa toda" é um plus na compreensão do sentido da vida e um less na redenção ao estress.

Quando aquela "colega" de trabalho começar com seu seu blá blá blá típico e aquele olhar de quem se acha indispensável, ao invés de ficar puta da vida ou fazer exercícios de respiração (que são pra gente muito evoluída) apenas pense: "ela não deve ter a mais vaga idéia de quem é David Bowie, e a vida não pode ser plena para alguém que nunca ouviu Space Oddity". 

O mundo é muito grande. Prender-se aos focos problemáticos e as sementes de baobás seria um tremendo desperdício. Há tanto mais, que nossa vã filosofia jamais poderá alcançar. E não há tempo suficiente. Mas há agora!

"Planet Earth is blue and there is nothing I can do". Sábio Major Tom e seu mantra diminuidor de zoom.

(Por isso que eu a-do-ro ficar mais velha)

*homenagem a minha irmã, Renats', que inspirou as sinapses revolucionárias e aleatóreas causadoras desta reflexão!

Sat Nam ;)

11.5.09

Os maiores, os melhores dias...

Os maiores, os melhores dias da sua vida, não são aqueles para os quais você passa um mês, um ano, uma década se preparando.

Os maiores, os mais intensos e profundos dias da sua vida, são aqueles em que por uma sinapse desconhecida, 24 minutos no metrô te transportam para tamanho entendimento do sentido de tudo, que você se dá conta de que não haverá tempo suficiente.

O frio na espinha da certeza de que isso tudo um dia vai acabar e você, mesmo debaixo de toda sua fé, não tem a mais vaga garantia de onde vai parar.

As próximas horas de um dia como este, que começou como qualquer outro e transcendeu alguma barreira, tem gosto de sashimi fresquinho, companhia de amigos muito muito queridos. 

Uma carona na loucura, já que o pé não tá mesmo no chão e uma qualquer serigrafia, imprimindo sapatos, cores fortes, yin e yang te toca mais, do que você jamais compreendeu.

A parte que faz parte e a que não faz. Michael Jackson na vitrola. Hein?! Vi-tro-la. Beatles Across the Universe, David Bowie, Rolling Stones.

Você era pequeno nos anos 80 e tanta gente já havia sentido este tanto que você sente agora. O dia em que você nasceu foi um dos maiores, um dos melhores dias na vida de um monte de gente. Mesmo que você tenha se adiantado e que este dia, não fosse o tal dia esperado.

Talvez, inclusive, na vida de alguém, que estava do outro lado do mundo, num metrô qualquer e que por uma dessas razões que a própria razão desconhece tenha captado na alma a vibração de mais outra alma que adentrava no plano artísco da existência.

Quem sabe nestes dias, que são os melhores, os maiores, estes para os quais você não se preparou, estes que simplesmente começaram como um outro dia comum, não tenha você se conectado em alguma competência inconsciênte de ser e estar, com o milagre cotidiano divino de uma nova vida que vem à luz.

"Jah Guru Deva. Om...

Nothing is gonna change my world " 

...and already everything is.

Porque o dia em que você ler o seu discurso, no seu melhor vestido, na sua melhor performance, nunca vai ser maior ou melhor do que o dia em que você, descabelada e de camiseta furada, o escreveu.

Sat Nam ;)

6.5.09

Ela e a escolha dela

Era tarde quando ela se deu conta. Talvez não fosse lá tão tarde assim. Contudo, a escolha estava feita, havia de protegê-la. Não a si, mas a escolha.

Decisão tomada é assunto encerrado. Nem tanto. Nem sempre. Nem é. Decisão tomada e a cabeça não pára de girar.

Diante de toda situação, escreveu os prós e os contras num papel. Ponderou. Colocou na balança do presente, do passado, do futuro. Tirou a média aritimética virtual e tomou uma posição. Defendeu-a perante as outras partes, com seus argunmentos bem delineados e cheios de sentido. Falou e disse. Ponto.

Pronto. 

Quem dera.

Dormiu mal. Acordou pior. Por que é que tinha mesmo escolhido daquele jeito. Ah sim, ainda lhe parecia uma decisão bastante razoável. Bastante racional. Bastante madura. Uma decisão bem acertada.

O que ficou desacertado foi alguma coisa ali, naquele ponto em que a intuição faz as pazes com a ansiedade e uma mão segura a outra pra não parecer que está sozinha. Alguma coisa ficou engasgada entre o que pensou e o que sentiu ou entre o que quer e o que decidiu.

A decisão está tomada. Voltar atrás é sempre uma opção. Mas há de protegê-la, não apenas a escolha, mas principalmente a decisão.

