13.12.08

2009

Quando o último segundo deste ano encostar no primeiro segundo do ano que vem, desejo que um sentimento de gratidão inunde nossa alma.

Que nossos abraços representem não só nossa união com os outros, mas principalmente com nós mesmos.

Que a ondinha que molhar nossos pés ou nossos pensamentos venha espumando de esperança e que a gente dedique um de nossos pedidos ao mar, a natureza, ao planeta. O nosso mundo que ainda podemos salvar.

Nas mil vezes em que nossos copos se encostarem, que brindemos ao que passou, ao que virá, mas acima de tudo, ao que já é. Ao que já somos.

Que nossa disposição pessoal seja humana: substituir a pressão - que é o excesso de pressa - pela aceitação

Que nossas propostas individuais caibam no coletivo e que a compaixão e o respeito façam parte das nossas escolhas.

Que nossos sorrisos e todos os sorrisos que estarão brilhando a nossa volta, reflitam para além de imagem, essência.

Seja champagne ou chapinha, que a gente não beba para esquecer e sim para lembrar, o quanto a vida é bela e que o tempo não para de passar.

Que no dia seguinte, apesar da ressaca, a gente sinta na alma uma plenitude nova. Uma esperança cheia. Uma vontade incrível de viver.

Que no próximo ano a gente ouse mais ser quem, na verdade, a gente é. E siga os caminhos que têm coração.

Que 2009 seja um ano de mais ser e menos querer.

E quando 2009 chegar em 2010, que a gente tenha a certeza de ter percorrido 60 segundos de caminho em cada 1 minuto das 24 horas de todos os 365 dias que terão ficado para trás.

Luz na alma, paz no espírito e fé na vida sempre!!!

Que gente se cuide e, como de costume, se jogueeeeeeeeeeeeeeeeee

Sat Nam ;)

"A aproximação do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar" (Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.)

10.12.08

Da Série: tem coisas, que só Londres faz por você

Mal saí de casa, dando bom dia pro dia chuvoso e já fui obrigada a ouvir um "fiu, fiu" de um Árabe. Só mesmo um Árabe pra enchergar motivo de "fiu, fiu" debaixo de tanta roupa. Vai ver, eles desenvolveram visão de Raio-X pra enchergar além das burcas.

Entro no metro e duas chinesinhas estão conversando. Elas e seus risinhos. Elas e seu mandarim compulsivo. Elas e seu Chinês barulhento. Caraca, como é que isto pode ser a língua materna de alguém? A China deve parecer uma gaita desafinada!

Saio do metro perturbada e resolvo ir de busão. Escolha errada. Mulecada indo pra escola, elas de sainha xadrez e penteados volumosos, eles e seu estilinho "sou do gueto, mas tenho que usar este uniforme com gravata". Bixo, eles fazem barulho. Tenho zero paciência com adoslescente. Em qualquer idioma.

Ok, vou apé. Se ao menos conseguisse andar na rua. Experimente cruzar a Oxford Street em horário de pico, talvez se você possuir o cajado de Moisés esses Hare Chrishinas calem seus chocalhos estridentes.

Aiiiiiiiiiii, que susto. Pode parar esta ambulância e manda-lá me levar pro hospital mais próximo com suspeita de explosão do tímpano. Precisa ser tão alta esta sirene? Deve ser pra sobressair aos decibéis de todas as línguas do mundo.

Ufa, cheguei no estágio. Silêncio. O tlec-tlec dos teclados é um mantra pros meus ouvidos. Ou seria, não fosse o fato de que o chefe chegou animado e resolveu ouvir Música Popular Índiana no último volume.

Que ótimo, se a Portuguesa resolver colocar um fado e a Nigeriana tiver vontade de cantar um rap do seu país eu juro que vou chamar a London School of Samba e aí, vamos ver quem fala mais alto.

Pra dias de TPM Londres deveria ter versão close caption.

Sat Nam ;)

9.12.08

Choque Multicultural

Walaa tem 23 anos, nasceu em Xipre. Loreta tem 21, nasceu em Londres.

O que elas tem em comum além de fazerem estágio no mesmo lugar que eu? Nenhuma das duas cogita a hipótese de sexo antes do casamento.

Isso tudo em Londres, 2009 depois de Cristo.

Walaa é muculmana. Seus pais são "bastante liberais". Não se importam com as roupas que ela veste, nem a obrigam a cobrir a cabeça. Porém, se souberem que ela bebe...

Loreta é Testemunho de Jeová.

