30.11.08

whatever

Tudo de mais, tudo de menos, tudo ao mesmo tempo. Mesmo quando nada acontece o aquecedor quebra, só pra não perder o hábito de mudar uma planta de lugar.

Esta tal loucura que eu adoro e que me é tão peculiar...

Bem que tenho algos a dizer, mas estranhamente hoje, tá tudo saindo esquisito, meio descompassado, sem rítmo.

Sobra vontade, sobra vontade, sooooooooooobra vontade, falta um par de pé. Outro. 

Tudo novo. Amanhã. Tudo renovado.

O pai da amiga das vizinhas Irlandesas era do IRA - é, provavelmente, o mais próximo do IRA que eu posso chegar. Ever.

By the way, as palavras 'anyway' e 'whatever' são as the bests. Specilly 'whatev', que fica ainda mais seca, mais curta e mais ideal. 

...whatev...

Os comecos contém os fins e dificuldade e facilidade se definem mutuamente.

Se não couber filosofia, não me serve.

Sat Nam ;)


Qualquer coisa ou nada, tem dia que da tudo na mesma. 


27.11.08

Bizarro


Hotel Taj Mahal - 26/11/08 - Mumbai - India


Minha casa foi assaltada.

Um Americano da classe da minha amiga foi espancado por 20 adolescentes.

'Deccan Mujahideens' metralhando 7 pontos de Mumbai, 101 mortos, 314 feridos.

Crueldade... 

Sem rosto, sem razao, sem limite, sem fim.

E agora???

Medo.

Sat Nam ;)


25.11.08

Da serie ` Tem coisas que soh Londres faz por voce`

Voce ja viveu de casaco? Pois eh, aqui se vive assim. Seus casacos ficam pendurados na porta. Quando voce vai ali do lado comprar leite, mete o casacao por cima do pijama e ng nem imagina sua descompostura.

Quando voce vai sair de casa pra trabalhar coloca entre a roupa e o casaco mais uma blusa, de la por exemplo. Ai voce pega sua chave, seu ipod, seu Oyster (carteirinha do metro), seu celular, sua bolsa, a sacola que contem seu sapato alto(nao da pra caminhar na rua de salto) e sempre sua umbrella. Nunca, nunca, nunca ouse esquecer sua umbrella.

Enfim, voce ta la, embrulhada na sua armadura contra o frio que contem ainda: cachecol, luvas e gorro ateh que voce chega no Tube. Antes de mais nada um dos carinhas que distribui os tabloides gratuitos enfia um na sua cara, ai voce prende aquilo entre o queixo e o ombro e continua seu caminho. Sorte que a tinta do jornal daqui eh especial e nao suja a pele. Senao todo mundo ia viver com o pescoco encardido de preto.

Entao voce rebusca seu oyster em algum bolso e passa na catraca. O metro eh um forno, hora do efeito cebola. As pessoas literalmente se descascam correndo e se atropelando entre as escadas e corredores do underground.

Minhas maos escorregam por conta das luvas, em um braco carrego a bolsa mega pesada e no outro a sacola dos sapatos. O jornal encaixado no vao pescoco-ombro, e voce espera que eu consiga tirar meus casacos como?

Desenvolver a habilidade de um polvo, nessa situacao eh uma tecnica interessante.

Chego na plataforma suando. Estaciono, coloco os pertences no chao, entre as pernas. Arranco uma luva, arranco o gorro, arranco o cachecol. Jogo tudo na sacola do sapato. Antes de poder tirar o casaco tenho que tirar dos bolsos o ipod - nessa hora o fone escapa do meu ouvido - o celular e o oyster card. Tudo correndo, porque dai o metro ja chegou eu cato as coisas do jeito que da e entro no vagao procurando um lugar pra sentar. Ufa que quase sempre eu consigo.

