Estou sendo observada.
Testada. Rotulada. Calculada. Marcada. Anotada. Numerada. Carimbada. Avaliada. Checada. Revistada.
Querem saber o que eu levo na bolsa e na alma e ainda dizem: sorria, você está sendo filmada!
Estou sendo invadida.
Impedida. Compelida. Resumida. Reprimida. Consumida.
O mundo. A sociedade. A porra da CCTV. Não são eles que fazem isso comigo e nem com você. É este grilo falante sem categoria e discernimento que reside em algum recôndito da (in)consciência humana e carrega nosso DNA de culpa e necessidade de se encaixar.
Enquadrar. Grilo quadrado e careta. Buzina quando demoro pra fazer a baliza. Apita quando cometo uma falta. Grita quando piso no seu pé - foi sem querer, cara! - e chora se passo da medida, do peso, do limite socialmente aceitável.
Que paciência pra aparências e o que os vizinhos vão pensar? Vamos falar alto, beijar na boca em público, derramar nossa criatividade.
Quem falou que eu tenho que saber das leis de mídia Inglesas? Quem disse que eu preciso saber onde vai a vírgula dessa língua louca? Denigram minha imagem, difamem minha reputação, mas eu juro que só faço isso por obrigação.
No dia seguinte da prova vou esquecer. Decorar 7 poemas e nunca mais lembrar que a section 11 do Sex Offences Act de 2005 protege a identidade das vítimas de abuso sexual.
Dinheiro pra pagar o aluguel. Nota na prova pra ganhar dinheiro pra pagar o aluguel. Faculdade, pós-graduação, línguas, computação. Metade sabedoria, metade obrigação.
Na faculdade da vida todas as provas são surpresas, todos os dias tem chamada oral e se você não tiver 100% de presença, vai se arrepender.
Este diploma não dá pra enquadrar, tampouco pendurar na parede.
Pass, merrit ou honors, neste caso, é uma questão de escolha, luta, disposição.
Não tem teste. Ninguém precisa provar nada a ninguém. A não ser ao travesseiro, na hora de dormir.
Julgada. Denominada. Dominada. Esmagada. Estresseda. Pressionada.
Estou sendo filmada e me deixando levar pela correnteza paranóica do medo de ser reprovada.
Melhor ir.
Vou estudar, vou trabalhar. Depois eu conto, sem desconto, como foi passar, pagar o aluguel e nas férias viajar. Casar de branco, ter filhos lindos e educados, colocar botox e sair na coluna social.
Dizer pro mundo que a alma coube na gaveta do criado mudo.
Desculpe, é que estou sendo filmada.
Mostro a língua, dou uma gargalhada. Passo até perfume e saio bem neste retrato. Pago o aluguel, dou o coro no trabalho, a cabeça não pára.
Bico a gaveta, chuto o pau da barraca e sorrio.
Foda-se se estou sendo filmada.
Tenho uma mão no bolso e a outra pedindo carona pra lua.
Sat Nam ;)
Um comentário:
chica deputamadre!
;)
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