Sat Nam ;)

1.5.09

Tento alcançar a dimensão do fato que, no fundo, a gente só conta é com a gente mesmo. Acho difícil encontrar paz nestas palavras, mas cada vez mais elas se provam realidade.

Voilá...no meu caminho só, único!

Sat Nam ;)

26.4.09

Plenitude

Há domingos na vida em que tudo se encaixa. As flores vão crescendo no jardim enquanto um sentimento de conforto mantém o coração quentinho.
As lágrimas correm pela bochecha, mas tem que desviar do sorriso. Lembranças fundamentais. A base que constrói, ampara e apóia, com gestos, olhares, palavras, mas principalmente, silêncio. As lágrimas e o sorriso e o sol que brilha lá fora são ainda pouco pra expressar tanta gratidão.
Coisas simples da vida. As mais importantes. Crianças. A simples vontade delas. Mesa farta, família reunida. Amor. O desejo, o sonho, o futuro. Tão menos complicado do que parecia e ainda muito mais incontrolável do que conseguir o sucesso.
Estar só e completamente plena. Na companhia das memórias, no fio inquebrável e sutil da energia da união essencial. O significado da salada que alguém deixou na geladeria, da hortinha feita com tanto carinho, do cuidado com a janela, as travas e a liberdade oferecida em abraços, momentos, dúvidas e confiança.
É impressionante como noites de sábado bem aproveitadas entre a leitura de um livro companheiro e a certeza de tantas parceirias pode transformar um domingo silencioso, numa verdadeira declaração da vida.

Sat Nam ;)

3.4.09

Londres - Manifestação G-20 Meltdown

Derretimentos glaciais, econômicos, sociais. Só o calor de uma nação unificada será capaz de deter os atuais males do nosso mundo.

Vandalismo, extremismo, sensacionalismo. “Abaixo o capitalismo” á parte, muita gente se engajou nesta manifestação pra colocar seu dedo na ferida da história e quem sabe, chamar a atenção de quem pode curar esse machucado para o fato de que todo mundo encherga o que está embaixo do curativo.

Protestar é um verbo intransitivo. Quem protesta, protesta e ponto. A ação, que pede complemento, leva quem protesta a faze-lo por algo. Em que acredita. Protestar, todavia, não é tarefa assim tão óbvia. 

Mais do que de caminhar em meio a uma multidão e gritar frases de efeito, protestar é unir-se. Simplesmente pela importância de somar. Pelo valor de ser apenas mais um em seis bilhões. 
Nesse aspecto houve gente que falhou. 

Fora alguns maus-exemplos oferecidos por uns e outros, o clima era amistoso. Havia tensão no ar, havia polícia. Muita polícia. Talvez em excesso. Inclusive, impedindo gente de sair e entrar. Mas havia, acima de tudo, o real desejo de mudar.

Ficar ali por quarto horas foi além do planejado. 

Os policiais fizeram cordões de isolamento em todas as saídas. As pessoas gritaram, pediram por seus direitos. Quando a situação parecia insustentável cada um foi tomando seu rumo, procurando um canto de sol pra se encostar, uma coisa divertida pra fazer, o telefone pra avisar.

Se o objetivo geral fosse violento, poderia ter acontecido uma tragédia. Contudo, a intensão era pacífica e a união o comum acordo.

Se o G-20 é democrático, se alguma mudança positiva vai sair deste encontro, particularmente prefiro não opinar, mas uma causa nova está estabelecida, uma sociedade global vem sendo gerada.

Ninguém é obrigado a sair as ruas, gritar ou marchar em direção ao que acredita. Apenas não deixemos que a propaganda enganosa da violência gratuita que foi destilada por ações individuais, manche o resultado geral tão unificado de menos de 0,1% da população mundial que esteve ali comprometida com a causa de uma nação global.

Aos poucos a consciência de uma sociedade unificada funde-se e vai tomando forma em meio ao degelo dos pólos e da economia global. O caminho da solução passa pelo derretimento das barreiras e preconceitos que limitam o todo defendendo egos e ismos.


(clique aqui em cima e assista Paula, a Brasileira engajada)

Sat Nam ;)


24.3.09

A boneca

A boneca que ela tinha, mas que aquela não. Um príncipio de questionamento. Um começo de príncipios. Próprios.

A boneca que um dia não mais falou com ela. E cadê ela? Onde é que ela está? A boneca que tem hoje um semblante esquecido, uma importância remota, uma lembrança sensorial.

Como se fosse um broche, um sabor antigo, um velho perfume conhecido. Como se fosse antiga, mas ainda morna, entre as delongas do caminho.

A boneca que ela um dia foi quase obrigada a vender justamente para aquela que nunca poderia ter. Doeu. Fudeu. Ela não soube.