Porque dae comeca minha sessao check list: eu confiro se tudo que tava nos bolsos do casaco ta agora nos bolsos da calca. O celular eu sempre tenho certeza que perdi ateh que eu acho. Leio a primeira noticia sobre como a Vitoria Beckham prefere o cabelo do David e eh hora de fazer baldiacao.

Pego minhas tralhas, subo escada, desco escada, atravesso 3 corredores, pronto. Espero o outro metro. Mal entro nele e ja comeco a recolocar minhas coisas. O casaco, a parafernalia nos bolsos, o gorro, as luvas.

Cheguei. Na beirada da catraca pra sair meu oyster sempre encana em sumir. Quase morro pisoteada mas ele soh sumiu de verdade uma vez. Saio da estacao e eh como se eu tivesse aberto a porta do freezer. Meu nariz fica imediatamente vermelho e minha boca racha na mesma hora. Preciso do batonzinho.

Onde ta mesmo o batonzinho? Ah sim, na minha bolsa gigante onde eu nunca acho nada, vou andando meio capenga, procurando o tal baton, desviando das pessoas, olhando pro lado errado na hora de atravessar e tentando achar o celular pra descobrir toda a vez que estou pelo menos 7 minutos atrasados.

No meio da correria Keane, ali no meu ipod, canta no meu ouvido "everybody is changing and I don't feel the same..." I definitly do!

Sorrio sozinha e sigo by myself minha caminhada desastrada, individual e comunitaria rumo a mais um dia de aventuras na Terra da Rainha quando de repente, comeca a chover. Abro minha bolsa da Marry-Poppins a procura do Guarda-Chuva e ja fico planejando com que mao vou segura-lo. Ainda nao sou um polvo, mas um dia eu chego la.

Pra quem nao gosta de vida normal, isso aqui eh poesia!

A-do-ro!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Sat Nam ;)

24.11.08

E agora?

Um buraco na janela muda tudo. Eu so queria ler filosofia ouvindo Jimi Hendrix, bebendo vinho e comendo chocolate. Porem um tijolo quebrou o vidro, alguem invadiu minha casa e de um jeito ou de outro, mudou um pouco minha vida.

Levou meu lap top, minhas fotos, minhas musicas, meus escritos. Por intuicao, tenho backup de tudo. Por invasao alguem tem boa parte da minha vida na mao.

E agora? Eh a pergunta que nao quer calar. E agora? Eu nao sabia nem mesmo o numero da policia. Agora ja sei que existem 3 tomando conta do caso - Metropolitan, Islignton e Holloway.

E agora? Fiz amizade com as vizinhas irlandesas e parceria de trabalho com uma delas, que eh fotografa. Conheci Vaz, o Land Lord (dono) da minha casa, conheci Tony - o vidraceiro de Cipre que come bata frita com vinagre -, conheci os oficiais 204 (Lea) e 402 (PC) que foram profundamente queridos e prestativos oferecendo uma compaixao que eu jamais esperava de um policial Europeu. Conheci Ryan o cara da Policia Forense que tem uma mala igualzinha a do SCI e que achou na nossa janela uma impresao digital que "tem grandes chances de ser do invasor".

Reconheci as Carols e Ma e as meninas do Guanabara como minhas amigas de verdade, com quem posso contar sempre. Reconheci o fato de que preciso muito delas.

Relembrei que em situacoes extremas eu me comporto muito bem. Meu raciocinio sobressai as minhas emocoes. Elas, noentanto, foram parar no meu ombro esquerdo e se transformaram na maior dor que eu ja senti na vida. Descobri que nao sei qual o hospital mais proximo da minha casa, nem que atitude tomar numa emergencia medica alem de ligar pro meu pai.

Reconheci que precisava de ares marcianos em toda aquela situacao e liguei para um amigo. Outros, sabendo da noticia, tambem apareceram. Homens nasceram para salvar mocinhas indefesas, eles nunca falham neste tipo de ocasiao. Descobri que eh um conforto te-los por perto tambem nessas horas.