E acha "super complicado ser virgem hoje em dia"

Ao que Walaa completa: "é mesmo, eu ja 'perdi' um monte de gatinho por causa disso. Quando surge o assunto 'sexo' e eu digo que sou muçulmana, quase sempre nunca mais ouco falar deles. (rs) Mas quer saber? Isso me livra de muita confusão. Se o cara só quer isso, então que vá embora"

Mas vocês namoram, né?

"Eu ja namorei várias vezes" - É Walaa quem fala. "Eu nunca namorei sério" - Agora é Loreta.

E vem cá, vocês podem paquerar? Sair sem compromisso? Sair com pessoas de outras religiões?

Loreta: "eu posso. Mas nunca conto que sou Testemunho de Jeová, senão o garoto já some!" rs

Walaa: "eu também posso e faço questão de contar. Se gostar de mim isso não é o mais importante. Já saí com meninos de várias religiões. Já até namorei um que não era "muslim". Mas casar tem que ser com muçulmano"

E como é que você faria se quisesse casar com este seu ex-namorado?

"Ele ia ter que se converter"

Ao que Loreta questiona:

"Mas como é que uma pessoa se converte a uma religião simplesmente por conta da outra?"

"O namorado da minha amiga acabou de se converter. Ele não liga pra religião, não acredita em nada, então pra ele não faz diferença, ele fez por que é importante pra ela. Mas o namorado da minha prima se converteu, estudou o Islamismo e hoje em dia é praticante de verdade."

Loreta: "Pra nós, Testemunhos, não tem essa de ser 'de verdade'. Ou é, ou não é. Pra ser um Testemunho de Jeová você tem que ir a igreja pelo menos uma vez por semana, abdicar do sexo fora do casamento..."

Walaa:" É, pra ser muçulmano também tem uma série de coisas que você tem que cumprir, e embora eu me sinta mal com isso, não consigo fazer tudo o que a religião manda. Mas sexo nunca fiz!"

Nessa hora Mildred - filha de Quenianos, nascida e criada em Londres, negra, corpão, unha compridassa, cabelo lisérrimo - entra dando uma voadora:

"O queeeeeeee? Como assim? Você nunca transou?"

Walaa, super de boa, responde: "Não!"

"Nem eu!" - imenda Loreta.

"Mas porque não???? Vocês não tem vontade???"

Loreta: "Hummm, mais ou menos, acho que como eu nunca fiz e não sei como é, não me faz falta"

Walaa: "Eu tenho vontade. Mas quero me guardar pro meu marido"

Loreta:"Eu também vou me guardar pro meu marido. Pra mim o sexo é a transformação de dois em um, é uma coisa sagrada. Não isso aí que todo mundo faz"

Mildred: "Olha meninas, eu sinceramente não acho que Deus tenha tempo pra se preocupar com a vida sexual de cada um. Aliás, ele podia até se preocupar um pouquinho mais com a minha..." (Ri sozinha) 

"Agora, eu gostaria de avisar vocês que a maioria dos homens que se encontra por aí - e olha que eu conheço de tudo, incluisive Testemunhos de Jeova e muçulmanos - não tem a menor capacidade de proporcionar um sexo sagrado.

"Portanto, acho um perigo esta história de não experimentar a mercadoria antes. Depois o produto vem com defeito e onde é que eu vou encontrar Deus pra trocar?"

Todo mundo cai na Gargalhada. A Brasileira curiosa, a Muçulmana que bebe, a Testemunho de Jeova que nunca namorou e a Queniana super sexy. Até mesmo Débora, a Indiana que senta do outro lado da sala e só abre a boca pra mastigar, esboça um sorrisinho.

Culturas e religiões sempre se chocam.

Sat Nam ;)

8.12.08

Quero

Quero desvestir minha ansiedade. Será possível trocar um quilo de angústia por um pote de paciência? Se der, pede também um vidrinho de fé. Quero estrangular meu medo. Fazê-lo em pedacinhos e mandar pela descarga. Quero um litro de creme de leite fresco pra comer com morangos silvestres enquanto assisto a derrocada da minha falta de confiança. E pode mandar também um champagne, que eu vou comemorar horrores. Quero abrir a janela ao invés da geladeira e descobrir alguma flor que ninguém nunca viu. Todo dia de manhã eu ouço passarinhos. Dois que passam juntos, outro que passa sozinho. Num frio de congelar sereno, com aquelas peninhas finas, fico imanginando se eles cantam ou se gritam por socorro. Quero um casaco sem penas, sem peles, de pêlos sintéticos. Quero um trabalho pra pagar minhas contas, conhecer cada gaveta do mundo e tirar retrato-palavrado de tudo. Uma letra depois da outra e vai mudando o mundo. De repente. Quero viver soletrando, conferindo algum sentido. Sendo em versos. Propositando sem medidas uma - ou várias - idéia repetida. Quero um relógio que marque um tempo só meu. Que me avise a hora certa de ivestir ou deletar. Quero criatividade no meu 'control-vêsar'. Copy-paste, as vezes, é catalizador demais. Quero um tempo mais demorado. Só de sábado. E de férias. Quero tintas glow-in-the-dark pra eu não sentir solidão no escuro. Abraço também serve. Quero telefone barato. Guarda roupa que se recicla conforme o stilo muda. Quero estilo que mude sem mudar essência. Tatuar atenticidade na testa talvez me ajuda a não esquecê-la. Duas malas de trinta e dois quilos abarrotadas de kit kat. Vou comer todos de uma vez. Quero tim-tim agora e um monte de jajá.