Hoje não tem boneca, nem pra ela, nem pra aquela, mas o acalento de um sussurro fantasioso ainda guarda num cantinho da emoção, não apenas a boneca, mas o fato de que ela tinha e aquela não.

A boneca que ela tinha e aquela não.

Sat Nam ;)

18.3.09

Substâncias de sobrevivência

Passava da metade do dia quando ela se deu conta da quantidade de substantivos a sua volta. Compulsivamente começou a distribuir-lhes artigos: o computador, a parede, o diário, a escrivaninha. 

Notou então, que alguns estavam no plural: os livros, os papéis, as dúvidas. As horas. Apesar de que o tempo, composto por tantos momentos, é singular. E não volta.

Pegou na mão o copo, mais da metade cheio. E percebeu que sem adjetivos, os substantivos são nada além de um emaranhado de letras sequenciadas e palavras mornas soltas em contextos crus.

Foi para cozinha e enquanto mirabolava finalidades paras seus sujeitos, inventava uma química nova, um predicado diferente, uma batata com azeite e sal.

Desse modo, pegou o prato branco e quadrado, preencheu-o com tenras folhas verdes, salpicou qualquer coisa de um sutil tempero e adicionou ao cenário um delicioso filé de salmão defumado.

As cores que poetizam os objetos. As formas que formalizam os atos. Ação. Verbos.

Como pode esquecer deles? A atitude de fazer. Ser. Estar. Acontecer. Ir. Ficar. Voltar. Permanecer. Pensar. Nascer. Morrer. Continuar. Lutar. Viver. Amar.

Saboreou as descobertas sintáticas sem a antiga morfologia pedagógica tão imposta pelas aulas de português e mastigou a cada garfada todos os substantivos adjetivados e os verbos que a levavam a realmente executar qualquer que fosse a intenção.

Limpou a boca com um guardanapo lilás, a cor do espírito, e ultrapassando a métrica, rimou o detergente com a buchinha e lavou as louças num balé singelo. As mãos acariciando os substratos  que haviam posto fim ao seu desejo através dos adjetivos alterados por calor, cores e testuras do que agora fazia parte de sua constituição física.

Não havia mais a fome. Porém, uma ansiedade enorme em devorar as entrelinhas do mundo.

Existir é um conjunto de sujeitos, verbos e objetos. Adjetivos, substantivos e complementos que ligam redes de sentimentos, expressam emoções e relatam sonorada a vida, tão extraodinariamente incompreendida, em aliterações melódicas que se contrapõe.

Viver é mastigar uma pratada de substancias concretas por dia e passar a noite fazendo a digestão emocional das consequencias abstradas de tudo o que foi engolido.

Sat Nam ;)

15.3.09

Here comes the sun

Tá, burlei o fim. Eu sempre burlo os nãos, sempre enchergo os sins, mais cedo ou mais tarde. Enfim...que seja um novo começo.

É que ninguém sabe o real valor da primavera sem ter atravessado um verdadeiro inverno. Todo mundo sabe os efeitos de um raio de sol na pele, mas quase ninguém encherga os resultados deste mesmo raio no coração.

Eu tenho certeza absoluta de que os Beatles compuseram "Here comes the sun" num dia como hoje.

Aliás, enteder os garotos de Liverpool morando em Londres faz muito sentido e ouvi-los andando por Londres, é o próprio conceito da palavra "sentido", sentido na pele. Na alma, no ouvido.

Hoje o dia fez sentido. Em todos os sentidos. Um domingo super bem sentido. Sinto muito. Sinto tanto. Sinto mais do que cabe em mim.

Enfim...sem fim. Que seja um novo começo, outro senão, mais um sim.

Assim.

E não me peça pra explicar, porque eu simplesmente morreria se alguém me entedesse.

A sorte que eu quero não é a de um amor tranquilo. Eu quero a sorte é de um amor cúmplice. Na curva, na reta, na real, na lata.

Nas quatro estações do ano. 

Só o que é vero resiste ao tempo e ao clima. Que está mudando. No mundo todo. Mas isto é outro assunto. 