Me senti insegura, perdida, confusa. Me senti sozinha. Me senti querida com todo o carinho que veio atraves do telefone de quem ta longe e de quem ta perto e me senti melhor e mais tranquila.

Continuo sabendo o infinito que existe na frase "bakground familiar" e que eu tenho de sobra.

Tive medo. Muito mais medo de ter que fazer tudo de novo - procurar outra casa, mudar as contas, mudar o endereco no banco, aprender os onibus - do que do assalto em si.

Reconheco que tudo isto me deixou muito esquisita. Muito exposta e muito fragilizada. E que esta descomposicao fisica e mental acontece carregada de uma nova disposicao.

Tenho pena de uma pessoa que invade uma vida e toma posse do que nao eh seu. Tenho pena de uma pessoa que acha que pra chegar do outro lado eh preciso atirar um tijolo, quebrar uma janela e sair correndo depois.

Descobri que encontrar perspectivas positivas atras de situacoes indubtavelmente ruins eh inteligente e mais facil do que parece.

Trocar o Jimi Hendrix, o chocolate e a filosofia por umas xicaras de Cha com as vizinhas de cima na cena do crime nao foi uma escolha minha. Ter que comprar um computador novo nao estava nos meus planos financeiros para este ano e me sentir estranha quando estava me sentindo plenamente adptada nao era o que eu mais queria.

Porem, a disposicao de nao tomar esta invasao como ofensa, me deixa claro que o importante eh solucionar os danos praticos e abracar aprendizados, descobertas e oportunidades que surgem de tudo isto.

Conheci o desprazer de uma noite mal dormida por culpa de uma dor muscular e a sensacao de nao saber o que fazer diante de um incidente inesperado. Descobri que nao mais que de repente uma algumas prioridades mudam de ordem na nossa vida. A neve caiu no domingo, o sol nasceu na segunda e percebi que mesmo descompassada nao sai do meu centro.

Aprendi que equilibrio tem mais a ver com nossa a disposicao para alcancar o outro lado dos muros do que com a dos outros de estilhacar nossas janelas.

E agora? Eh uma questao sempre em aberto pra quem busca evoluir.

Sat Nam ;)

20.11.08

Credit Crunch

Lá do outro lado do Oceano Atlântico as pessoas me perguntam sobre a crise: E aí, dá pra sentir algum efeito?

Dá. É mesmo pra valer. Se você não prestar um pouqinho de atenção não vai perceber, embora pequenos detalhes do dia-a-dia estejam carregados das mudanças econômicas e da insegurança a respeito da novidade que esta geração 'deles' nunca viveu antes.

A inflação está em 4,5%. Isso para Reino Unido é um número ultrajante.

Não tenho grandes amigos no mercado financeiro, porém uma classamate que tem, contou na aula dos seus 3 ou 4 amigos que perderam o emprego e agora estão aí, na malha dos ansiolíticos.

Outro amigo que trabalha num hotel há dito que os finais de semana, antes habitados pelos viajantes a passeio, andam as moscas.

O arroz não subiu. O queijo não subiu. A beringela subiu. O mojito não subiu, a breja tampouco, mas dizem que a gente vai sentir mesmo é na energia e no gás. Como não tenho parâmetros anteriores para comparação, vou indagar por aí e depois relato.

O que fica latente, até agora, é que as pessoas estão deixando de gastar com o que podem sem deixarem de fazr o que querem.

Exemplo, no Guanabara (http://www.guanabara.co.uk/) a galera continua indo beber, contudo a maioria deve comer um sanduíche na rua, ao invés de comer a comida de lá (mais cara) e as vendas do restaurante já caíram.

As sextas feiras, que têm como publico principal a 'turma-do-escritório' que imenda o happy-hour, estão definitivamente menos cheias, no entanto os sábados continuam abarrotados.

E, na minha percepção, por enquanto, é isso.

