21.2.10

Desfaço as malas

Desfaço as malas. Tudo ainda está pelo quarto. Espalhado. Penduro um colar na parede. Um frase se forma. Alguma coisa faz sentido. Abro a segunda gaveta, encontro a inspiração caída num canto, amassada e amarela. Atrás da camiseta de listras, no fundo da cuca, num pensamento distante que vem. Entre o amor e a dor.
Desfaço as malas. Não sou mais a mesma. Eu nunca mais sou a mesma toda vez que desfaço malas. Na tentativa incessante de reorganizar o quarto e o pensamento e a vida, falta espaço, sobra coisa. O rumo tá fora do trilho.
Desfaço as malas. Me desfaço de algumas roupas. Tomara me desfaça de alguns medos. O espelho novo reflete a mesma imagem. Invertida, confusa, um pouco menos pálida, um tanto mais loira. O espelho é novo e as velhas dúvidas ali refletidas entregam.
Desfaço, por fim e de vez, as malas. Guardo-as em baixo da cama. Dentro delas qualquer coisa que não quero resolver. Quem sabe se transmute, no fundo falso sem fim. Quem sabe vire uma calça jeans, uma poeira apenas, um parágrafo inteiro, uma idéia brilhante, um ticket pro país das maravilhas. Quem sabe desintegre.
Desfaço as malas, faço um texto. É a inspiração que se espreguiça.

Desfaço as malas. As malas não se desfazem.

Na verdade Já não sei mais se desfaço as malas ou se elas é que me desfazem.

Sat Nam ;)

3 comentários:

Jóias exclusivas em prata. disse...

Arrasando. Sempre.

Sis disse...

Como sempre: profunda, linda e única! Esse ano é seu, to sentindo... ; )

Anônimo disse...

e parte do que se desfaz por ai, esfarela por aqui, sobre mim e sobre a minha mala, que acaba de ser enxotada para o quarto ao lado... humpf