Sat Nam ;) 

4.3.09

Fim

Minhas metáforas andam secas. A inspiração não me dá mais sentido. Eu achei que dizia algo, mas no fundo apenas repetia tudo. Em releituras de sentimentos espalhados, em abreviaturas de sentimentos já vividos. Eu achava que dizia algo, mas apenas repetia tudo. Como repito agora, num pensar desestruturado em que me perco entro óbvio indefinido. Não fui. Não sou. Serei? Sobram controvérsias e ruas sem saída. 
E eu que achava que inventava um jeito, uma linha umas palavras, apenas copiava tudo, de um caderno secreto, que agora ficou mudo. Minhas metáforas não são minhas, nem são meus os sentimentos. As emoções comprei pela internet e o que tem de espontâneo cortei e colei do google.
Escrever é uma sina. Seria um dom, se eu tivesse. Seria um talento, se eu soubesse. Mas é uma sina, pois eu só parafraseio. Finjo que vem de mim, embora esbarre toda e cada vez no meu espelho a me dizer que minhas entrelinhas são infantis, que meu escrever é piegas, que nada disso tem motivo.
Castigo. Castigo ter necessidade de dizer, gritar letrado e não se fazer ouvido. Castigo não ser original, não ser nada demais, ser normal.
Queria saber de amor, de vida, de solidão, em prosa, em verso, em poesia. Mas não sei nem fazer refrão. Revolução. Reciclagem.
Quem me dera saber entender naquele grau sublime de deixar que seja. Porém não compreendo, não aprendo, não deixo estar.

Não vou mais escrever. Minhas metáforas são bestas, meus versos vazios e meu escrito é tão tosco...agora entendo porque não é lido.

Eu não digo. Repito tudo. Sou uma maritaca bebada com a cabeça pintada de mercúrio cromo, vendida na beira de uma estrada da Bahia a preço de papagaio.

Sem mais.


24.2.09

Eu amo meu Pena de Ganso

O meu Pena de Ganso é quase um romance. A noite, quando vou dormir, sentindo um oceano entre tudo o que eu quero e tudo que eu amo, ele me abraça. Me acolhe. Me conforta e me esquenta, sem me sufocar. Meu pena de ganso nao fala, antes assim, conto meus sonhos pra ele e o resto guardo pra mim. Meu pena de ganso é fofo, versátil e aconchegante. Quando volto pra casa, morrendo de frio, é só nele que eu penso, é só ele que eu quero. Home, sweet home. Nele eu caibo e sobro. Nele eu deito e me jogo. Nele eu enfrento as intermináveis noites de sono, ou não. Quando os monstros do escuro aparecem pra me amedrontar, ele me protege. Me faz companhia nos domingos chuvosos e assite sem reclamar a todos os filmes que eu escolho, no meu cineminha partcular. O meu Pena de Ganso é quaaaaase um romance!

Sat Nam ;)

23.2.09

Sem título

A pessoa tem que saber o que quer. Se a pessoa não sabe o que quer, tem ao menos que saber o que não quer. Então busca. Procura. Experimenta. Imagina. Espera. Vive. Se joga. Confunde. Despera-se. 
Quantos litros de lágrimas e quantos tubos de pasta de dentes são gastos entre os sorrisos e prantos que trilham sonora a vida? A procura. As perdas. Os ganhos. O labirinto do auto-conhecimento sem medida.
Expressar-se sem saber como, sem ser para olhar algum, é vão. Mas, para além de vão, é dolorido, clichezento e papel de vítima.
No eterno procurar-se, nunca há um achar pleno, completo, constante ou infinito. No radicalismo de existir não há lugar para rótulos, embora os padrões sufoquem nossas almas, provoquem nossas ânsias, cerquem nossas saídas.
A pessoa tem que saber o quer. E se não souber nem ao menos o que não quer, ou viver a mudar de ideias sobre si mesma, seu próximo passo, seu capítulo seguinte, a todo instante, então a pessoa deve ao menos procurar curar-se, aceitando sem medo todos os "não seis" que se apresentem no seu espelho.
E pela manhã, quando desperta, a pessoa que não sabe nem o que quer, nem o que não quer, abre os olhos de maneira exatamente igual ou completamente diferente e respira o novo dia como uma surpresa que começa de si para si.
A pessoa que não sabe ao certo, enche o peito da dor confusa e leva a vida feito um fardo, carregado de aventuras ou feito uma pipa, sem linha nem tristezas. A pessoa que não sabe-se simplesmente por ter exaurido a busca pela tentaiva de compreender-se, aceita a mais profunda e libertadora verdade: a de apenas ser.
Eu não me sei. Tu não te sabes. Que nos curemos nós, para que evoluindo regressemos a ausência de títulos. A eminência de atitudes. A coerência de personalidades geniais, artísticas, desafiadoras e reais.
Sincerade, na cara. Na coragem. Por este e por todos os caminhos que tem coração. Ainda que não tenham sentido, nem setas, nem placas, nem contra-mão.
A pessoa que não se sabe, sabe-se tanto que leva no peito uma embriagues constante, uma certeza inexistente e uma verdade perplexa: o AMOR.

E a necessidade de gritá-lo.

Sat Nam ;)