Aqui na Inglaterra a maioria das pessoas não tem dinheiro "juntado" própriamente. O que elas têm, e desde jovens, é crédito e como a economia é (ou era) estável com este crédito elas investem no que querem - tanto propriedades como empreendimentos e investimentos - sem se preocupar com o pagamento na sequência, pois é (ou era) só uma questão de tempo até saldar as dívidas.

Confesso que nunca fui lá muito interessada neste aspecto econômico e que ainda não consigo entender direito quem decide quanto custa o dólar (sim, eu sei que tem a ver com tesouros nacionais e bla bla bla), mas o assunto do momento é este e uma jornalista deve se inteirar.

Devo dizer que tenho achado minhas investidas na área muito interessantes, afinal aprender é sempre uma viagem.

Enquanto o mercado se quebra e a jornalista aprende um pouco de economia, a aquariana diria que é nada menos do que mais um sintoma da Era de Áquario.

Aliás, as outras crises ferradas do setor financeiro também começaram em outubro, de 1929 e de 1982. Coincidência? Talvez...

Sat Nam ;)

Blue Blood

"Encontre um homem que te chame de linda em vez de gostosa.Que te ligue de volta quando você desligar na cara dele. Que deite embaixo das estrelas e escute as batidas do seu coração.Que permaneça acordado só para observar você dormindo.Espere um homem que te beije na testa.Que queira te mostrar para todo mundo mesmo quando você está suada. Que te acompanhe para ver um romance mesmo que o preferido dele seja terror. Que segure sua mão na frente dos amigos dele. Encontre um homem que te ache a mulher mais bonita do mundo mesmo quando você está sem nenhuma maquiagem.Que insista em te segurar pela cintura.Que te abrace de surpresa na frente de todos.Que te lembra constantemente o quanto ele se preocupa com você e o quanto ele é sortudo por estar ao seu lado.Espere um homem que com certeza está esperando por você.Que responda as suas atitudes em relação a ele.Que vire para os amigos e diga É ELA! "

Se ele for liiiiiiiiindo, alternativo, interessante e misterioso, melhor ainda.

Se além disso ele ainda for gostoso, poeta e tocar violão, óóóóóótimo.

Se para além deste tudo ele ainda for real - PERFEITO.

(Os meninos que me desculpem, mas preciso dividir esta foto do Harry com a mulherada que passa por aqui)



Mas se além de real, ele for da realeza...

...sangue azul e cabelinho vermelho...hummmmm

Foda é ter que ser Princesa. Hmpf!

Pelo menos pra alguém a guerra tá fazendo um bem danado.

Vou me preservar acabando por aqui. É que hoje eu acordei babaca - as vezes acontece - e isso é um perigo.


Sat Nam ;)

(e que Sat Nam!!!!!!)

só um ps-zinho-juro-prometo: enquanto procura o tal cara das aspas ou espera o ruivinho voltar do front, tá cheio de gente errante pra gente se divertir bastante!!!

17.11.08

Num rítmo alucinante

Oba, já é mais de meia noite. Hoje já é amanhã. Posso postar de novo.

Juro, só mais estas linhazinhas e já vou dormir. Prometo.

Estou compulsivamente escrivinhenta. Deu pra notar? Tudo o que vejo, sinto, leio, penso, ouço vira logo um tema, uma metáfora, uma excelente razão pra massacrar o teclado. Rápido dedos, rápido. Vocês precisam acompanhar a velocidade dos meus pensamentos antes que mais esta boa idéia fuja de mim.

Não sei se é a novidade de me sentir lida. Não sei se é o hábito entrando de vez em mim. Não sei se é a hora. Não sei se é uma fase. Só sei que sinto uma necessidade constante de escrever. Num rítmo alucinante. E é isso.

Agora vou dormir.

Depois de um domingo lento, algum sorriso bobo (adorei!). Depois de não ter terminado meu artigo, de ter lido quilos, escrito quilômetros. Depois de assistir Sexy and the City, de pensar em negação, de assumir a compaixão. Depois de...