Meu propósito eu mudo, mas meu sentido é escrito.

Sat Nam ;)
"Eu preciso acreditar na comunicação, não há melhor remédio para a solidão. É por isso que eu não fico satisfeito se o que eu sinto fica só dentro do peito"

Gabriel, O Pensador

Sat Nam ;)

5.12.08

Sem sol

Caroline Pivetta da Motta, gaúcha de 23 anos, está presa há 40 dias por ter pichado as paredes do Prédio da Bienal, em Sampa.

Aparentemente esta foi só a gota d'agua no extenso currículo da menina que tem a pichacão como "meta de vida". Perfeitamente justo e aceitável privar do convívio com a sociedade alguém que pretende assumidamente fazer do vandalismo sua profissão.

Não fosse pelo contexto.

A menina, bastante encrencada pelo seu envolvimento na deploracão de obras públicas, disse que pichar a Bienal foi um ato de protesto em favor daqueles que não tem acesso "a tudo isso aqui".

Além do mais, atesta, "me identifico com o vazio".

Não é de se admirar.

Caroline foi criada pela mãe. Aos 15 anos, após uma tentativa de suicídio mal sucedida, abandonou a escola. Foi parar em São Paulo. Trabalhou como telemarketing. Hoje não tem trabalho nem residência fixa. Consequentemente, perde o direito de responder ao processo em liberdade.

Qualquer semelhanca com grande parte da populacao brasileira de baixa renda nesta faixa etária, é muito mais do que triste coincidência.

"Tanto grafite, quanto picho são underground, coisa do fundão. Não são feitos para exposição em galeria. A parada que eu faço é na rua, é para o povo olhar e não gostar. Uma agressão visual".

O que estamos fazendo com os nossos jovens que tentam? Marginalizando-os da sociedade. Impedindo-os de se expressar. Desvalorizando sua idéias. Emudencendo suas vozes. Trancafiando-os em selas junto a traficantes, ladrões, assassinos. Transformando-os nisto aí. Fomentando suas revoltas.

Destinando-os ao tormento eterno de seus vazios.

Caroline é uma pessoa cheia de ideologias. Um ser pensante. Uma criatura que sente e, por uma questão de alma, tem necessidade de se expressar.

Eu e ela temos uma simples diferenca: ela é do gueto, eu sou do 'point'. O que nos separa é o ambiente, a condicão sócio-econômica e, a esta altura, a imensa diferenca de oportunidades. Tudo isso que os Budistas chamam de Carma.

Se alguém oferesse um pouco de Platão e quicá de Prozac a essa menina. Se alguém compreendesse a necessidade que ela tem de deixar sua marca. Se alguém valorisasse sua ânsia entrelinhada de batalhar por um futuro melhor.

Se alguém enchergasse a menina sensível por tras da pichadora agressiva. Lhe aprensentasse Fernando Pessoa. Nietchze. Khalil Gibran. Se alguém ouvisse seu grito exausto por um socorro que nunca vem.

Se alguém olhasse para além de toda marginalidade impregnada em sua aura e enchergasse a artista. A genialidade em sua essência. A coragem. A ousadia.

Eu tenho uma sugestão. Coloquem-lhe um balde de tinta branca na mão e depois que ela limpar tudo o que sujou, mostrem-lhe que as coisas têm concerto. Que há uma medida para o certo e o errado. Que ela pode expressar-se dentro do que é socialmente aceitável e ainda assim, contribuir para um mundo mais justo.

Deêm a esta menina UMA oportunidade. Acreditem nela. Acreditem neles.

Mas quem, neste país tão desorganizado pode fazer isso?

