13.5.09

The big picture

Uma espinha na testa bem no dia da sua formatura pode parecer o fim do mundo.

O fim do seu primeiro namoro parece mesmo o fim do mundo.

Um não naquela entrevista para a qual você tanto se preparou, chega muito perto do fim do mundo.

Qualquer rejeição é uma boa oportunidade de experimentar uma possível e, com sorte, remota, vontadezinha de cortar os pulsos.

Porém, a espinha não aparece nas fotos, nem tão pouco arruína sua carreira profissional. Você termina mais uns 5 namoros e entende que realmente, ninguém morre de amor. Aquele emprego não rola, mas de repente surge a oportunidade de morar em outro páis, abrir um negócio próprio ou começar um mestrado.

O bom de estar perto dos 30 é entender com mais precisão - e experiência - do que aos 25, a realidade crua de que tudo passa. 

É que na verdade um complemento se une ao bom e velho conceito da uva ("tudo passa, até uva passa"), o fato é que você começa a enchergar "the big picture".

A celulite na sua bunda não tira mais seu sono uma semana antes de ir pra prais. Foda-se se você não tem - e nunca vai ter, ok ok - o corpo da Juliana Paes. A companhia dos seus amigos vai estar deliciosa, você vai ter um dia incrível de diversão, batidinha e bom papo e ainda por cima vai poder, mais uma vez, desfrutar o espetáculo de um pôr-do-sol a beira mar.

Sim, porque o sol é o fator principal para ver "a coisa toda" (minha tradução livre para "the big picture"). O sol brilha pra mim, pra muçulmana aqui do meu lado, para aquela menininha ruivinha de 4 anos e para aquela minha professora chata de antropologia exatamente da mesma maneira. O sol é o verdadeiro ícone da democracia. (Bonito isso, né?!)

É a ausência de luz que nos impede de enchergar o lado escuro da lua.

Há momentos na vida em que é preciso diminuir o zoom para poder ver com clareza "a coisa toda". Se o foco da foto fosse na espinha da testa, ninguém teria apreciado a beleza do seu vestido, muito menos a poesia do seu discurso.

Se o ex-namorado fosse pra sempre o foco da sua existência, você não teria conhecido o atual.

So o não do trabalho fosse o foco do fim das tentativas, você não teria descoberto a Índia e todas as pessoas especiais que encontrou no caminho.

Muitas vezes é preciso diminuir o zoom. Tirar o tapa-olhos do cavalo. Abrir a mente. Lembrar que o mundo é grande e que há 6 bilhões de pessoas dividindo este Planeta Azul, e as mesmas angústias, com você.

Tem horas que diminuir o foco é a melhor opção. Aumentar o campo de alcance. Permitir a entrada de mais luz. Levantar o olhar da calculadora e ver na parede a sua frente toda história que sua caminhada é.

Enchergar "a coisa toda" é saber que nada é pra sempre, nada é definitivo, nada é irreparável. Captar "a coisa toda" é um plus na compreensão do sentido da vida e um less na redenção ao estress.

Quando aquela "colega" de trabalho começar com seu seu blá blá blá típico e aquele olhar de quem se acha indispensável, ao invés de ficar puta da vida ou fazer exercícios de respiração (que são pra gente muito evoluída) apenas pense: "ela não deve ter a mais vaga idéia de quem é David Bowie, e a vida não pode ser plena para alguém que nunca ouviu Space Oddity". 

O mundo é muito grande. Prender-se aos focos problemáticos e as sementes de baobás seria um tremendo desperdício. Há tanto mais, que nossa vã filosofia jamais poderá alcançar. E não há tempo suficiente. Mas há agora!

"Planet Earth is blue and there is nothing I can do". Sábio Major Tom e seu mantra diminuidor de zoom.

(Por isso que eu a-do-ro ficar mais velha)

*homenagem a minha irmã, Renats', que inspirou as sinapses revolucionárias e aleatóreas causadoras desta reflexão!

Sat Nam ;)

3 comentários:

rafa disse...

gosto muito!
sempre que leio um pouco dos seus pensamentos me sinto em sintonia.
Merci.

Unknown disse...

nossa amiga tbm me identifiquei mto, chego ate a concordar com a ultima frase.
E Viva as mulheres de 30, cheias de sabedoria!
Ainda mais nos que escutamos david andando no flower market in columbia road.
xxx

disse...

Ando pensando muito nesse "ver o todo", ultimamente. Há males que vem para o bem e depois da tempestade, sempre vem a bonança. E hoje li o seu texto. Acho que a vida é uma teia de acontecimentos tão bem tecida, que não parece, mas tem o seu caminho traçado, para proporcionar o crescimento e trazer sempre coisas boas.Texto muito bom! Uma novidade: decidi que vou para Londres, viver um pouquinho e largar de tudo um pouco para tras, encarar o que vem de novo e entender aos poucos, TUDO.
Um abraço.