Antes que eu comece.

Sat Nam ;)

16.11.08

Uma lista de prazeres culposos

Domingo como sempre, pede cachimbo. Mas eu não pito e as 4:30 da tarde é noite na Ilha da Rainha. Nem ligo. Confesso que adoro estes domingos de chuvinha fina e rassaca em que eu durmo até doer, acordo, como, vejo filme, durmo, como, vejo filme, falo no telefone, entro na internet, vejo filme. Juro que vou escrever meu artigo pra amanhã e vejo outro filme. As vezes só, as vezes em dupla ou em bando.

"Sou uma lista de prazeres culposos".

Outro dia lia isso aí no profile de alguém no orkut, óbvio que eu fuço no orkut alheio, o que vem a ser mais um prazer culposo na minha infinita lista. É que esta coisa de prazer com culpa é minha goibada com queijo.

Num outro 'outro-dia' ouvi uma parada do tipo: "um pouco pode". Achei tão sensata esta constatação. Queria tanto ser sensata!

Mas tenho um lance com excessos. Tudo intensamente até o fim pra sempre. Ou: Nada em hipótese alguma nunca de jeito nenhum jamais. Radical. É ou não é e pronto. Ponto.

Não sou de tomar uma cerva, tomo logo 6 garrafas e vou embora bêbada. Não aguento ficar na praia umas 2 horas, passo logo o dia inteiro e volto pra casa ardendo e bêbada. Comer 2 bombons de uma caixa é tarefa impossível para minha pessoa, tenho que devorar a caixa toda. Detesto coisa pela metade, desperdício, reserva...gosto de ver o fim. O fundo. O inteiro.

De-tes-to metades. Éáááááakatiiiiiiiii. Inclusive gente normal e vida mais ou menos. Sorriso blasé. Pano de pia. Telefone ocupado e 'colega'.

Mesmo que os fins me levem aos fundos. Mesmo que o último bombom da caixa venha com uma arroba de culpa e minha consciência pesada me arraste pro fundo do poço.

Economia é uma palavra que me causa náuseas. Não porque eu não ache o ato necessário, mas porque ela faz parte dos niveís de disciplina que jamais consiguirei atingir. Eu esbanjo. Se minha fortuna for 5 esbanjo comprando o vinho de 4. Se minha fortuna for 50 esbanjo comprando 8 vinhos de 4, convido meus amigos e radicalizo. Se minha fortuna fou 4 vou até convent Garden de Metro. Se for 400 compro uma passagem pra Israel.

Se economizo 5o centavos pra comprar uma água na rua, fico com a garganta seca e depois acabo gastando 5 pila numas pastilhas.

Pra que economizar vida? Salvar é uma palavra em castelhanho e em inglês que tem os mesmos própositos e eu prefiro. Soa mais coerente. Você salva um tempo, um dinheiro, uma opinião e depois, aquilo te salva de volta. Ação e reação.

Talvez a reação do prazer seja inevitavelmente a culpa. Talvez a culpa esconda em seus entremeados um pouquinho de prazer. Acho mesmo que o prazer não se concretiza totalmente sem a culpa.

Enfim, Desculpa!

Sou uma lista de prazeres culposos sem fim. Amo e odeio ser assim.

Sat Nam ;)

15.11.08

Roupa de Cama

Tem coisas na vida da gente que deveriam ser como roupa de cama: cansou, troca.

Arranca a fronha do travesseiro, arranca o cara do seu coração. Coloca a capa no endredon, enfia outra idéia na sua cabeça. Encaixa o lençol de baixo e uma nova pessoa na sua vida.

Aí pega o que tá sujo - máguas, solidão, medo - enfia na máquina de lavar com bastante amaciante e depois de umas duas horas tira, estica num varal aquilo tudo meio amassado, retorcido, com outro aspecto. Limpo. Cheiroso.