É infantil achar que o governo tem condicoes de pegar cada Caroline pela mão e reeducar-lhes individualmente. É inútil insistir no fato de que os investimentos neste sentido estão completamente avulsos.

Se o governo não preveniu e não consegue por seus próprios esforcos remediar, onde está quem possa fazê-lo?

Aí é que não está, o Brasil é um país desinstitucionalizado.

Nos países de primeiro mundo, há um setor específico formado por instituicões que tem como funcão prover apoio ao governo.

Liderado por intelectuais, este setor é a cabeca pensante e a mão atuante do coletivo no individual da nacão. É o privado em favor do público.

É nesta rede de seguranca que reside a lacuna entre nós e o G8. Quem tem dinheiro, poder e voz tem inteligência suficiente pra saber que uma base sólida é o único jeito de creser forte.

Se a Caroline fosse, por exemplo, cidadã Inglesa, a atencão aos seus atos - se tivessem chegado a este ponto - seria outra, procurando enchergar o contexto geral, as consequências em grande escala e os potenciais individuais. Realisticamente falando. Para o melhor ou para o pior.

Não é a toa que no Velho Mundo a Arte é valorizada. É uma licão que eles aprenderam com a história e seus personagens reais.

Caroline está presa e eu na Europa.

Duas filhas de um país tropical procurando seu lugar ao sol, fora dele.

Sat Nam ;)

4.12.08

Metáforas

De presente de natal quero metáforas. 24 cores de sinceridade poética. Versão sashimi. Embrulhe com laco de fita verde, coloque uma borboleta cor de rosa e me entregue junto seu sorriso mais sensacional. De presente de natal quero verdade vestida de música e pincelada de sensualidade. Acenda velas, incenso, vontade. Acenda tudo o que estava apagado dentro de você, só me esperando aparecer. Apague as luzes. Apague os medos, as insegurancas. Respire fé. Respire fundo. Respire apenas. Descarregue em mim sua aliteracao mais sussurrada. Suada. Encoste. Encossste. Encoooooooste. E fique. Não vá. Nunca mais. Promete? Eu vou. Eu sempre acabo indo uma hora ou outra. Mas eu volto. Inteira. Cheia. Pela metade, morrendo de saudade. Só peco que sofra. De leve. De charme. Me chame. Inunda teus sonhos de mim e afoga minha intensidade no seu abraco quente. Seguro. Me salva? 

Sat Nam ;)


3.12.08

A vida? Ahhhhhh a vida!

Não sei se foi o frio profundo ou a profundidade intangível dos meus pensamentos, sei que de repente comecei a sentir o tempo passar. De verdade.

A vida é muito curta. Não, não o clichê, a realidade, a vida é mesmo muito curta e o tempo passa mesmo muito rápido. 

De repente me deu um frio na barriga dos pés a cabeca. Eu vou morrer. Um dia eu vou morrer. E aí tudo vai acabar pra mim. Simplesmente não vou mais existir. Puf. Sumi.

Cadê eu nesse dia? Onde eu vou parar? Sera que morrer é desaparecer? Desintegrar? Des-existir?

Ok, tem o céu, o paraíso, os anjinhos, o purgatório. O inferno. Mas vamos lá, realisticamente falando qual a chance disso tudo realmente exitir? (As mesmas do céu ser open bar!) Quais as possibilidades de alguma parte de mim continuar? Qual parte de mim - se é que - vai pro outro lado de lá?

Não sei porque esta merda de constatacão veio parar assim na minha cara, no meio de uma terca-feira fria, no caminho da aula.

Só sei que eu vou morrer, num dia longínquo espero, e o simples fato de ter que conviver com esta certeza já seria suficiente pra fazer de mim uma louca. 

A aula comeca. Esqueco que vou morrer, volto pro clima da vida. Estudar, trabalhar, ganhar dinheiro. Há de se viver! 

Afinal, morrer é eterno, viver é que é passageiro.

Daqui a pouco a professora volta os olhos pro o relógio e eu sem perceber acompanho o movimento. Para meu des- ou com-tentamento os ponteiros estão ali, no seu climinha básico, na hora certa, no tic-tac impassível.

O tempo passa. Vou morrer um dia. Você também.

Só nos resta ultrapassar o entendimento.

E a vida? Bem, a vida continua loooooouca e liiiiiiinda!

Sat Nam ;)

Acho uma pena se a gente realmente acabar no fim e levar junto tudo o que aprendeu. Se pudesse fazia backup do tanto que aprendo e deixava pra alguém.

Em toda lápide deveria estar escrito: aqui jaz um aprendizado diferente do seu!

Eu adoraria receber de heranca uma colecao de ensinamentos.