22.5.09

Crouch end

Como será Crouch End? Será um bairro como outro qualquer de Londres? Será que as casinhas são todas Vitorianas e tem um off license a cada esquina? Ou será que tem um parque lindo e um restaurante delicioso de comida Etíope? 

Não sei e, provavelmente, nunca saberei, já que Crouch End é o ponto final do meu bus e eu não tenho a menor intensão de ir lá conferir como é.

Aos lugares em que nunca vou chegar. As pessoas que jamais conhecerei. Aos planos que nunca farei. Aos cara que nunca beijarei. Aos momentos que não vou passar. As tantas coisas que não vou viver. As vitórias que não vou alcançar, aos erros que não vou cometer, aos brindes que não terei tempo de fazer. Às crases que eu nunca sei onde colocar.

A tudo que não vou experimentar, testar, tentar, acertar, me jogar...a tudo o que não vou ser: Obrigada!

Pela falta que não me fazem, pela ansiedade que deixam de me causar.

Alguém me diz que vai pra Aushwitz, eu não sinto nenhuma vontade de ir também. Minha amiga está pensando em colocar silicone, graças a Deus eu não. Tem um vestido de um designer descolado que custa uns varios varios pounds, eu não faço a mínima questão.

A viagem pra Austria não me anima, a luta pela independência da Papaua New Guinea não me excita (embora eu tenha tremenda compaixão pela causa). A calça pink da menina desengonçada não me instiga a comprar uma igual. E eu não tenho a intenção de aprender a dançar zuck.

Aos tantos nãos que dão tranquilidade e espaço aos meus sims. 

À todos os nãos que a gente escolhe, para que os sims signifiquem muito mais. À todos os não que vem por aí e os grandes sims que trazem por trás.

À todos os nãos. À todos os sims. Sem nenhum tanto faz. Ou maybe. 

Embora eu compartilhe da necessidade de abraçar o mundo, eu ja não quero mais tudo e quero agora como antes. Fico satisfeita de compartilhar com as coisas que nunca farei o simples fato de que não as farei.

Há grandes chances de que eu nunca venha a conhecer Crouch End. Porém, o simples fato de ler ali, na frente do ônibus, que seu destino final é lá, me faz de um jeito consciente partilhar de sua existência e de alguma forma Crouch End passa a fazer parte de mim.

Para algumas coisas, desvendar. Para outras, imaginação.  

Existir sem mistérios faz tanto sentido quanto sorrir sem alma, dormir sem sono, viver sem coração.

Crouch End deve ser aquele lugar, além do horizonte, pra lá de marrakesh, onde os sonhos se realizam e tudo pode acontecer.

Sat Nam ;)

Um comentário:

Lucas disse...

Gostei tanto do post que resolvi me cadastrar só pra poder comentar... :)