Tem coisas na vida da gente que deveriam ser como roupa de cama: lavou tá novo, toda semana troca e, ademais, tem sempre uma extra.

Tem cama demais na vida da gente.

Sat Nam ;)

13.11.08

Eu sofro!

Eu sofro. Eu realmente sofro. Sofro profundamente e não posso suportar. É mais forte que eu.

Como posso continuar fazendo as unhas se Anita - uma indiana de 5 anos - tem a vida tão dura? E se ela pudesse ir a escola? E se ela pudesse brincar? E se ela pudesse comer todos os dias? A essa altura a cena na tv é Anita (uma criança de meio metro) com uma faca gigante na mão descascando uma mandioca mirrada. Eu penso "cameramen estúpido tira essa faca da mão desta criança". Enquanto isso a voz em off continua: "com a sua ajuda ela pode. Ligue para 0800 qualquer coisa e doe 3 pounds..." blá blá blá.

Acabo de passar a primeira camada do meu esmalte vermelho e estour prestes a começar a segunda quando não mais que de repente, outro anúncio. Desta vez são os cachorros abandonados nas ruas. Bob amava seu dono e achava que ele nunca o abandonaria, mas ele o abandonou. Perdido, com frio e com fome - uma cena mesmo depressiva daquele cachorrinho cabisbaixo - ele é enfim resgatado por uma espécie de "cruz vermelha" dos animais. Agora ele está bem e vai abanando o rabinho para ser adotado quando, oh não! A familia não gostou dele e ele volta pra sua gaiolinha.

Nããããããããão, eu não posso suportar. Voz em off: "a realidade de Bob pode ser diferente se você doar..." mudo de canal.

Fotos de um gatinho sem olho, um cachorrinho sem perna, um passarinho sem asa...voz em off: "por apenas 2 pounds por semana você salva a vida de milhares de animais..." mudo o canal outra vez.

Um programa qualquer bem tosco. Ótimo pra eu treinar meu inglês enquanto vou passar a segunda camada.

Voz em off: "eu sou um burrinho de carga. Todos os dias trabalho exaustivamente. Sinto muita sede, mas eles não me dão água, sinto dores mas eles não me deixam parar. As vezes, quando a dor é insuportável eu caio..."

A cena é de um burrinho carregando tijolos, num deserto qualquer da África, com o lombo machucado, magriiiiinho, caído no chão, com aquela cara de coitado que só os burrinhos sofridos da África têm.

Estou em prantos. As lágrimas escorrem dos meus olhos aos litros, gotejam nas minhas unhas recém pintadas, meu coração não aguenta, meu peito dói e o burrinho não pára "as vezes vem uma moça me trazer água, fazer carinho no meu rosto, cuidar dos meus machucados..." Vai voz em off, que porra de número eu ligo pra salvar este burrinho? Não quero doar nada, quero comprá-lo. Aliás, quanto fica o pacote?

Anita, a menina de 5 anos que caminha 2 horas pra buscar água + Bob o cachorro que ninguém quer e esse pobre burrinho que cai exaurido com o lombo cheio de feridas no meio do Marrocos. Tenho 10 libras, pode ser? São todas as moedas do meu cofre. Compro os três, coloco-os para morar no jardim da minha casa.

Anita vai poder enfim brincar, o burrinho vai poder descansar e o cachorrinho vai ter um lar. Vou dar-lhes água, comida, amor e carinho.

E aí quem sabe vocês, vozes em off e cameramens oportunistas, param de invadir a sala da minha casa com essas histórias deprimentes implorando por moedas para salvar os fracos e oprimidos.

Moedas que eu e 90% dos ingleses vamos gastar com cerveja, chocolate ou jornais e quando abrirmos a página lá estarão Anita, Bob e o Burrinho esfregando em nossa cara cheia de blush suas vidas miseráveis.

Acabo de fazer minhas unhas soluçando de tristeza indignação e culpa. Se eu deixasse de andar de metro uma semana provavelmente poderia salvar o mundo!

