28.6.11

Um trem pro inferno

Ninguém merece metrô no calor.

Andar pelos intestinos da cidade sabendo que o sol lateja lá fora seria já um castigo. Mas é pior. É um trem pro inferno. Se Dante tivesse vivido no nosso tempo teria certamente substituído sua barca por um destes trens lotado e sem ar condicionado.

Enquanto toda a gente se encostava, se esbarrando, se apertando e se irritando adentra o vagão intransitável um homem - com seus 30 e poucos - tocando seu acordeón. Só podia ser brincadeira.

Mas não era. Junto com ele estavam um menino de uns 9 anos balançando um copinho para esmolas e uma mulher - lá pelos seus 20 e tantos - adivinha? Grávida, óbvio.

Uma cena comum. Um metrô comum. Uma família imigrante comum. Um calor absurdo. Uma realidade absurda.

De onde vieram? Porque? Que espécie de vida merece ser trocada pela opção de viver tocando acordeón num trem pro inferno?

Tentei imaginar se teriam deixado pra trás a Bulgária, Romênia ou Sérvia. Tentei imaginar se teriam deixado pra trás toda a família, muitos amigos, um pedaço de dignidade ou qualquer resto de esperança. Tentei imaginar qualquer coisa que completasse a pena que sentia por aquela cena, por todas as cenas como estas. Por tantas e tantas e tantas destas escolhas.

Porém, encontrei um sentimento mais justo.

Estes três, assim como os tantos norte-africanos e os tantos tantos tantos outros migrantes e imigrantes, deixam pra trás o medo e ousam a tentativa de lutar por uma vida melhor numa realidade na qual morrer de calor no metrô é uma oportunidade.


Sat Nam ;)



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