E o mais engraçado? Com o dinheiro destas publicidades em rede nacional dava pra comprar um snoopy e um ponei pra cada uma das Anitas do planeta.

Sat Nam ;)

12.11.08

talvez...

Talvez a realidade seja melhor que o sonho. Talvez apenas. Vislumbro. Não sei. Como posso saber se não consigo separar as duas coisas e toda vez em que tento vai-se um pedaço de mim.

Talvez viver não seja toda essa coisa de nascer, reproduzir e morrer. Ou talvez seja. Talvez viver esteja mais nas entrelinhas do que nos fatos. Talvez viver seja mais explícito no indizível.

Talvez viver seja a poesia de um banho quente ou a obviedade de uma flor. Talvez viver seja perder a hora, perder o fôlego, perder o rumo, perder-se. Lidar com as perdas.

Talvez viver seja brindar, celebrar, socializar. Talvez seja íntimo, calado, profundo. Talvez seja um café amargo, talvez seja um dia ensolarado.

Talvez viver nunca seja o suficiente. Talvez o bastante seja sempre pouco. Talvez viver seja lutar, talvez seja beijar. Talvez apenas seja.

O que quer que talvez seja, ou não, certamente viver é agora. Sem precisão.

"Se é assim, que então seja assim! Como o mar que não pode desviar das pedras, então bate nelas pela eternidade, até que elas abram caminho. Como a estrela que irradia sua luz por milênios para que a vejam, mesmo quando, no infinito, ela já nem mais existe. Como um sonho, que prá conservar seu conceito não se permite tornar-se realidade. Feito Deus, que é formatado pela crença e pela aceitação. Como palavras, que só fazem sentido enquanto alguem refletir sobre elas. E depois, adormecer em paz, grato pela consciência de que cada um é seu próprio mundo, sua história ímpar de passagem pelo Universo." (meu pai)

Sat Nam ;)

11.11.08

As flores de plástico não morrem

No dia 11 de Novembro de 1918 Alemanha e França assinaram um acordo que colocava fim a primeira Guerra Mundial.

10 milhões de pessoas, entre soldados e civis, morreram naquela batalha que até então era considerada a "Grande Guerra".

Hoje, dia 11 de Novembro de 2008 o mundo celebra os 90 anos do fim desta primeira grande guerra.

Cidadãos de diversos países como Alemanha, França, Inglaterra, Canadá e Nova Zelândia andam pelas ruas, desde meados de outubro exibindo na lapela de seus paletós Hugo Boss e na gola de suas Camisas bem engomadas uma florzinha de plástico vermelha.

Ao comprar uma destas florzinhas - que aqui em Londres são vendidas em qualquer lugar por uma libra - você está não só homenageando os soldados mortos em combate desde então, como também ajudando as associações que cuidam dos feridos em guerras.

O mais engraçado é que pessoas de verdade continuam morrendo a cada dia nestas disputas truculentas por poder, posses, dinheiro.

A segunda guerra veio. Muito mais gente ainda morreu. Os judeus, tantos inocentes. A Guerra do Bush está aí, será que com o apito na mão Obama vai finalisar a partida?

A cada 11h deste dia 11 de Novembro de 2008 milhares de pessoas em milhares de países do mundo estão fazendo 2 minutos de silêncio pelos soldados mortos na Primeira Guerra Mundial.

A parte rica do planeta exibe um acessório vermelho, simbolizando esta dor, esta perda. Embora a intenção seja boa, as flores de plástico não morrem e um sem número de vidas ainda murcha, nos fronts, nas linhas, nos limites... 90 anos depois.

O resto da existência humana de silêncio e todas as flores de plástico do mundo são nada perto da dor individual e sem fim de cada um que sofreu na pele a injustiça de qualquer guerra.

Eu grito e minha flor é natural.

Sat Nam ;)

10.11.08

Morrer agora? Tô fora!

A noite passada eu sonhei que morri. Sei lá, não lembro bem do contexto, mas sei que de repente meu coração parou do nada e puft, eu morri.

Na mesma hora eu acordei.

Uuuuuuufaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Eu acordei, ou seja, eu não morri.

Só que aí me deu um medo. Um medo estranho. Um medo profundo. Um medo real. Um medo absoluto. Um medo MEDO mesmo, com todas as letras maiúsculas.

Na mesma hora acendi meu abajur, impossível ficar no escuro com medo, ainda mais com medo de morrer. Se bem que, no fundo, no fundo todo e qualquer medo é mesmo um só: o medo da morte!

Enfim, me bateu aquele medo descascado, o medo em seu estado mais verdadeiro e de repente minha matraca mental desatou a tagarelar.

Eu não quero morrer agora nem fodendo! Imagina! Quanta coisa eu ia me arrepender! Pra começar eu ia me odiar eternamente por cada momento que eu desperdicei achando que sou gorda, querendo ser magra. Nossa que pateta! Preciso mudar esta minha atitude amanhã, assim que eu levantar da cama. Quanta coisa eu tenho pra fazer ainda! Vou fazer tudo amanhã. Opa, calma, não dá pra eu acordar amanhã ir pra Índia, virar jornalista, escrever um livro, casar e ter filhos, conhecer o mundo todo, comprar uma casa linda, resolver todas as minhas nóias...

É, definitivamente não dá pra eu fazer tudo o que eu ainda tenho para fazer na vida amanhã. Mas dá pra eu pelo menos parar de perder meu tempo com essa minha insanidade fútil de ser-gorda-ser-magra antes que algo me aconteça e eu me torne um fantasma perambulante pesando 21g e carregando uma tonelada de arrpendimento por toda eternidade!

Sat Nam ;)

3.11.08

Eu voltei, voltei para ficar

'Atravesso a tormenta e sinto o êxtase da libertação.' (calendário da paz, dia de hoje)

A vida é mesmo um rio. Há momentos em que uma canoinha simples é suficiente para navegá-lo. Em outros é necessário capacete, bote inflável, companheiros e extrema coragem. Rafting ou navegavel as águas deste rio nunca param.

Depois de quase me afogar (mais uma vez) consegui voltar pro bote. Tanta gente me ajudou. Tanta gente me puxando, se alternando em segurar a minha mão enquanto a correnteza ia ao contrário, tentando me arrastar.

Tive tanto medo! Confesso que ainda estou adrenalizada.

Quantas vezes, nestes últimos 3 meses eu quase subindo no bote e lá vem uma pedra, um galho, uma queda d´agua. Engoli muita água. Minhas forças chegaram perto do limite. Fiquei mesmo fraca.

Foram as pessoas com seus exemplos, palavras e paciência que me fizeram aguentar. As pessoas, o amor que sinto por elas. Vê-las ali dedicando-se a mim quando elas mesmas têm que atravessar seus percursos caldalosos, resgatou minha vontade. Minha vitalidade.

O tempo também ajuda, pois que ao correr incessante o rio vai deixando os obstáculos para trás. Superados.

A natureza com seus sinais que vêm do céu, das flores, do ar.

No fim, o último impulso, quando as águas estão mais calmas, o coração mais tranquilo, os braços mais firmes, o olhar mais corajoso, a alma decidida.

De repente estou novamente dentro do bote. Extremamente grata. Aliviada. Esperançosa. Forte.

Ainda estou molhada, não tirei o capacete, nem o colete. Todos que me ajudaram sempre souberam que eu conseguiria e por isso estiveram ali o tempo todo.

Foi pela certeza em seus olhos que eu voltei.

Voltei por mim, por todos que acreditaram em mim e para ofecer o mesmo olhar confiante a quem precisar.

O sol se pões mais cedo. O dia amanhece de noite. O inverno chega e meu coração está aquecido.
Eu voltei. Voltei para ficar.

Sat Nam ;)